Algumas pessoas passam por nossa vida e deixam uma marca impossível de se esquecer, brilham de forma tão singular que iluminam a mais densa escuridão. Gwen não foi diferente, chegou silenciosamente e marcou de uma forma tão profunda a vida de cada p...
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Aquela foto específica tinha sido tirada há muitos verões. Eu estava do lado de Gwen e nós dois segurávamos bastões que pipocavam com fogo. A foto era fruto do trabalho longo da minha avó, por todo aquele mês.
Eu tinha dez anos, estava de férias da escola e minha mãe não me aguentava mais em casa, nem por mais um segundo.
A solução que ela encontrou foi me "despachar" para passar algum tempo com os meus avós.
"Preciso de férias também" ela justificou quando eu perguntei o porquê de eu estar indo sozinho.
Eu não podia estar mais errado.
"Não se preocupe, Gwen irá junto" completou com um sorriso cálido.
Lembro-me de sentir minha felicidade se dissipar naquele mesmo segundo.
Se Gwen fosse junto eu não poderia aprontar todas as besteiras que minha mãe não deixava que eu fizesse em casa, era bem provável que ela tomaria conta de tudo (até dos meus avós) e minhas férias iriam por água abaixo.
Fiz todo o caminho até a cabana com uma carranca, os braços cruzados e tentando ao máximo evitar Gwen e as 'tagarelações' dela. O que deu certo, por um tempo, mas não durou. Porque minha avó tratou de me aproximar de Gwen a qualquer custo. Ela tinha tomado aquilo com uma missão pessoal. E quando minha avó estava determinada a conseguir algo, era bem difícil não dar certo.
"Me encolhi entre os vários casacos felpudos da minha avó, tentando ficar invisível como naquele filme com o fantasminha 'O gasparzinho, O fantasminha camarada', aliás porque minha avó precisava de tantos casacos?! Nem fazia tanto frio assim!
Se minha avó não me encontrasse aqui, nem ela me encontraria. Eu queria sumir. Não importava onde eu fosse, ou onde eu me escondesse ela me achava. Parecia que tinha colocado um gps em mim!
Vovó vivia insistindo que era para eu dar uma chance e tentar ser amigo da Gwen e que no fim das contas eu ia acabar me dando bem com ela, mas eu não queria! Nem pensar que eu ia me tornar amigo da Gwen. Ela já gruda em mim como chiclete sem sermos amigos, se eu for amigo dela é capaz de ela agarrar no meu pé e não soltar nunca mais.
Ouvi a madeira do piso ranger e alguns passos se aproximaram, rapidamente prendi a respiração. Com sorte seria a Gwen que ia me achar não a minha...
— Felipe! Saia já daí! — minha avó pediu depois de abrir a porta do armário com força e arrancar os casacos de cima de mim.
Me encolhi ainda mais entre uns casacos. Minha avó ia me dar uma bronca e, assim que eu chegasse em casa meu pai ia reclamar, pior, não só reclamar ia me dar uma surra mesmo por aprontar na casa da vovó. E o cínico do Carlos ia gostar de rir da minha cara depois disso.
— Mas vó! A Gwen vai me achar e me obrigar a ler aqueles livros chatos dela! — resmunguei fazendo cara feia. Só de pensar naqueles blocos com não sei quantas páginas, minha cabeça já começava a rodar.
