O Retorno de Novgorod

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A sensação era como a de um afogamento, a garotinha puxava o ar mas ele não chegava a seus pulmões, seus pés não alcançavam o chão e por mais que esticasse as mãos não alcançava nada para se agarrar, a água atrapalhava sua visão e a cada segundo ela se desesperava mais. Teve a sensação de uma breve perda de consciência e quando tornou a abrir os olhos viu vagamente o semblante de um garoto pouco mais velho que ela.

-te peguei, está tudo bem, vai ficar tudo bem agora - ele diz tentando tranquiliza-la

-... Hvitserk - Fryda diz num sussurro abrindo os olhos lentamente e percebe que estava em um quarto do castelo Russo em Kiev

Fryda senta na cama e esfrega o rosto agradecendo em silêncio por estar sozinha no quarto pois ela tinha certeza de que havia sussurrando alto o suficiente para qualquer um ouvir bem o nome Hvitserk.
Ela ficou muito feliz com aquela lembrança em forma de sonho mas sentiu o coração apertar de saudade e se perguntou por um momento como o amigo estaria vivendo em Kattegat, ou aonde quer que ele estivesse atualmente.

A moça logo se levanta para começar o dia.

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Em Kattegat, a cabana perto das montanhas onde Thora e Hvitserk vivam juntos foi praticamente arrombada por um Hvitserk totalmente alterado, ele entra no local com os olhos arregalados e muito vermelhos deixando claro para quem o visse que não era só álcool que corria em suas veias. O rapaz entra na casa tropeçando vez ou outra nos próprios passos e entra no quarto que antes dividia com a amada, aquele cômodo agora parecia frio, fúnebre e opressivo para o rapaz, apesar das boas lembranças.

-... Thora - ele sussurra chorando baixinho enquanto olhava para a cama e baixa o olhar - me perdoa... Me perdoa... - ele pede e se joga de joelho perto da cama apoiando os braços sobre a mesma e chorando um pouco mais

Hvitserk estava passando por um processo, um processo difícil, ele sofreu calado por um longo tempo e atualmente tinha colocado em sua mente que o culpado por seu sofrimento era Ivar.
Foi por ele que Hvitserk deixou Ubbe, foi ele que nunca levou em consideração as opiniões de Hvitserk, foi ele quem queimou Thora, a mulher que ele amava, sem motivo algum, e foi ele que tirou sua melhor amiga, seu último pilar de sanidade, uma pessoa que desde o último contato que tiveram se tornou ainda mais especial para Hvitserk e atualmente ele se quer sabia se ela estava viva.
O rapaz se sentia vazio, sozinho, desamparado, mesmo com muitas pessoas ao seu redor, se sentia como um barco a deriva, sem rumo, com um destino incerto, tudo que Hvitserk sabia era que precisava matar Ivar, só assim se sentiria vingado por tudo aquilo que o caçula lhe fez passar e só assim sentiria que cumpriu seu destino.

Naquela manhã a saudade de Thora bateu forte e ele resolveu cortar o mal pela raiz, Thora lhe fez muito bem enquanto pode, mas agora as lembranças só o machucavam, por isso ele estava lá, de volta a sua antiga casa, de volta ao local que mais o trazia lembranças.
Ele para de chorar e se levanta secando o rosto com o braço e cambaleia um pouco avistando uma espécie de altar que ele mesmo havia feito para a estátua do Buda, as velas ao redor já haviam sido consumidas mas as marcas da cera derretida ainda estava presente, o rapaz se aproxima com fúria e emburra com o braço tudo o que estava sobre aquele altar derrubando a estátua no chão, a mesma racha mas permanece visualmente inteira.

-você... É uma... Mentira! - ele pega a estátua e joga brutalmente contra uma parede quebrando de vez a estátua em vários pedaços e cambaleia novamente - não protegeu ela... Podia ter protegido ela... - ele murmura sozinho com fúria no olhar - ... você devia ter protegido ela... - sussurra mais para si mesmo do que para o Buda e se apoia em uma parede tremendo um pouco devido as substâncias em seu corpo e o choro doloroso desceu mais uma vez sem muito controle

Eu te amarei para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora