Todos precisam de Amor

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-...o senhor o matou - diz voltando a fita-lo com uma expressão estranhamente doce

Na mesma hora a expressão fascinada e o sutil sorriso do rapaz dão lugar a uma expressão de espanto e ele retoma a postura pois a pouco estava apoiado em sua muleta. Ao notar a reação ligeiramente evasiva do moreno a jovem abre um sorriso doce.

-ah, mas isso já fazem anos... o senhor era apenas uma criança, assim como eu na época  - explica Fryda enquanto Ivar apenas a fitava com desconfiança prestando atenção em cada palavra dela - eu... não era muito de brincar na rua como a maioria das crianças, eu não tinha muitos amigos, apenas costumava ficar por perto para vigiar meu irmão pequeno... naquela época seus irmão já se interessavam por armas e treinar pontaria e quase não ficavam com as criaças menores, enquanto eu já me ocupava com costura, criação de gado e cozinha... não pude repreender meu irmãozinho quando ele agiu de forma egoísta com a pessoa errada - conclui fitando o moreno com um sorriso compreensivo

Ivar apenas a observava com uma expressão um tanto seria que aos poucos se apazigua com suas palavras.

-...eu estava pegando água para minha "mãe" em um poço próximo de onde meu irmão estava brincando e quando vi o que aconteceu... não tive tempo de intervir... chorei a perda de meu irmão, meu único irmão, mas... não consegui te odiar, Ivar... Eu sei que deveria te odiar... qualquer pessoa no meu lugar odiaria... mas... eu simplesmente não consigo odia-lo... - ela ri soprado erguendo o olhar para ele - sei que sua atitude na época não foi planejada, sei que agiu por impulso da raiva... e sei que toda essa raiva tem um propósito - conclui com o mesmo sorriso até perceber que havia parado de chama-lo de "senhor" e puxa o ar com surpresa - m-me perdoe... meu rei... Não deveria usar palavras tão informais...

Ivar apenas move a cabeça em negação deixando claro que ela não tinha o que temer, surpreendentemente Ivar estava sem reação, não sabia mais o que dizer, mas sentia-se leve e diferente por dentro, algo que ele não sabia explicar.

-...gosto de ouvir você... - ele diz num tom manço que fez a moça sorrir ainda mais e baixar o olhar - por que mesmo você fingiu ser serva? - indaga como se de fato não se lembrasse

-... eu... desde aquele dia que te vi... desde que soube quem o senhor era... - foi interrompida

-ah, não, chega de formalidades... - ele pede de forma gentil sem tirar os olhos dela enquanto Fryda apenas assente com um sorriso

-desde que eu soube quem você era, eu quis me aproximar... eu... sempre ouvia seu nome por Kattegat...  "Ivar, o alejado", "o filho caçula de Ragnar" - perde um pouco o sorriso baixando o olhar - ..."o monstro" - volta a fita-lo - eu nunca o vi dessa forma - afirma - mesmo depois do que eu vi...eu apenas ...não sabia como me aproximar,  mas eu queria me aproximar... agora, na posição de destaque que o sen... - se interrompe e sorri se corrigindo - que você chegou... eu tenho medo...

-medo...? De mim? - repete confuso e ela nega com a cabeça

-...você é famoso Ivar, muitos te conhecem e te temem, muitos acham seu governo tirano... eu tenho medo de uma possível retaliação... medo de que  algo ruim aconteça... sei que todos estamos fadados a isso... fadados e termos momentos ruins, mas... eu só queria poder estar perto e ter certeza de que esteja tudo bem com meu rei... certeza de que esteja seguro e saudável... - conclui

Ouvindo aquilo ele ri com divertimento, a doçura da jovem o encantava a cada instante.

-como você disse, estamos todos fadados... passamos por momentos na vida, bons e ruins... - ele se interrompe -...acho que posso falar abertamente com você não é? - ele questiona

Ivar queria confiar nela, Fryda lhe transmitia uma paz que ele não compreendia, ele só sabia que queria mantê-la por perto.
A moça sorri docemente assentindo para o moreno que longo continua:

-eu sempre tive mais momentos ruins... na verdade posso resumir minha vida em "dor e raiva" ...  - ri fraco sem humor - eu sempre fui visto por todos como "o coitado" ... "pobre Ivar, nunca será como seus irmãos" ...sempre fui menosprezado e rejeitado... eu só queria dar orgulho a minha família, queria ser como eles, queria que meus irmãos me vissem como um igual... mas eles sempre irão me achar incapaz... eu queria que eles me amassem... mas com o tempo entendi que seria impossível... - ele ergue o olhar olhando profundamente nos olhos dela - hoje posso fazer com que me respeitem, posso mostrar ao mundo que não sou um "coitado", hoje toda a dor e rejeição que passei se tornou raiva e eu posso me virar sozinho, não preciso que ninguém cuide de mim - apesar de suas palavras parecerem duras  sua expressão mantinha-se mança

Fryda apenas ouvia tudo sentindo o coração aquecer ao notar o quão a vontade ele estava,  o simples fato dele querer ouvi-la e agora estar se abrindo daquela maneira, Fryda não esperava por aquilo mas estava realmente feliz e agora sentiasse ainda mais tocada por sua história.

-todos nós precisamos de alguém, Ivar, afinal, o que seria de um rei sem povo para governar? ...não dá para viver sozinho, todos precisam de alguém, todos precisam de amor - sorri docemente

-...amor? - ri fraco um tanto debochado

A jovem apenas acente como se de fato ele esperace uma resposta.
Ambos trocaram olhares por mais alguns segundos e Ivar assente levemente sem tirar os olhos dela.

-...você pode ir - ele diz baixo

Fryda pisca os olhos um tanto confusa e sem demora levanta-se de onde estava sentada ainda sem entender muito bem o que havia acontecido pois a conversa estava tão agradável aparentemente para ambos, ela se perguntava se havia dito algo errado e se poderia vê-lo de novo dessa mesma forma.

-não se preocupe, você não fez nada errado, só... deve ir agora - Ivar diz quase como se pudesse ler a mente da moça surpreendendo-a mais uma vez

-...nos veremos de novo...? - indaga um tanto esperançosa

-se você desejar... sabe onde me encontrar - ele responde arrancando um largo sorriso da jovem que faz menção de se retirar - espere! Qual é mesmo o seu nome?

-Fryda - a jovem responde com o mesmo sorriso e instantes depois deixa o rapaz sozinho no cômodo

-Fryda... - ele repete para si mesmo quase num sussurro

Eu te amarei para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora