Contém Gatilhos
Vivendo com lobos
- Aiyra! Venha querida. Sente-se comigo para tomarmos chá.
- Sim senhora. - A jovem sentou sorrindo ao lado da velha senhora que a olhava carinhosamente. A mulher criou a moça desde que ela era uma bebê. Seu marido a trouxe de uma de suas viagens às Américas. Ele gostava de colecionar cores. Pessoas de pele diferente o deixavam fascinado.
A moça tinha a pele marrom e os cabelos estirados. Não tinha sequer uma volta. Suas feições eram bonitas. O corpo era esbelto, mas agora que estava próximo da fase adulta, tinha mais curvas que a maioria das moças.
Sua casa parecia uma fazenda de espécies humanas. Seu marido a deixava por meses e até anos, e quando regressava sempre trazia consigo um garoto ou uma menina de um tipo diferente. Todos eram tratados com bondade, embora fossem usados no serviço da casa e da propriedade.
Seu marido, no entanto, há dois anos atrás pediu para que ela contratasse um professor para ensinar a Aiyra o idioma dos sultões. Não era apenas um, mas a moça era tão inteligente que progredia rapidamente.
- Espero que amanhã, quando meu marido chegar, você possa mostrar que aprendeu tudo que ele ordenou. Entenderia se um árabe lhe falasse?
- Não sou completamente fluente. Mas sei muito. E o professor tem me ensinado um pouco da história e dos costumes. Apenas não entendo o motivo dessas aulas. Será que ele trará um árabe, ou uma moça?
- Não duvidaria. Se bem que já estamos lotados. E já não temos Haaf?
- De fato. É uma pena ele não se lembrar do seu idioma natal. Assim teria com quem praticar.
- Jamais. Isso seria uma distração. E além do mais, ele é um homem feito. Não seria correto.
- Senhora, nunca lhe questionei, mas gostaria que se fosse possível me respondesse algo.
- Sim. Se souber lhe dizer.
- A senhora me disse que vim das Américas. Mas por quê? Minha família não me quis?
- Querida, a realidade não é muito agradável. Por que quer saber disso agora? Nunca vi interesse de sua parte sobre isso.
- Nem ela sabia, mas de uma semana para cá estava sentindo-se diferente. Além de um pressentimento estranho, estava sendo tomada por uma curiosidade sobre si mesma.- Vou compreender a senhora. Seja o que for. Vocês sempre foram tão bons comigo. Gostaria de saber o meu passado totalmente.
- Compramos você. John afirmou, porém, que você é pura em sua raça. Ele a comprou depois que vossos pais morreram e você estava nas mãos de uma camponesa. Ela precisava de dinheiro e John se encantou pela cor de sua pele. E seus olhos, grandes olhos negros. Mantemos o nome que usavam para se referir a você. Como é com os demais. Como você chegou quase um bebê, eu lhe criei muito próxima a mim. Infelizmente não tive uma filha mulher. Apenas o nosso Henrique. Mas graças aos céus por ele existir. Se não, quem daria continuidade a nossa linhagem? Não sabe o que ele veio me dizer certa vez. - Aiyra apenas negativou com a cabeça. Sua senhora falou tão inexpressivamente sua história tão triste, que ela nem a ouvia direito. - Ele se encantou com você quando voltou da faculdade. Disse-me por alto, mas eu não sou tola. - Aiyra a olhou espantada. Onde ela queria chegar? - Embora eu mesma tenha me encarregado de sua educação, deixei muito claro que isso seria inconcebível. Mas me responda com sinceridade, ele tentou algo com você?
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As Graças do Deserto
RomanceAiyra, uma nativa americana, vendida desde criança, foi levada para um lar inglês. É tratada tão bem que logo se esquece da sua verdadeira condição de escrava. Até que um dia, algo que nunca esperava acontece. Aiyra passa a reconhecer com tristeza s...