𝓒𝓪𝓹í𝓽𝓾𝓵𝓸 14

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Aiyra estava junto a janela em silêncio. Estava tão triste e magoada que parecia que poderia até tocar na tristeza. Já faz um bom tempo que foi trancada ali, apesar de ser um quarto espaçoso e luxuoso, não consegue se sentir confortável, parecia que as paredes queriam se fechar e o ar estava cada vez mais escasso.

Pensou em pedir para sair, implorar, na verdade. Mas achou que ficar quieta era o melhor que poderia fazer.

De repente ouviu a tranca da porta e sabia que alguém estava por abrir. Se colocou de pé e arrumou os cabelos, que estavam soltos. Com surpresa viu várias pessoas entrando no quarto com várias caixas na mão. Eram tantas coisas... Ela olhava boquiaberta. Quando deixaram as caixas lá, as pessoas se foram, ficando apenas duas mulheres. Uma era bem jovem e a outra já era uma senhora de idade um pouco avançada, mas que ainda parecia ter o vigor da juventude. Ambas sorriam para ela.

— Bom dia, senhora. Meu nome é Zenaide e essa é a senhora Mika. Ela vai tomar suas medidas para fazer seus novos trajes.

Aiyra as observava em silêncio. Estavam com roupas estranhas, mas que ela sabia pertencer ao povo do príncipe. A moça começou a abrir as caixas e eram jóias e sapatos. Aiyra não sabia o que dizer. Aquele tratamento estava estranho. O príncipe a destratou, como agora alguém chega com tantos presentes para ela. Ela entendeu o que a moça disse, mas a situação parecia confusa. 

— Um momento, por favor. Preciso saber de algo. 

— Sim, senhora. — Ambas a reverenciam. Passou por elas sem dizer nada e foi rumo ao quarto do príncipe. Havia algo em Aiyra que até ela julgava perigoso, ela era muito destemida e direta. Se tivesse dúvidas, perguntaria diretamente ao príncipe. Bateu na porta e seu coração estava acelerado, não pôde evitar se sentir nervosa , mas estava determinada a entender o que era tudo aquilo. Bateu novamente e Hassan apareceu a porta. Parecia surpreso que ela estivesse ali na sua frente.

— Com sua licença, majestade. Gostaria de conversar com o senhor, pois estou confusa. — Ele a olhava em silêncio. Como sua Aiyra era corajosa. Duvidava que qualquer outra mulher que ele já conheceu algum dia tomasse essa atitude.

— O que quer entender, pequena? - Ela arqueou as sobrancelhas e o olhou nos olhos. 

— O senhor estava furioso comigo e de repente pessoas entram no quarto com várias caixas e alguém para tirar minhas medidas… Eu não sei o que devo pensar e se acaso isso tudo foi uma ordem sua antes do que aconteceu hoje. Se for o caso, devo eu mesma dispensar aquelas coisas?

Hassan suspirou. Estava envergonhado ainda, mas não poderia adiar mais seu pedido de perdão. 

— Sinto ter agido como agi com você, minha senhora. Eu não estava pensando direito. Deixei que os fantasmas do passado tomassem minha consciência. Eu dei ordens para que Haad enviasse sua esposa e uma pessoa para fazer quantas roupas você quisesse. Queria apaziguar a sua alma. Fazê-la sorrir novamente. Não sei se foi uma ideia tola...

— Então tudo foi esclarecido? — Ela perguntou esperançosa.

— Entre, por favor - Ele deu espaço para que ela entrasse em seu quarto. Fechou a porta atrás de si. - Sim. Eu sinto muito, pequena. Eu sou um tolo, por favor, não me guarde rancor. Eu nunca mais a tratarei de uma maneira tão selvagem. Eu não sei se a machuquei fisicamente, creio que sim. Mas tenho plena certeza que magoei seus sentimentos e feri a sua honra. Me perdoe. — Ele se curvou diante dela. "Um príncipe estava curvado diante dela?" Ela pensou em silêncio. Lágrimas vieram aos seus olhos. Agradeceu a Deus intimamente por sua inocência ter sido provada. Caminhou até Hassan e ergueu seus ombros. Quando ele a olhou, ela lhe deu um sorriso emocionado.

— Majestade, nada me faz mais feliz do que saber que o senhor me tem em estima novamente. Eu sei que quis me alegrar me dando presentes, mas suas palavras e ações me tornaram infinitamente mais feliz e me devolveram a paz. - Ele a trouxe para si e lhe abraçou ternamente. Logo depois a beijou nos lábios. Tinha um apreço imenso por  Aiyra, e agora tinha plena certeza da sua lealdade. Não permitiria mais suspeitas em seu coração.

— Não permitirei mais que meu coração duvide de você. Assim como você daria sua vida por mim, eu estou disposto a proteger você com a minha vida.

— Fico feliz que o senhor agora tenha um pouco de confiança em mim. - Ela sorriu entusiasmada. 

— Sim, plenamente. Mas sobre os presentes, por favor, aceite. Você é minha concubina, e quero que tenha o melhor para adornar seu lindo corpo.

— Fico grata. Eu aceitarei. - Ela levou a mão a boca pois só agora se lembrou das mulheres no quarto ao lado. - Esqueci que estão esperando por mim. Eu pedi que esperassem.

— Não tem problema, elas não se incomodam por esperar.

— Zenaide é esposa do senhor Haad, devo tratá-la de maneira diferente? Como superior? Eu não entendo ainda a hierarquia.

— Pequena, você é minha concubina. Então eles estão a seus serviços. Apenas eu sou maior do que você nesta casa.

— Oh! Entendo. Então me permita voltar para lá, não gosto da ideia de estar fazendo alguém esperar.

— Me dê pelo menos mais uns duzentos beijos antes de partir. Me abrace para acalmar meu espírito.

— Quantos desejar, meu senhor. — Ela o abraçou e encostou seu rosto em seu peito. Podia ouvir o coração de Hassan ao longe. — Muito obrigada, Hassan. — Ela disse seu nome com tanta tranquilidade que parecia algo que sempre fazia. Ele beijou sua testa satisfeito com a intimidade que se criava entre os dois. Ela poderia trazer boas lembranças que substituirão suas amargas recordações de um passado que agora parecia distante.

  

Said caminhou por um tempo até o reino vizinho

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Said caminhou por um tempo até o reino vizinho. Vez ou outra notava que estava sendo seguido. Ele não se importava com isso. Ele apenas queria chegar ao reino de Poran. Lá ele tentaria se recuperar dos seus tormentos. Planejava matar seu irmão Moabe algum dia, mas isso demoraria mais um pouco.

Ele não tinha um plano por agora. Tudo em que ele conseguia pensar agora era em se estabelecer em algum lugar e tentar seguir a sua vida para depois ser capaz de fazer o era necessário.

Outro desejo que tinha era reencontrar Hassan. Pedir o seu perdão e se colocar a sua disposição para cumprir qualquer que fosse o desejo do seu coração. Se ele quisesse mata-lo. Ele não tentaria fugir dele. Ele só não faria isso agora, porque precisava vingar a morte de Sura. Mas depois, ele não via motivos para continuar vivendo.

No fim tudo estaria no seu devido lugar. Moabe morto, Hassan seria o rei e o destino dele estaria nas mãos do seu irmão. Então a justiça terá sido feita.

Finalmente ele avistou uma vila. Ele respirou profundamente. De rei me tornei um mero serviçal em busca de um trabalho medíocre para viver. Quem diria que seria esse o fim de um homem criado para governar? O mundo dá voltas infinitas.

— Mesmo a mais imponente das montanhas começa junto ao chão. — Falou para si mesmo tentando confortar seu espírito. — Posso não ter mais nenhum resquício do rei que fui um dia. Mas tenho muito do guerreiro que ainda preciso ser. Que os deuses me ajudem a cumprir meus dias.

As Graças do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora