Um golpe de sorte
Aiyra aprontava-se para deitar. Elizabeth já havia se recolhido já fazia um certo tempo. Não disse nenhuma palavra de despedida, fazendo Aiyra crer que as havia guardado para o dia seguinte. O dia seguinte, pensou ela exasperada. Já pensou em dar cabo de sua vida, mas sabia que lhe faltava coragem. Mas pensar que iria para longe daquilo que considerou seu lar por muito tempo, pensar que não veria mais as pessoas de quem guardava apreço. Sua senhora, apesar dela saber que não a visse como nada além de uma propriedade de valor, lhe causaria saudades. O único ponto bom seria nunca mais ver a face do filho maldoso de sua antiga senhora. Toda vez que sua imagem vem à mente, seu estômago revolta-se em protesto. Lhe lembrando do asco que ele causa. Mas será que seu senhor atual não seria pior do que ele? Ele sabia castigar, ela se lembrou horrorizada. - Do que ele falava?
- No que você pensa? - uma voz grave encheu o quarto e ela se assustou com a presença do seu senhor. Não percebeu a sua entrada. Ele parecia ter vindo do nada. Ele deu um passo em sua direção e ela recuou batendo com as costas na janela que ainda estava aberta. Ela sentiu a dor e fechou os olhos a fim de suportá-la melhor.
- Não lhe parece que quando há algo em nós machucado, tudo vem a se chocar contra?
- Sim. É o que parece. Desculpe, eu não o ouvi bater.
- Não bati.- ela o olhou surpresa - Eu sabia que apenas havia você aqui. - Ela nada disse. Apenas o olhou quieta.- Vim lhe trazer algo.. - Ele caminhou até ela e mostrando a mão que até então estava nas costas, lhe estendeu um punhal envolto num lenço negro. - O punhal, é para a sua proteção. - Ela os tomou nas mãos. Retirou o punhal do lenço e o colocou sobre a mesa, e olhando para o lenço que mantinha nas mãos falou calma.
- Li certa vez que as mulheres costumam cobrir a cabeça, aqui só o fazemos quando vamos à missa, para protegermos a cabeça usamos chapéus.
- Sim. Lhe disseram bem. De onde venho, isso é comum, o sol é muito castigante. Por esse motivo cobrimos a cabeça. Mas esse ainda não é um lenço feminino. Eu não teria porque ter um aqui comigo. - Ele deu um breve riso. - Envolvi o punhal para que ninguém soubesse o que eu carregava. - Aiyra apenas positivou com a cabeça. Continuou interessada no lenço com detalhes dourados na ponta.
- Sei que devo usar, mas não sei como. - Hassan já havia presenciado diversas vezes uma mulher cobrir a cabeça com habilidade. Ele se aproximou e lhe tirou o lenço das mãos. Ela ficou parada olhando para seu rosto que parecia menos rígido agora. Ele olhou para baixo ao notar que ela o olhava fixamente, sem nada dizer e a olhando nos olhos lhe jogou o lenço sobre os cabelos, que já estavam presos num coque na nuca. Amarrou a ponta e habilmente lhe puxou o tecido para frente, lhe cobrindo o pescoço. O tecido escorregava um pouco para trás, mas ele o puxou para frente novamente. Só se via seu rosto.
- Obviamente deve por algo para prendê-lo. Não é difícil. Mas tem que ser um bem maior que este. - Ela ouvia suas instruções ainda o olhando nos olhos. Ele franziu as sobrancelhas e sorriu, fazendo seu rosto ficar ainda mais jovem. - Por que me olha dessa maneira?- Um tanto zombeteiro, falou para assustá-la. - Parece me que deseja um beijo. - A última frase falou sério em seu idioma. Ela não entendeu. Não entendeu completamente nada.
- Desculpe meu senhor, mas não entendi. - Falou em seu idioma temendo que ele se irasse.
- Parece-me. - repetiu em inglês - que deseja- repetiu em inglês e se aproximou dela. Passou o dedo em seu rosto e ergueu o seu queixo. - um - Falou em seu idioma e acabando com o espaço que os separava lhe depositou um beijo nos lábios. Ela sobressaltada cerrou a boca para proteger-se dele. Ele ergueu a cabeça e olhou para ela. Sem dizer coisa alguma ele tornou a beijar seus lábios, mas o homem a beijava diferente do que havia experimentado antes. Não lhe exigia coisa alguma. Depositava beijos suaves em seus lábios. Ela aos poucos diminuía a pressão de seus lábios e ele aproveitou essa trégua e lhe tocou a pequena abertura da boca e passou levemente a língua. Inconscientemente ela permitiu que ele tomasse sua boca e seu beijo antes gentil, tornou-se exigente. Mas era bom, ela nem sequer sabia porque, mas gostava de seu gosto. Ele a beijou por um tempo. Um longo tempo. O tecido já havia escorregado de sua cabeça. Ele tomou sua nuca e lhe acariciava a base da cabeça. Ele estava perdendo o controle, e nunca foi tão fácil. Ainda mais com uma mulher que estava claro sua inexperiência. Mas que lábios deliciosos ela tinha. Previu isso assim que os viu e os quisera provar desde então. Mas precisava se afastar. Não gostou nada do que estava sentindo. Isso lhe causou certa angústia. Ele se afastou e caminhou para longe dela. Respirou fundo e falou com uma voz ainda mais grave que o comum - Beijo. - Ele falou em seu idioma. - repita.
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As Graças do Deserto
RomansaAiyra, uma nativa americana, vendida desde criança, foi levada para um lar inglês. É tratada tão bem que logo se esquece da sua verdadeira condição de escrava. Até que um dia, algo que nunca esperava acontece. Aiyra passa a reconhecer com tristeza s...