Capítulo XXXIII

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Erebus calculou que, àquele horário, a coroação já teria começado. Quando chegou perto dos arredores do castelo, porém, viu cidadãos indignados, o clima festivo que esperava estava o mais longe possível.

— Perdão, minha senhora. Gostaria de saber o que está havendo.

— Os guardas fecharam os portões e a família real não aparece!

A reclamação da mulher criou uma onda de indignação entre os presentes e Erebus aproveitou a comoção para sair dali.

Ele entrou no bosque que ficava aos arredores de onde todas aquelas pessoas estavam e subiu numa árvore alta. Todas as cortinas escuras do castelo estavam fechadas, algo incomum para um dia de coroação.

O que o deixou em alerta, porém, foi a vibração que sentiu de dentro do castelo. Como bruxo, ele era mais sensível às manifestações de magia que os humanos, e o poder que emanava de lá era forte demais para ser ignorado.

Algo estava muito errado. Por isso, a segurança do lado de dentro provavelmente fora redobrada. Com seus poderes, Erebus conseguiria adentrar o castelo, mas seria rechaçado se fosse visto.

Ele resolveu arriscar.

Eden ouviu a balada ao longe e foi correndo até ela. Seus pés mal tocavam o chão por causa de sua extraordinária velocidade e habilidade, herdada da fada Europa, sua mãe.

A jovem só parou ao ver de relance um grupo de pessoas dançando na clareira. Ela correu os olhos por ali e, por fim, encontrou Caden ao lado de uma garota bonita. O plano inicial era ir correndo até ele e alertar Kaleb logo em seguida, mas aquela interação incomum atiçou sua curiosidade.

Ela deslizou por entre as árvores até ficar próxima aos dois. O que viu em seguida a deixou pasma e eufórica.

A tal garota também tinha um anel-chave, preso ao colar em seu pescoço. Eden deu um passo à frente, abandonando seu esconderijo.

Um par de olhos cor de tempestade se virou em sua direção e ela estacou. Reconhecia aquele rosto das canções que ouvira e pinturas que vira, reconhecia aquele rosto das varandas e janelas do castelo.

— Você é...?

— Eden!? — sobressaltou-se Caden. Aqueles que estavam dançando tiveram sua atenção direcionada para a pequena cena que se formava ali.

— Quem é você? — a Princesa perguntou, escondendo o colar no corpete.

— Eden! — exclamaram os feéricos em uníssono, correndo em sua direção.

— Angrod? Indis? Deschia? Nain? Finrod?

— O que está fazendo aqui? — perguntou o elfo, abraçando-a.

— O que vocês estão fazendo aqui? E com a Princesa, ainda por cima. — Eden terminou sua fala com certo desprezo. Ela e seus amigos repudiavam a realeza e tudo o que ela representava, ver Caden com um membro real tão importante a fez se sentir traída.

— Ela nos ajudou a fugir do castelo. Estávamos todos presos, sendo torturados.

— Presos e torturados? — A garota olhou com raiva para Selene. — Quem foi o responsável por isso? — esbravejou.

— Meu pai. E não se preocupe em jurar-lhe vingança, você perdeu sua chance.

A fúria de Eden arrefeceu um pouco. Ela baixou o olhar em respeito e todos fizeram silêncio.

— Não se obriguem a prestarem condolências. O Rei não foi uma boa pessoa em vida, a morte não muda nada disso.

Caden, vendo o clima desconfortável que fora formado, perguntou sobre Kaleb. Selene foi buscar seu cavalo, junto com Anna e Marylia. Eden respondeu:

— Ele está...— Todos viraram a cabeça na direção do grito que veio de dentro da floresta.

— Irmãozinho! — Kaleb, ofegante e eufórico, atirou-se na direção do garoto. — Onde você se meteu?

O rapaz examinou Caden com agitação. Quando viu seus pulsos e lábios rachados, suas sobrancelhas se juntaram e ele o largou.

— O que aconteceu? — sussurrou. Ele finalmente olhou para os outros, sem palavras. As pontas dos cabelos de Deschia estavam cortadas e uma cicatriz circular envolvia a cabeça de Finrod. A pele de Indis tinha vestígios de bolhas e a magreza de Angrod o chocou. Nain não apresentava nenhum dano físico aparente, mas seus olhos estavam cheios de sombras.

Eden pousou uma mão em seu ombro. Kaleb parecia sentir todas aquelas dores em si mesmo. Um misto de vergonha e tristeza se apossou de Caden.

— Me desculpe por ter ido sozinho — disse.

— A culpa não é sua.

Nesse instante, Selene, Anna e Marylia retornaram com os cavalos. Kaleb levantou a cabeça na direção delas e deu um para trás.

— O que está acontecendo aqui?

— Muito drama. E acho que uma rodada de leite com açúcar e algumas horas de conversa nos ajudarão a resolver as coisas.

— Olga!? Matteo!?

— Olá, garoto. É bastante para digerir, eu sei.

— Bem, tivemos encontros o suficiente, por ora. A floresta é perigosa, devemos voltar ao vilarejo — proclamou Eden, derramando seu olhar sobre os presentes. — Venham todos, e venham rápido.

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Erebus conjurou as sombras para entrar no castelo. Ele reapareceu num canto escuro e vazio, onde precisou ficar oculto até que dois guardas passassem pelo corredor.

Ele se envolveu em sua capa preta, que usara instantes antes para penetrar na escuridão. O silêncio pesado era perturbador e cada passo parecia retumbar pelo chão.

Seu poder estava mais forte devido à lua cheia, que seguira a poderosa Lua de Sangue. Quando ficou frente a frente com um soldado, sufocou-o com sombras antes que ele pudesse gritar e o segurou pelos ombros para que não caísse no chão.

Pé ante pé, ele se esgueirou até o corredor adjacente. Dezenas de homens guardavam a entrada do salão de jantar e muitos outros encontravam-se do lado de dentro. Passar por eles seria impossível.

Erebus, novamente, precisou chamar suas sombras. Infelizmente, o único lugar disponível ali era a lareira. Felizmente, não estava sendo usada.

Todas as nobres figuras que conhecia estavam sentadas lado a lado nas extremidades do salão. Dohan Dahab estava na sua frente, quase tapando a visão que tinha de Telbeth.

— Não grite — rangeu Erebus para o príncipe, que se retesou por completo. — Vim ajudá-los. Onde está Selene?

O rapaz, que não fora capaz de esquecer a inconfundível voz trovejante de Erebus, respondeu:

— Creio que sua filha foi muito mais esperta que nós e fugiu daqui quando teve a chance.

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