Epílogo

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Selene estava sentada à sombra de um salgueiro próximo ao rio, pintando (ou melhor, tentando pintar) uma tela que ganhara de Deschia.

— Pretende ficar aí o dia inteiro? — Selene sobressaltou-se com aquela voz, que parecia vir do rio. Ela precisou aguçar os olhos para distinguir a cabeça azul-esverdeada e os cabelos claros de Nereus da água turvada pelo crepúsculo.

— Se isso te incomodar, então sim.

A garota captou o sorriso breve de Nereus, antes dele mergulhar novamente. Após o desastroso primeiro encontro, haviam conversado algumas outras vezes e em todas elas alfinetaram-se mutuamente. Quando pensou que ele já havia ido embora, viu a água próxima à margem ondular e a voz suave retornou:

— Descanse a cabeça um pouco. Venha nadar se quiser.

— Eu estou descansando. Estou... pintando. — Ela franziu as sobrancelha para a tela.

— É claro. Quer me mostrar?

— Eu não terminei — respondeu, corando. Ainda era difícil para ela mostrar coisas tão íntimas quanto suas pinturas. Por isso, mantinha todas guardadas e só pintava quando estava sozinha.

— Sem problemas — Selene se virou para ele e viu as brânquias em seu pescoço dilatarem, o que era equivalente a um riso contido. — Veja só quem vem.

A garota girou a cabeça na direção oposta e acenou para Eden e Thalia, que andavam abraçadas. Elas se aproximaram, sorrindo.

— Thalia, sabia que Eden só abandona a carranca quando está com você?

— É verdade, Eden?

— Ah, por favor. Você já o viu perto de Heilean? Fica parecendo um peixe fora d'água.

— Isso não responde à minha pergunta...

— Tsc, tsc. Acho que alguém aqui está corando.

Selene sorriu ao olhar para a garota, com as bochechas agora tão vermelhas quanto os cabelos. Ela replicou:

— Não tem nada melhor para fazer, Nereus? Tomar um banho, talvez?

— Boa sugestão. Aliás, preciso mesmo ir. Vou me encontrar com Heilean, e ele não gosta de ficar esperando.

Nereus mergulhou, deixando uma Eden envergonhada e duas outras garotas sorridentes. Selene foi quem iniciou a conversa:

— Por onde andaram?

— Pomar.

— Estábulos.

As duas falaram e se calaram ao mesmo tempo.

— Fomos ao pomar pegar maçãs, e depois passamos nos estábulos. — Selene as olhou, já entendendo a situação, e sorriu.

— Tudo bem. — Ela se abraçou e esfregou os braços.— Vocês não acham que está um pouco frio? É melhor irmos para o chalé.

— Não! — As duas exclamaram, dessa vez, em uníssono.

— Ah. Certo. Tudo bem.

— Que tal um passeio? Você ficou aí sentada o dia todo, não foi? — indagou Thalia. Selene deu de ombros.

— Daqui a pouco você vai se fundir ao chão. Por que não passa os dias conosco?

— Eu já falei. Gosto daqui. É quieto e calmo.

Eden e Thalia assentiram, resignadas. Sempre recebiam essa mesma resposta.

Selene se levantou, sentindo as pernas dormentes. Fingiu não ter visto a fumaça que vinha da chaminé de seu chalé.

O Encanto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora