3B - Contagem regressiva

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— Eu tenho um plano. — O Professor afirma, silenciando momentaneamente todos os medos e receios da inspetora. — Mas você vai precisar confiar em mim e eu, em você.

Sí, claro. — Ela responde sem pestanejar. A preocupação de momentos atrás parece dar lugar a um tom de deboche típico da ruiva. — Agora que você viu até o fundo da minha alma somos como best friends, não?

— Alicia! — Sérgio a repreende. — Não é possível que você consiga fazer piadas em um momento como esses.

— O que você pretende? — Ela o ignora totalmente e continua. — Ah, já sei! Você vai segurar minha filha enquanto eu tiro um cochilo? ¡No me jodas, Sérgio! Eu não confio em você e você não confia em mim, simples assim!

— A confiança mútua é a base de uma relação, Alicia.

— Você e eu não temos relação alguma!

A voz alterada de Sierra desperta a recém-nascida em seus braços. De repente, ela parece esquecer das pessoas ali presentes e respira fundo na tentativa de acalmar as batidas aceleradas de seu coração e a pequena que agora chora assustada.

Shh... Está tudo bem, meu amor. Nós vamos ficar bem, eu prometo.

O Professor não pode deixar de notar a mudança repentina no comportamento da inspetora. Ele observa Alicia ninar a filha suavemente enquanto sussurra algo que ele não consegue distinguir, mas que ainda assim parecer ser suficiente para reduzir o choro desesperado ao som inconfundível de meras sugadas.

E é só então que a ruiva entende o que realmente está incomodando a garotinha. Como se soubesse o que fazer e como fazer, ela conduz a boca da pequena até um de seus seios e esta começa a sugar avidamente. Em questão de segundos, os gemidos satisfeitos tomam conta de todo o esconderijo.

Embora a sensação seja uma completa novidade para Alicia, em todos os sentidos da palavra, ela não pode evitar se apaixonar ainda mais. Talvez seja mesmo verdade o que dizem sobre essa tal conexão entre mãe e filho durante a amamentação ou talvez seja tudo culpa desse tal hormônio do amor, a ocitocina. De qualquer forma, um sorriso abobalhado enfeita seu rosto por completo.

Apesar de bela, a cena não poderia ser mais íntima. Por essa razão, Sérgio e Marsella se afastam para conferir às duas um pouco de privacidade e o cérebro da equipe aproveita o momento de calmaria para explicar ao croata as mudanças de plano que deveriam ocorrer agora que a inspetora e sua filha faziam parte da equação.

De primeira, Marsella se mostra bastante resistente aos ajustes sugeridos pelo Professor. Ele poderia facilmente elencar pelo menos uma dúzia de motivos para não se importar com Alicia, mas, por mais intrigante que possa parecer, esse não é o caso – nem de longe.

A verdade é que ele não saberia explicar o real motivo para isso nem que tentasse, mas prefere acreditar que em nenhuma condição seria capaz de colocar em risco a vida de uma criatura tão pequena e inocente como a menina que viu nascer há escassos minutos.

Por isso, seus protestos logo desaparecem e dão lugar a um sentimento incômodo de conformação, definitivamente uma preocupação a menos para Sérgio. O problema iminente agora é só um: fazer a inspetora concordar com o plano, o que certamente não seria uma tarefa fácil, mas não é como se ela tivesse muita opção, certo? Melhor do que ninguém, Sérgio sabe que só há uma forma dela viver livre com a filha, ele só precisa fazê-la enxergar isso.

Mas basta olhar novamente para as duas para ele ter a certeza de que Alicia estaria disposta a fazer qualquer coisa pela criança em seus braços. Qualquer coisa. Por isso, alguns minutos mais tarde, ele se aproxima novamente.

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