4A - Razão do meu existir

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Há exatamente um ano, a vida de Alicia havia ganhado um novo sentido.

E a cada dia, um novo significado.

Talvez seja loucura imaginar que os momentos mais difíceis e improváveis possuem a incrível capacidade de se transformarem em algo maravilhoso, mas Melissa é, sem sombra de dúvidas, a maior prova disso.

Quando tudo o que Alicia sentia era dor, quando já não conseguia enxergar motivos para continuar e quando viver parecia mais um castigo do que uma dádiva divina, sua filha chegou quebrando todas as barreiras e mostrando que, sim, sempre há motivos para prosseguir.

Parando para pensar, ela recorda o nascimento da pequena com uma clareza impressionante. É como se pudesse fechar os olhos e reviver aquele dia como se fosse a primeira vez.

E não poderia ser diferente.

Pois não importa quantos dias ainda tenha pela frente, ela tem a certeza de que aquele sempre será o mais bonito e o mais assustador também.

Com um sorriso no rosto, ela lembra como conseguiu encontrar o esconderijo do Professor em tão pouco tempo. No fundo, bem no fundo, ela ainda pode sentir um pouco daquela fúria absurda que queimava por baixo de sua pele.

A história da Tatiana, a cara de espanto do Professor ao entender a real motivação por trás de suas atitudes e tudo o que sucedeu até a chegada de sua menininha ainda está fresco em sua memória.

Tudo.

Quando seus olhos vislumbraram a filha pela primeira vez foi como se tivesse sido arrebatada, por inteiro. Era a definição perfeita e incontestável de amor à primeira vista e fez todo o resto se tornar insignificante, ínfimo.

Que loucura, não? Aquele ser tão pequeno havia reduzido tudo ao seu redor a nada. Mas esse mesmo amor inexplicável trouxe consigo um temor também desconhecido.

Até hoje ela treme só de lembrar o pânico que sentiu quando achou que seria seu fim, quando viu seu bebê momentos antes de entrar em um caminho desconhecido, em um caminho que não sabia se teria volta.

O coração apertado, a respiração entrecortada, o nó na garganta... o terror indescritível de não conseguir estar com sua bebê e o medo de deixá-la assim, sem nada – tão pequena, apenas horas de vida – e sem ninguém.

Ela sabe que deve sua vida e a de Melissa ao Professor e a Marsella, principalmente ao croata. Sabe que tem uma dívida eterna com eles, por mais que odeie admitir, mas agora não é o momento para pensar nessas coisas.

Ela sacode a cabeça, tentando afastar tais pensamentos, e busca aproveitar ao máximo os poucos minutos que lhe restam a sós com a filha. De imediato, ela não consegue evitar o enorme sorriso que se forma em seus lábios ao notar Melissa perseguindo uma borboleta, seus passinhos desajeitados fazem toda a cena se tornar ainda mais graciosa.

— Melissa! — Alicia a alcança bem a tempo de evitar que a pequena tropece em uma pedra. — Vem aqui, muñequita. Quero te mostrar uma coisa.

As duas estão em uma clareira situada no meio de um bosque. O céu em tons rosa e azul violeta mais parece pintado à mão – uma verdadeira obra de arte – e indicam que o sol está prestes a se pôr.

Em silêncio, ela caminha até um tronco de árvore caído no chão, retira um celular do bolso e se senta com Melissa em seu colo. A menina balança os pés inquieta, como se quisesse voltar a brincar com qualquer coisa que se movimente ao seu redor.

— Calma, pequeña, vamos ver o papai.

A imagem de Germán aparece na tela logo em seguida e ganha a atenção de Melissa imediatamente. Seus lábios se curvam em um grande sorriso, deixando completamente à mostra os poucos dentes.

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