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In today's episode: my half of the orange is rotten


Sabe quando odiamos muito alguém só pelo fato dessa pessoa existir? Mesmo que ela não seja uma ameaça direta a nossa integridade física e moral? Mas ainda assim, ela incomoda, ela é chata e perturba ao máximo.

Han Jisung e Han Jisang se enxergavam dessa forma, mas nem sempre foi assim, antigamente apenas ignoravam um ao outro. Jisang não tinha interesse em coisas rosas e frufrus, gostava de rock pesado e roupas escuras, igualmente suas maquiagens tão bem caprichadas.

Já Jisung era o completo oposto, e ele detestava que seu "clone" não fosse exatamente como ele planejava ou assistia na televisão, pensava ingenuamente que todos os gêmeos de certa forma se completavam ou que se vestiam iguais, pensavam iguais, tinham uma conexão única. Como estava enganado. Se Jisung dissesse "rosa", Jisang replicaria dizendo "preto". Até na hora de escolher a refeição era essa briga.

Mas com o tempo, as brigas amenizaram um pouco, a mocidade chegou para os dois, obrigando que tivessem um pouco mais de modos e maturidade para lidar com suas desavenças. Na primavera de um ano qualquer, quando os dois já tinham seus treze anos, uma terrível notícia os alcançou, abalando toda a estrutura familiar; a mãe estava com câncer e não tinha cura, morreria muito em breve. Um baque. Um soco na boca do estômago.

Apesar das constantes brigas e desentendimentos, os dois se obrigavam a se comportarem diante da mãe, que era uma artista plástica, vivia para o seu trabalho, mas também era apaixonada pelos afazeres domésticos e por ter sua família sempre perto, desfrutando de cada momento ao lado dos seus entes queridos. Principalmente seus dois caçulas, os únicos que ainda podia mimar, já que seu filho mais velho – Mark Tuan –, resolveu que não seria mais apropriado ficar recebendo tudo de mão beijada dos pais, indo tão logo em busca de seus próprios sonhos e abandonando um pouco aquela convivência familiar que a mãe fazia tanto gosto. Era um terrível sofrimento para a matriarca, que choramingava pelos cantos, com imensas saudades do seu primogênito, que no máximo só retornava para casa no natal, a base de muita chantagem emocional da parte da mais velha.

Então mesmo Mark, que lutava dia após dia por sua independência, não hesitou em retornar para casa e ficar aqueles últimos meses ao lado de sua querida mãe. O pai também parecia mais presente, largava mais cedo do trabalho para ficar com a esposa, a auxiliando no que fosse preciso e mimando muito. Todos a tratavam com extrema delicadeza, o que a irritava um pouco, odiava ser tratada como doente, apesar de que era exatamente assim que se encontrava. Doente.

Também recebeu com muito carinho outros familiares, entre eles o seu querido sobrinho; Seungmin. O achava tão adorável, tão certinho, uma ótima companhia para o seu Jisung, talvez assim ficasse mais ajuizado. Sua irmã, apesar de se mostrar um pouco durona demais, não conseguia esconder sua profunda tristeza com a notícia de que perderia a irmã mais nova, aquela que sempre cuidou. Pediu um dia, encarecidamente, que ela deixasse de pegar no pé de Seungmin e o deixasse viver livremente, sem colocar tantas minhocas em sua cabeça acerca de um futuro ainda tão distante. A Kim mais velha prometeu que acataria aquele último pedido, mas sabia que estava mentindo.

E então, próximo do aniversário de quatorze anos dos gêmeos, a mãe passou muito mal, sendo levada às pressas para o hospital e acabando por falecer lá mesmo, sem que os médicos pudessem fazer muita coisa. O câncer já havia a consumido demais, agora era hora de descansar.

Jisang tentou se fazer de forte até aquele momento, mas ficou aos prantos ao receber a notícia do falecimento da mãe, se isolando por semanas em seu quarto e se recusando até a comer. Jisung tentava consolar o pai e o irmão mais velho, mas era outro que estava inconsolável, e nos momentos mais difíceis, corria para os braços de Seungmin, que o recebia prontamente. Ninguém teve clima para comemorar o aniversário de Jisung e Jisang, e foi a primeira vez que a data passou em branco.

Razão e Emoção [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora