O segredo de Gimje

Capítulo 18 - Remanescente

Após as palavras de Shownu, todos encaravam em silêncio o vampiro que foi apresentado como responsável por criar Minhyuk no orfanato no qual fôra abandonado, além do fato de ser remanescente de um clã que foi exterminado há 18 anos.

— Olá, garotos – Lim Jaebum os cumprimenta com um sorriso gentil. – Pelas suas caras, devem estar curiosos para saber quem eu sou e porque criei Minhyuk.

“Para saber um pouco mais sobre tudo isso, preciso contar  sobre minha história e como isso... – Jaebum tira dois colares do bolso, um de prata e outro de bronze, colocando-os em cima da mesa de centro entre os sofás – está envolvido.

Em ambos os colares havia um pingente com símbolos cravados neles. No colar de prata, havia o desenho de um sol com raios pontiagudos envolto por uma cobra, já no pingente de bronze, havia uma espécie de olho onde a íris era substituída por uma flor de lótus completamente aberta.

Ao ver o símbolo no colar prata, Hyungwon o reconhece imediatamente. Aquele é o mesmo desenho que havia no colar de um dos vampiros que invadiu a casa de Hana.

— O símbolo do clã Kud... – Hyungwon sussurra.

— Sim criança, esse é o símbolo do clã que causou o que chamamos de Batalha de Gimje e principal responsável pelo extermínio do clã Haemosu – Jaebum suspira por um momento e depois, aponta para o outro colar. – Esse é o símbolo dos Haemosu.

“O clã Haemosu nunca foi dotado de extrema força física, como outros grandes clãs, mas tínhamos o dom da sensibilidade e da feitiçaria, o que de certa forma nos tornava fortes.

“Por centenas de anos, nós habitamos o território de Gimje e aqui tínhamos uma relação muito pacífica entre nós e os humanos, o que não agradava a alguns clãs de vampiros, entre os quais estavam os clãs Kud e Palk. Diversas vezes entramos em conflito, principalmente com os Kud, pois eles desejavam Gimje, para, assim, dominar a raça humana.

“Talvez por medo ou simplesmente por não quererem se meter em conflitos, os demais clãs não se envolviam na disputa, então os Kud quase não receberam apoio. Não até o dia em que a presença de uma menina vampira branca foi descoberta na cidade de Gimje.

“Como devem saber, um vampiro branco é extremamente perigoso para nós, vampiros comuns. Sua força, inteligência e capacidade de adaptação, o torna uma verdadeira máquina de matar, além é claro, da propriedade única que seu sangue tem, capaz de nos tornar extremamente fortes em questão de segundos. Por esse motivo matá-los era uma regra não escrita entre os vampiros.”

Jaebum fica em silêncio por alguns minutos lembrando da pequena criança de cabelos escuros, olhos roxos intensos e hipnotizantes. Ele lembrou de seu lindo sorriso, da doçura de seus olhos quando falava de algo que gostava e do sorriso do menino que estava sempre junto a ela, rindo enquanto corriam de mãos dadas pelo jardim da casa dos pais que a criavam.

A menina havia chegado ao clã a pedido de Shownu, amigo de Young Jae, líder dos Haemosu. No início, todos criticaram seu líder por aceitar criá-la, alegando que quando crescesse a menina poderia se voltar contra eles e se tornar uma ameaça. Mas enquanto crescia, seu sorriso, doçura e o cuidado que tinha com todos a sua volta, fez com que medo de todos fosse substituído por afeto e proteção. Junto com o filho do líder, a menina tornou-se a criança mais querida de Gimje.

— A menina era Hana? – Hyungwon pergunta a Jaebum.

— Sim, a menina era sua irmã, a pequena Hana – ele responde com um sorriso gentil.

“Depois da descoberta da presença de Hana, o clã Kud ganhou apoio de alguns pequenos clãs de vampiros e em intervalos pequenos atacavam a cidade de Gimje, matando vampiros e transformando humanos para si. Nós sabíamos que não demoraria muito até que algo desse muito errado e mais clãs se envolvessem no conflito, então, Young Jae mandou uma mensagem pedindo apoio aos Haenim e aos Dalnim. A menina precisaria deixar Gimje imediatamente – Jaebum reinicia sua história e olha para Shownu, líder dos Haenim. – O que não imaginávamos é que o ataque aconteceria tão rápido.

“Antes mesmo que a resposta viesse, Gimje foi invadida pelos Palk e pelos Kud, travando uma batalha intensa e sangrenta. Nesse momento, o filho de Young Jae estava brincando na casa da menina, que ficava afastada da cidade, e para protegê-los ele foi pessoalmente ordenar que a família dela os levasse para longe dali imediatamente. O que ele não imaginava, era encontrar a cena que viu ao chegar. O cheiro de sangue era tão intenso na batalha que despertou a fome e o desejo por sangue do menino e então, ele mordeu Hana.

Hyungwon o olha horrorizado. Ele sabia que veneno de vampiro é mortal para vampiros brancos...

Mas, como..?

— Horrorizado pelo acontecido e vendo o sofrimento de seu filho ao perceber o que tinha feito com a amiga, Young Jae deu uma poção para a menina. Ela ficaria curada, mas perderia todas as suas memórias e sua essência de vampira branca “adormeceria” por um tempo.

“Mesmo com a criança adormecida, a família dela foi ordenada a sair da cidade levando consigo o menino e assim o fizeram.

“A batalha ficava cada vez mais intensa. Havia muitas baixas, vampiros e humanos sendo mortos sem piedade. Pensando em proteger alguns humanos, Young Jae me mandou levar todas as crianças para o orfanato que ficava na fronteira de Gimje e dar uma poção a todas as crianças, impedindo que o cheiro delas fosse percebido por vampiros, e cuidasse delas até que a Batalha acabasse. Assim o fiz. Foi lá que encontrei o pequeno Minhyuk.

“Fiquei lá por dias sem saber ao certo como estava a batalha, até que um dia, Changkyun apareceu com a pequena Hana no colo. Ela estava extremamente ferida devido a um acidente de carro, e mesmo que sua vida não corresse perigo, doía vê-la daquela forma. Changkyun me disse que a batalha havia finalmente acabado, mas que, infelizmente, eu e o filho do líder éramos os únicos sobreviventes.

“— Jaebum, eu realmente sinto muito por não termos chegado antes. O recado demorou a chegar e enfrentamos vários pequenos conflitos no caminho – Changkyun falou com pesar.

— Eu... eu não sei o que fazer...

— Tenho uma sugestão – o olha com gentileza. – Deixe que os Haenim cuidem da cidade por um tempo. Shownu encontrou o filho de Young Jae e jurou cuidar dele como se fosse dele. Você fica aqui e cuida das crianças humanas. Ensine-as a crescerem fortes, inteligentes e saudáveis. Eu levarei Hana para longe daqui. Ela perdeu suas memórias, não vai lembrar de nada o que aconteceu. Vou entregá-la para a irmã de sua mãe adotiva. Ela sabe sobre nós e a criança será bem cuidada e amada.

“Como a proposta não era ruim, eu simplesmente a aceitei. Fiquei no orfanato cuidando de cada uma das crianças, e não demorou muito para que eu percebesse que uma das crianças tinha o sangue com um cheiro muito similar. Minhyuk tinha o cheiro que lembrava muito o de Hana. Foi então que descobri seu parentesco e suas semelhanças. Ambos tinham o mesmo sorriso delicado e gentil, olhos encantadores e uma grande necessidade de cuidar do outro.

“O acompanhei em cada momento de sua infância. Em cada resfriado, em cada passo, em cada lágrima ao ver que era o único a ficar para trás. Mesmo que dissesse que me amava como a um pai, quando ele finalmente fez dezenove anos, me pediu para vir a Gimje procurar um emprego e viver sozinho. E eu, claro, deixei. Sabia que ele estaria em território aliado e confiei em sua personalidade gentil e forte. Fui embora dias depois que ele saiu. Saí em busca de algumas ervas para voltar a fazer as poções e ensinar ao outro sobrevivente, como lutar ao modo Haemosu, mas, quando voltei...

Jaebum fica em silêncio e seu semblante muda de repente.

— Eu juro a você – fala para Shownu. – Não fiquei esse tempo todo apenas brincando de dono de orfanato. Eu treinei, aprimorei minha força física e minhas poções. Não vou sossegar enquanto não despedaçar quem ousar fazer mal a Hana, a Minhyuk ou a Kihyun.

— Espera, Kihyun – Hoseok pergunta surpreso. – O que Kihyun tem a ver com isso?

— Kihyun é o outro sobrevivente do clã Haemosu. O filho do líder, Young Jae e atual líder por direito. – Jaebum responde para Hoseok, fazendo com que o encare surpreso.