CAPÍTULO 5

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- Por que simplesmente não admite o óbvio, Jungkook? Você não quer se casar, desde o começo, você nunca quis.
- Jimin, espera!
Tarde mais, ele desligou na minha cara.
- Porra! Porra! Porra! – gritei jogando o celular na cama.
Quando liguei para Jimin pela manhã, já tinha más notícias para lhe dar.
Acordei tarde e haviam várias mensagens e chamadas perdidas no meu celular. Mas antes de poder retornar suas ligações, Leechin bateu em minha porta para avisar que não conseguiu passagens para voltarmos pra casa.
E o filho da puta me disse isso com uma naturalidade. Totalmente inacreditável o comportamento desse cara.
Estávamos com passagens de ida e volta devidamente marcadas e confirmadas, deveríamos ter voltado na noite anterior, mas ele quis ficar para o coquetel de comemoração do prêmio e me jurou que conhecia alguém na companhia aérea que nos conseguiria passagens para o dia seguinte.
E eu, trouxa, acreditei.
Resultado? Quando liguei para Jimin e lhe contei que seu noivo ficou preso nos Estados Unidos em cima da data do casamento, ele surtou e com razão.
O que mais me doeu foi ouvi-lo chorar baixinho, sua voz trêmula, tão contido, tão magoado. Me senti a pessoa mais egoísta do universo por ter insistido em receber pessoalmente essa porra de prêmio.
Eu pensei só em mim. Caralho, Jungkook!
Eu deveria ter ficado ao seu lado, o acompanhado em todos os compromissos de preparação da cerimônia, aquelas coisas que não fazem diferença para mim, mas que para ele são muito valiosas.
Como eu pude ser tão estúpido? Maldito Jungkook!
Ah, alguém me mate!
E o pior de tudo era saber que aquela mulher deveria estar acabando com ele!
Jeon Yooram, a mãe de Jimin, era uma ômega terrível, ninguém diria que era a mãe de alguém tão incrível. Ele provavelmente se parece mais com meu tio Jeon Gangwoo que sequer era seu pai biológico, apenas o criou desde pequeno. Por isso Jimin era Park e não Jeon, ele foi registrado com o nome de solteira da mãe.
Meu tio Gangwoo sempre protegeu Jimin dos abusos psicológicos de Yooram. Mas agora que ele havia falecido, existia apenas eu entre Jimin e sua mãe miserável.
Por isso eu lhe pedi em casamento, por isso tive pressa em transformar nosso namoro da adolescência em um vínculo definitivo o quanto antes. Para que eu pudesse tirar meu ômega das mãos daquele demônio.
A inversão de papéis era estúpida. Meu tio Gangwoo era o irmão mais velho do meu pai, um alfa puro de uma longa linhagem de alfas puros e ainda assim criou a mim e a Jimin como seus filhos, nos tratou com amor e respeito, foi meu maior exemplo.
Já Yooram nunca tratou Jimin com amor, mas quando nos tornamos adolescente ela passou a agir como se o odiasse, sempre colocando defeitos em tudo que ele fazia.
Quando Jimin decidiu elevar o status do balé de hobby de infância para carreira profissional, ela se opôs dizendo que ele era desengonçado demais para ser um bailarino, que ele não tinha talento.
Jimin quase desistiu, mas meu tio e eu não deixamos.
Ela estava muito errada. Nunca vi alguém tão elegante e fluido na dança.
Quando Jimin e eu começamos a namorar lá pelos 16 anos, ela se opôs dizendo que tínhamos a mesma idade e fomos criados como irmãos, que era um absurdo.
Jimin quase me rejeitou, mas meu tio consentiu nossa relação, talvez porque ele esperava que eu cuidasse de Jimin no futuro.
Somos melhores amigos e amantes, mas não somos irmãos.
Quando pedi Jimin em casamento, logo após a morte do meu tio, ela surtou sem nenhum motivo aparente. Yooram só não queria que eu marcasse Jimin e tornasse nosso vínculo permanente.
Dessa vez, Jimin se opôs a ela, a enfrentou e desde então, ela vinha tornando nossa vida um verdadeiro inferno, sem nenhum motivo. Ela só não queria nos ver nem casados, nem vinculados.
E era por isso que eu estava desesperado. Com toda certeza Yooram estava pisando em Jimin, dizendo-lhe talvez que eu estava desistindo do casamento e a culpa era dele por ser um ômega ruim.
Já havia ouvido ela dizer que Jimin iria me perder por ser um fracasso como ômega, incapaz de cuidar de um alfa.
Era uma pessoa amarga, parecia estar competindo com o filho, o tempo todo tentando provar que era uma ômega melhor que ele. Mais bonita, mais delicada, mais magra, mais inteligente, e elegante, e atraente, e o diabo!
A verdade era que Yooram tinha ciúmes do próprio filho, tinha inveja porque Jimin era um ser humano maravilhoso e um ômega realmente atraente. Sua elegância e suavidade o tornavam excepcionalmente sensual.
E aparentemente, Yooram dava uma de Madrasta Má e ficava o tempo todo brincando de “espelho, espelho meu” só pra descobrir que Jimin era mais atraente que ela.
Ou seja, ela era doente e eu precisava encontrar uma maneira de voltar para Seul custe o que custar!
E é claro que eu queria me casar!
Tentando expurgar esses pensamentos, fui tomar um banho demorado esperando que a água quente relaxasse meu corpo para que, enfim eu pudesse forjar uma solução para essa merda.
Mas fui traído por minha própria mente. Enquanto estava sob a água quase não notei as terríveis lembranças se esgueirarem à superfície da minha consciência. Quando me dei conta, já estavam lá.
Eu sabia o porquê de Yooham tratar Jimin daquele modo, eu tinha uma boa noção.
Eu sabia em primeira mão do que aquela ômega era capaz, ainda sentia calafrios e náuseas apenas com o esforço pra esquecer o que aconteceu.
Ela é quem poderia ser a irmã do meu pai, ela é quem conseguiu ser tão cruel e egoísta quanto ele. Apenas a morte dele foi capaz de me salvar de uma vida infeliz, mas é agora? Quem poderia me salvar dela?
Não! Agora eu sou um adulto, pensei. Eu é quem tem que salvar Jimin. Ela já não é mais capaz de me fazer nenhum mal.
Não é?
Comecei a hiperventilar enquanto os pensamentos se acumularam e atropelavam uns aos outros. Eu já estava ficando desorientado.
Agora não sou mais um garoto de 17 anos experimentando os horrores do primeiro cio, disse a mim mesmo. Agora ela não pode mais se aproveitar da minha vulnerabilidade, do meu sofrimento para se esgueirar como uma cobra até minha cama e me obrigar a fazer algo que eu jamais faria se o meu corpo não estivesse completamente tomado por esse maldito instinto de alfa, onde qualquer lixo de pessoa serve para acalmar a luxúria.
Eu tenho tanto, tanto, tanto nojo dela!
No mesmo instante em que esses pensamentos se fecharam em minha mente meu estômago respondeu da pior forma possível.
Sai do box o mais rápido que pude, me joguei de joelhos diante do vaso e vomitei. Vomitei porra nenhuma já que estava de estômago vazio. Mas tentei vomitar o desgosto, a vergonha e a culpa que sentia pelo que aconteceu. Eu trai o meu Jimin mesmo que não intencionalmente.
A quem eu estava tentando enganar? Esses sentimentos nunca vão embora.
Me deitei por um instante no piso do banheiro desejando que o frio aliviasse um pouco o mal estar, a falta de ar, o coração acelerado, o suor frio. Eu sentia uma angústia que não podia por em palavras.
Me pergunto por quantos dias fizemos aquilo. Dois? Três dias? Sim, foram três dias, eu me lembro. E durante todo o tempo minha mente esteve consciente da merda que eu estava fazendo e mesmo assim não conseguia parar de toca-la.
Também não conseguia parar de chorar.
Yooham poderia ter simplesmente me dado os supressores. Meu tio já havia me levado ao médico justamente porque sabíamos que eu já estava na idade de ter meu primeiro ciclo sexual. Não era seguro ter um alfa jovem numa casa com dois ômegas sem estar preparado para um cio repentino.
Mas eu tive muito, muito azar pelo meu tio ter viajado com Jimin para Busan justamente quando o cio chegou. Eu fiquei a mercê daquela cadela desgraçada.
Até hoje me pergunto se posso chamar aquilo de estupro, afinal eu é que sou o alfa e não sei se alfas podem ser forçados ou não. Eu não consenti, mas ainda assim... Não sei o que pensar.
Ou talvez eu seja apenas um maldito alfa puro de merda, tão imundo quanto qualquer outro de quem tenha ouvido falar. Alguém como Leechin por exemplo, aqueles do tipo que não conseguem manter o pau dentro das calças e precisem se enfiar dentro de qualquer coisa que tenha um buraco, recebendo consentimento ou não.
Me perguntei qual serei meu próximo vexame. Talvez um estupro? Talvez eu só estivesse esperando um inocente ômega no cio para forçar e então acrescentar a cereja do bolo da minha falta de caráter. Talvez eu fosse como Yooham e por isso não a evitei como deveria.
Deus, como eu me odeio. Como eu queria ser um beta!
Agora o que me restava era cuidar do meu ômega, a pessoa que me ajudou a lidar com aqueles dias infernais e me deu esperanças de ter uma vida digna mesmo depois daquilo.
Eu tinha consciência de estar muito errado já que Jimin não sabia de nada, ninguém sabia, então não lhe dei a chance de escolher se valho seu amor ou não. Mas me comprometi em fazer meu melhor para compensa-lo todos os dias, começando naquele instante, levantando do chão e indo atrás de um jeito, qualquer que fosse, para voltar a Seul a tempo de me casar.
Eu amava Jimin, sempre amei, desde a adolescência, desde antes daquilo. Ele era o meu melhor amigo e o melhor companheiro que eu poderia ter, eu devia tudo a ele.
Não se preocupe Jimin. – disse para mim mesmo em voz alta. - Vou chegar a tempo de salvar nós dois daquela mulher.
Respirei fundo algumas vezes, então levantei de chão e voltei ao chovendo para lavar o suor que se acumulou enquanto sofria com aquela repentina crise. Fazia tanto tempo que não as tinha.
Troquei de roupas bem distraído e finalmente desci pra almoçar com o estômago roncando e nenhum apetite. Ainda me sentia enjoado.
Mas enquanto descia no elevador tive uma ideia louca e bem desesperada: eu iria me humilhar a cada um daqueles ômegas da premiação, quem quer que ainda estivesse hospedado no hotel e iria pedir suas passagens.
Não havia mais nada em minha mente e eu estava mesmo desesperado.
Ao entrar no restaurante do hotel percebi que ainda havia muitos ômegas da premiação ali, todos sentados a mesa almoçando e agora, virando os rostos em minha direção, apenas para torcer o nariz pra mim.
Com certeza eles não me ajudariam tão facilmente, mas eu iria tentar.
Resultado? Fui em quase todas as mesas, falei com cada uma das pessoas ali, expliquei a minha situação e ninguém pareceu sequer balançado com a minha proposta, mesmo eu oferendo mais alguns dias de hospedagem naquele hotel, tudo por minha conta, e as passagens de volta ao seu respectivo país.
Mas eles queriam mesmo é que eu me fodesse. Alfas e ômegas se odeiam tanto que perderam a empatia. Então como podem buscar tão desesperadamente um pelo outro apenas para relações de teor sexual?
Sentei no bar do hotel e pedi uma bebida, me sentia miserável naquele momento. Sim, eu iria falhar com Jimin hora ou outra, sem importar o que eu tentasse fazer de bom e por isso eu já esperava, só não achei que seria tão cedo.
Virei a dose de whisky de uma vez sentindo o álcool queimar minha garganta e meu estômago completamente vazio.
Estava prestes a pedir mais uma dose quando senti uma mão tocar suavemente meu ombro. Um arrepio viajou meu corpo inteiro e cada célula parecia ter acordado naquele instante. Era como uma descarga elétrica despertando o que eu nem sabia que estava morto, aquecendo onde eu não percebi que estava frio. Foi assombroso.
Não foi preciso olhar para saber quem era, eu podia sentir seu cheiro doce e apimentado pinicar minha língua me fazendo salivar.
- Me perdoe se estiver sendo intrometido, mas ouvi que você precisa voltar ainda hoje para Seul. Talvez eu possa ajudar, se você tiver interesse. – disse ele com a voz rouca, tão musical e por um instante fechei os olhos de prazer, não pude evitar.
Me virei com cuidado esperando que minha expressão não denunciasse o quão afetado eu estava com a sua presença, mas ao vê-lo diante de mim percebi uma mudança. Ele permanecia lindo e atraente como antes, mas algo estava errado.
Sim, era o maravilhoso ômega que encontrei no elevador, mas ao contrário da noite anterior, naquele momento havia uma sombra pairando sobre ele, escurecendo seu brilho. Seu rosto estava triste, a expressão vazia e os olhos inchados. Algo o fez chorar e o meu instinto foi de abraça-lo até que o sol brilhasse sobre ele novamente.
- Sinto muito, eu não queria incomodar você, esqueça o que eu disse. – o ouvi dizer antes de me dar conta de que ele se virou e foi embora.
Mas o que caralhos deu em mim?!
- Espera por favor! – o segurei pela mão e ele parou. – Desculpe por não responder imediatamente, eu fiquei muito surpreso. Pedi ajuda a todos que estão aqui e ninguém se dispôs a isso. Já estava desistindo.
- Bem, eu também tenho urgência em voltar a Seul ainda hoje, então meu companheiro fretou um avião particular para me levar. Você gostaria de ir comigo?
Companheiro? Ele era vinculado, mas eu não senti nenhum cheiro de alfa nele. Por que? Confesso que fiquei decepcionado em saber disso e talvez um pouco ciumento.
Que besteira! Eu nem o conheço. E também vou me vincular.
- Sim, eu quero! Por favor, me leve com você. Me chamo Jeon Jungkook e vou me casar em 24 horas. Preciso voltar imediatamente para o meu ômega.
- Eu me chamo Kim Taehyung e vai ser um prazer entregar você ao seu noivo. – disse ele e vi surgir em seu rosto o mais belo sorriso quadrado que jamais havia visto. Mesmo triste ele era encantador.
Taehyung, seu nome era Kim Taehyung.
Taehyung, você faz com que eu me sinta estranho quando estou perto de você.














48 HORAS ANTES DA LUA CHEIA (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora