CAPÍTULO 6

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Eu estava brincando com meu almoço no prato quando ouvi os comentários ao redor. Alguém estava pedindo ajuda e era alguém não muito popular entre os ômegas ali já que todos estavam de cara fechada.
Aliás, por que haviam tantos ômegas no mesmo lugar?
Enfim...
O pequeno alvoroço chamou minha atenção em meio aos pensamentos desagradáveis que eu vinha tendo desde a desastrosa conversar com Namjoon. A fofoca parecia uma boa distração, então foquei em entender o que se passava.
Uma parte de mim dizia “Não se envolva em mais drama, Kim Taehyung!”. Mas a outra parte queria se distrair.
Tentei espiar por cima das cabeças das pessoas para ver de quem se tratava, mas foi impossível. Então, perguntei para uma senhora que estava na mesa ao lado acompanhada por um rapaz e uma moça, todos ômegas.
- O que está havendo, senhora? Por que as pessoas parecem tão chateadas?
- Bom querido, trata-se de um alfa muito desagradável que está pedindo ajuda para voltar para Coréia do Sul. – respondeu ela bem amarga – Ele diz que está atrasado para o seu casamento, mas não sei que tipo de pessoa deixa o próprio noivo às vésperas do casamento e viaja para o outro lado do mundo apenas para receber um prêmio.
Talvez alguém que trabalhou duro e deu seu melhor para ser premiado, pensei lembrando de mim mesmo.
- E a que prêmio se refere? – continuei sem mencionar o quanto ela parecia invejosa. Seria ela uma adversária derrotada?
- Então você não soube? Neste hotel aconteceu a 67° Mostra de Culinária Internacional e esse alfa foi o vencedor do 1° prêmio com uma prato inspirado na culinária brasileira. – estava tudo explicado.
Mas então tratava-se de um alfa cozinheiro? Veja só, essa era nova. Fiquei realmente curioso depois de ouvir aquilo. Que tipo de pessoa ele seria?
- Não é terrível que os alfa estejam se apropriando até mesmo das únicas atividades onde nós ômegas somos reconhecidos? – continuou ela e seu tom era extremamente arrogante.
Levantei da mesa decidido a encontrar o tal alfa cozinheiro e ver se poderia ajudá-lo.
- Não senhora, eu não acho. Todos deveriam trabalhar com o que amam, essa coisa de atividades de alfa e atividades de ômega é o primeiro erro dessa sociedade. Na verdade, acho muito bom que alfas comecem a exercer esse tipo de função. Talvez a convivência com ômegas os tornem mais sensíveis. Ou não, já que a senhora me parece completamente insensível. Com licença, estou indo ajudá-lo.
Ao dar-lhe as costas ainda pude ouvi-la me amaldiçoar algumas vezes. Tudo o que pude fazer foi sorrir. Sei que não havia necessidade de responde-la daquela maneira, mas eu realmente gosto de confrontar as pessoas.
Consegui avançar apenas alguns passos antes que meu corpo paralisasse. Embora se tratasse de um ambiente amplo, o cheiro do alfa que encontrei no elevador se espalhava pelo ar dentro do restaurante. Não era um cheiro forte, estava mais para um purificador de ambientes, mas já foi o suficiente para me afetar e me deixar nervoso.
Voltei a caminhar entre as mesas olhando ao redor e esperando encontrar outro alfa, mas então eu o vi. Estava de costa para mim conversando com três pessoas em uma mesa próxima ao bar do hotel. Ao se levantar, pude ver seu perfil e ele parecia estar realmente perturbado, provavelmente por ter recebido outra negativa. Passando os dedos entre os cabelos negros ele caminhou em direção ao bar.
O que eu deveria fazer? O que eu deveria fazer?
Era ele, este era o alfa cozinheiro. Eu desejava ajudá-lo, mas como poderia se ele era também o alfa que me deixou tão perturbado? Eu não poderia levá-lo comigo.
Poderia?
Bem, eu poderia, mas não devia.
Ou devia?
Ele estava noivo, de casamento marcado. Esse alfa já pertencia a um ômega e estava desesperado para reencontra-lo antes que fosse tarde demais.
Me senti tão culpado pela pequena pontada de ciúmes que me assaltou, pelo meu desapontamento ao perceber que a excitação dele no elevador foi provocada apenas pelos meus feromônios pré-cio e não por minha pessoa em si.
É claro que foram os malditos feromônios! Eu estava sendo muito pretensioso ao achar que ele realmente se sentiu atraído por mim. E pior ainda era a tristeza que se espalhou pelo meu coração após essa constatação.
Qual é? Não me fode! Está esquecendo que você também é casado, Taehyung? Não importa se você brigou com seu companheiro, vocês ainda tem um vínculo.
Mas havia algo a mais, havia algo estranho como uma voz sussurrando no meu ouvido. Ou talvez fosse só uma sensação, algo que deslizava sinuosamente embaixo da minha pele deixando rastros de calor. Era algo que nada tinha a ver com o cio, mas que desejava veementemente que eu levasse o alfa comigo.
Seja lá o que “algo” fosse, ele venceu. Eu só precisava de um sinal de qualquer forma.
Caminhei hesitante em sua direção. Ele estava de costas para mim pegando uma dose de whisky das mãos do garçom e entornando de uma só vez.
Me perguntei qual seria sua resposta, se ele estaria de fato tão desesperado para voltar aos braços de seu ômega que aceitaria viajar com um desconhecido. E apenas esse pensamento fez meu coração sangrar.
Mas que porra que está acontecendo com você? Caralho, Taehyung!
Respirei fundo para me recompor esperando que minha expressão não entregasse o quanto eu me sentia miserável por tudo o que estava acontecendo, então toquei em seu ombro.
- Me perdoe se estiver sendo intrometido, mas ouvi que você precisa voltar ainda hoje para Seul. Talvez eu possa ajudar, se você tiver interesse. – disse a ele. Minha voz não era nada além de um sopro, a garganta seca deixando-a ainda mais rouca e minha mão formigando onde lhe tocava.
Ele permaneceu estático por um instante e sua rigidez me fez retirar a mão rapidamente. Eu poderia tê-lo ofendido?
Então, o alfa virou para mim. Seus olhos escuros estavam sérios, mas tão intensos que perfuravam os meus. Me senti exposto como na primeira vez.
Sim, eu o havia ofendido com a minha intromissão. Por que outra razão ele estaria me olhando com um expressão tão severa?
- Sinto muito! – falei recuando um passo. – Eu não queria incomodar você, esqueça o que eu disse. – dei-lhe as costas e caminhei o mais rápido que não significasse correr.
Mas o que caralhos deu em mim? Por que fui me oferecer a alguém que não me pediu ajuda? Inferno!
- Espera por favor! – disse ele segurando forte minha mão, me fazendo parar. – Desculpe por não responder imediatamente, eu fiquei muito surpreso. Pedi ajuda a todos que estão aqui e ninguém se dispôs a isso. Já estava desistindo.
Se recomponha, Taehyung, seu maldito ômega idiota! Encontre sua voz!
- Bem, eu também tenho urgência em voltar a Seul ainda hoje, então meu companheiro fretou um avião particular para me levar. Você gostaria de ir comigo?
Ele pareceu hesitar por um instante antes de responder, mas...
- Sim, eu quero! Por favor, me leve com você. Me chamo Jeon Jungkook e vou me casar em 24 horas. Preciso voltar imediatamente para o meu ômega.
Ok, Sr. Jeon. Porra, que nome lindo! Combinava com ele.
- Eu me chamo Kim Taehyung e será um prazer entrega-lo ao seu noivo. – falei mostrando-lhe o meu melhor sorriso.
Não sei se seria uma prazer entregá-lo a outro ômega, mas seria bom passar algumas horas com ele e conhecê-lo melhor. Quem sabe acabaríamos nos tornando próximos?
- Então, o avião partirá às 16h do hangar 4 do Aeroporto Internacional de São Francisco. Seremos só nós dois e a tripulação: piloto, copiloto e uma comissária de bordo. A não ser que você tenha mais alguém para levar.
- Não, será apenas eu.
- E você pretende me deixar para trás Jeon? – disse um alfa estranho que surgiu simplesmente do nada e se pendurou nos ombros de Jungkook.
E eu o odiei imediatamente. Ele tinha uma cara sínica e um jeito nojento de me olhar, como se estivesse me imaginando nu. Desagradável, para dizer o mínimo.
Não me diga que esse merda vai querer ir com a gente?
- Você não vai me apresentar seu novo amigo, JK? – e ele tinha um jeito repulsivo de falar também.
Jungkook retirou o braço do alfa de seus ombros e muito a contragosto nos apresentou.
- Leechan, esse é o senhor Kim Taehyung. Ele está voltando para Coreia ainda hoje em um avião particular fretado por seu companheiro. – disse-lhe Jungkook frisando a parte em que eu tinha um companheiro. – O Sr. Kim ficou sabendo da minha situação e muito gentilmente se ofereceu para me levar com ele.
Nossa, ele estava muito desconfortável.
- Sr. Kim, esse é...
- Eu sou Choi Leechan e é um prazer conhecer alguém tão gentil e incrivelmente lindo como você. – falou o cara nojento depois de interromper o que Jungkook tentava dizer.
O tal Choi passou à frente de Jeon e tentou segurar minhas mãos, mas recuei sutilmente e apenas fiz um reverência, o que pareceu deixá-lo mais atiçado.
- Sr. Kim, peço que perdoe meu sócio, ele é um pouco invasivo demais as vezes. – falou Jungkook puxando Choi para longe de mim. – Mas não se preocupe, ele é inofensivo, eu garanto.
Inofensivo? Sei...
- Certo Sr. Jeon, então encontro com você no aeroporto às 14h? – olhei meu relógio de pulso, eram 12:35h – Devo subir agora para organizar as coisas e fazer o checkout. Com licença.
- Espere, Sr. Kim! – chamou o merda que não cansava de ser inconveniente – E quanto a mim?
- Sinto muito, Sr. Choi. É um avião pequeno. Além do mais, já reportei a companhia aérea que transportarei apenas uma pessoa além de mim, – mentira, eu ainda não tinha tido tempo de reportar nada – e não haverá mais tempo para reportar outro convidado. Imagino que o senhor não esteja para perder sua cerimônia de casamento já que vejo uma aliança em seu dedo. Então não tenha pressa, aproveite mais um dia ou dois o clima da Califórnia. Bem, estou indo.
Dei-lhes as costas e segui para o elevador ignorando as reclamações do insuportável.
Às 15:50h já havíamos embarcado e não me pergunte como caralhos isso aconteceu, mas o maldito Choi estava conosco. Não sei como ele conseguiu me convencer, mas acabei por trazê-lo também.
Algo me dizia que eu terminaria me arrependendo muito disso, mas já era tarde.
Namjoon havia ligado várias vezes e deixado mensagens também, mas não respondi a nada. Apenas momentos antes da decolagem lhe mandei uma mensagem avisando que já estava partindo e que levava comigo dois convidados.
Esperei por uma resposta imediata com uma série de reclamações, algo como “Você ficou louco? Por que deu carona a dois alfas momentos antes de entrar no cio? Quer ser estuprado? Etc...”, mas não. Ele simplesmente não respondeu.
O silêncio dele me deixou preocupado. O que poderia ter acontecido para calar Kim Namjoon?
Olhei para o outro lado do corredor e encontrei os olhos redondos e negros de Jungkook me observando distraidamente e de repente eu já não lembrava mais do que estava pensando, só queria dar atenção a ele.
- Então, você é um cozinheiro? – falei com a intenção de puxar assunto e matar minha curiosidade.
- Chefe de cozinha. – corrigiu ele – Sou graduado em gastronomia.
- E você se graduou na Coréia mesmo?
- Não, foi no Brasil.
- Wow! Você foi bem longe para estudar, não é mesmo?
- Na verdade, quando meus pais morreram a 10 anos eu fui morar com meu tio e sua família. Ele era prático, seu trabalho era ancorar aqueles navios cargueiro enormes que transportam containers de pais para pais. Logo após o acidente dos meus pais, a empresa dele o transferiu para uma filial no Brasil. Moramos lá por 6 anos até meu tio se aposentar, então voltamos para Coréia. Consegui abrir meu próprio restaurante de comida brasileira graças aos investimentos de Leechan. – por fim apontou na direção do cara dormindo no assento da frente.
Que história ele tinha!
Eu deveria ter deixado o assunto morrer. Se soubesse que o meu interesse na vida aquele estranho causaria uma situação tão perturbadora eu não teria dito mais nada. Mas ele parecia bem a vontade apesar de tudo e eu era apenas uma pessoa curiosa.
Se ele não se importa em falar, que mal há?
Fui tão idiota por pensar assim...
- Sinto muito por seus pais. – lhe respondi.
- Não sinta. Meu pai era uma pessoa horrível, um alfista que defendia a supremacia alfa acima de tudo. Para ele apenas a raça lupus era digna de existir por sermos a evolução da espécie, o que significava que a raça humana deveria desaparecer. Por isso, tratava betas como se fossem a escória da sociedade.
Misericórdia!
Me arrependi imediatamente de ter aberto a boca, não tive coragem de perguntar mais nada. Era óbvio que eu havia tocado em um tópico sensível apenas por oferecer minha empatia pelo falecimento de seus pais.
Mas a verdade é que vivemos esbarrando nas feridas alheias todos os dias e quase 100% das pessoas não se importa com isso. Ninguém age com responsabilidade emocional e pelo menos tenta evitar ativar os gatilhos de alguém. Todos nós, incluindo eu mesmo naquele momento, entramos na vida das pessoas, bagunçamos tudo e vamos embora sem olhar o estrago que fizemos.
Por vezes, aquele pequeno descuido nosso era a última gota que faltava para fazer um copo cheio transbordar. Eu, ainda que totalmente sem querer, esbarrei em uma ferida dolorosa de Jungkook, bati em uma represa de emoções que já estava prestes a se romper. Penso que ali já era impossível para ele frear suas palavras.
- Os Jeons são uma família de alfas puros de longa linhagem. Meus pais eram alfas, meus avós de ambos os lados também, os pais deles e daí por diante. – disse ele perdido em pensamentos – Não havia respeito nem mesmo por ômegas. Para o meu pai, ômegas eram objetos que serviam apenas para satisfazer seus desejos sexuais. Ele frequentava com regularidade as boates do subúrbio de Seul onde ômegas sem família se prostituíam para viver.
Um nó estava se formando em minha garganta conforme ele falava, cada vez mais absorto em suas lembranças. A expressão suave que antes estampava seu rosto infantil aos poucos se retorcia em uma careta que eu não sabia dizer se era sinal de nojo, dor ou os dois.
- Eu sei disso, porque no meu 14° aniversário ele me levou a um desses lugar e me entregou a uma das ômegas que trabalhavam lá. Ele queria que eu tivesse minha primeira experiência sexual imediatamente após entrar na puberdade e com alguém que pudesse me ensinar sei lá o que ele achava que um garoto de 14 anos precisava saber. Fiquei desesperado, com medo, com vergonha. Quando fomos para o quarto, eu simplesmente não conseguia parar de chorar.
Jungkook parou de falar por um instante. Esfregou as mãos suadas em seus jeans depois as passou entre os cabelos antes de continuar.
- A ômega era jovem, bonita, cheirava tão bem, mas ainda assim eu não queria toca-la. Naquela época, eu me sentia apenas uma criança, entende? Ainda não era o momento, eu não estava preparado, sequer conhecia minhas preferências. Hoje sei que fêmeas não me atraem, eu gosto de ômegas machos.
Notei que em suas palavras, o alfa tentava desesperadamente justificar sua atitude na época, como se ainda precisasse provar algo a alguém. Ele era alguém sensível com muita dor em seu passado com a qual lidar e apesar disso, não se tornou um merda como seu pai.
- O que aconteceu? – senti a lágrima quente rolar por minha bochecha e cair pesada em minhas mãos cruzadas sobre o colo.
- Ela disse que meu pai estava fora de si e me ajudou a sair daquela situação. Mas para isso, ela precisou se excitar e espalhar em mim seus feromônios para que meu pai realmente acreditasse que fizemos sexo.
De repente ele começou a ofegar, suas mãos estavam visivelmente trêmulas e seu rosto se contorceu quando o choro veio. Era óbvio que ele estava revivendo aquele momento. Quanta pressão havia sobre seus ombros para que ele desmoronasse daquela forma?
Meu Deus, o que está acontecendo? O que eu faço? O que eu faço?
- O cheiro era insuportável, senti náuseas o tempo inteiro no caminho de volta. Era uma mistura do cheiro em mim com o cheiro que estava no meu pai. Ele com certeza esteve com alguém naquela noite. Senti tanto nojo daquele homem. Quando chegamos em casa, corri para o banheiro e...
Sem nenhum aviso, Jungkook levantou-se e correu para a parte de trás da aeronave, em direção ao banheiro, comigo logo atrás dele. O alfa abriu a porta com violência e jogou-se de joelhos diante do vaso, quase não conseguindo abrir a tampa antes de vomitar.
Me abaixei ao lado dele e acariciei suas costas até que parasse com os espasmos. A comissária de bordo apareceu na porta do banheiro um pouco assustada ao ver a cena.
- Sr. Kim, o que houve? Ele está bem? Deveríamos prestar-lhe primeiros socorros? – perguntou ela de olhos arregalados.
- Não foi nada, senhorita. Não se preocupe, algo não lhe caiu bem no almoço e a altitude não está ajudando. – lhe respondi calmamente. Jungkook estava pálido, suando frio, os cabelos negros grudados na testa e ainda ofegava um pouco. Deixei que ele sentasse com as coisas no meu peito e apoiei sua cabeça no meu ombro para que respirasse melhor.
- Ele parece tonto, trarei água e um remédio para enjoo. – acrescentou a comissária.
- Não precisa, – retrucou ele, sua voz fraca e entrecortada. – eu... já me sinto... melhor. Não se preocupem.
- Não dê ouvidos a ele, senhorita. Traga a água bem gelada, o remédio e uma toalha por favor. - respondi a ela ignorando o alfa que se debatia em meu colo tentando inutilmente se levantar.
- Sr. Jeon por favor, fique parado e tente controlar sua respiração. Você estar tendo um ataque de ansiedade e precisa se acalmar antes que desmaie. – pedi a ele enquanto tentava evitar que entrasse em colapso.
- Como sabe... como sabe o que eu tenho?
- Meu irmão mais novo costumava ter crises de ansiedade terríveis no meio da noite quando era adolescente. – fiz uma pausa enquanto lembrava de como Yoongi passava mal naquela época. – Ele sofre de estresse pós-traumático devido a fatos que aconteceram na infância. Eu sempre cuidava dele quando isso acontecia, até que ele aceitou fazer o tratamento com a irmã de um amigo que é Psicoterapeuta. Você tem essas crises com frequência?
- Ultimamente sim.
- Acho que você está sob muita pressão, talvez pelo casamento. Percebi que você se sente completamente responsável por salvar seu ômega, mas quem salvará você, Sr. Jeon?
- Eu sou um alfa, Sr. Kim. É minha responsabilidade ser sempre o mais forte.
Mas que porra esse cara está dizendo? Ninguém pode ser forte 100% do tempo, todos precisam se apoiar em alguém. Qual é?
E por um instante pensei novamente na discussão que tive com Namjoon mais cedo naquele dia.
Se acredito que um alfa pode ser vulnerável de vez em quando, por que nunca admiti que um ômega pode ser forte por si mesmo sem depender de seu alfa pra tudo?
A comissária retornou trazendo consigo uma bandeja com tudo que pedi.
- Aqui está senhor. Precisa de mais alguma coisa?
- Não, senhorita. Eu agradeço, pode ir.
- Se precisar de mim não hesite em me chamar. – disse ela deixando a bandeja no chão ao meu lado antes de se retirar.
Dei a ele o comprimento e o fiz beber quase toda a água da garrafa para lavar o ácido da garganta. Com o que restou, molhei a toalha macia e pus em sua testa para que aliviasse o desconforto.
- Você é bom nisso, Sr. Kim. Aposto que será um bom pai. – disse ele de repente e aquele comentário me deu arrepios – Você já tem filhotes?
- Não. Meu companheiro e eu pretendíamos tê- lo no meu próximo cio, mas nos desentendemos exatamente por causa disso.
- E por que?
Fiquei calado. Na verdade, acho que me deixei levar pela franqueza da nossa conversa e acabei falando algo que não deveria, e fiquei sem saber como responder.
- Você não quer ter filhotes, não é? – afirmou ele, não foi uma pergunta.
- Não. Eu não sinto que esse seja o momento, ainda não estou pronto para ter um bebê. – respondi meio contra gosto e grato por ele estar de costas pra mim, não queria olha-lo nos olhos.
No entrando, como sou um cara bastante sortudo, Jungkook levantou do meu colo e sentou de frente pra mim.
Que ótimo momento para se sentir melhor! Só que não...
- Você deve me achar um covarde, não é? – disse a ele desviando meu olhar para qualquer coisa, menos os olhos dele – Afinal, eu sou um ômega, certo? Deveria ser meu instinto natural desejar filhotes acima de tudo, mas na verdade, o que eu mais quero é focar na minha carreira.
- Ei, que conversar é essa de ‘afinal, eu sou um ômega’? Somos mais instintivos que os betas, mas ainda somos pessoas racionais com desejos e aspirações. Não tem nada de errado em não querer ter filhotes. – ele alcançou minhas mãos e as apertou com força – Você tem todo direito de decidir por si mesmo o que fazer de seu corpo e sua vida, e o seu companheiro tem a obrigação de apoia-lo.
Não pude conter meu impulso, avancei sobre ele para um abraço onde encontrei o conforto que gostaria de ter encontrado nos braços do meu marido. Foi uma atitude imprudente, eu sei. Agarrar um alfa desconhecido no chão de um banheiro minúsculo dentro de um avião a sabe Deus quantos pés de altura...
Caralho, eu só queria que alguém me ouvisse!
- Sinto muito por isso! Eu não sei o que me deu, me perdoe. – disse a ele ao libera-lo do meu aperto. Sequei minhas lágrimas com as costas das mãos e respirei fundo algumas vezes em buscar de ar e um pouco da minha dignidade perdida depois daquele pequeno surto.
- Você está envergonhado? É sério? – me respondeu abrindo um sorriso divertido, desparecendo com todo sofrimento que a um instante o assombrava. – Depois de todas as coisas que eu disse sem nenhuma razão e de ter dado esse show na sua frente, você é quem está envergonhado?
Não pude deixar de sorrir também. Ele tinha um rosto realmente bonito, suas expressões era suaves e despreocupadas. E tinha aquele sorriso que lembra um pequeno coelho fofinho.
- Vejo que você já está melhor, então venha, vamos nos levar. Você precisa jogar uma água na cara, depois vamos comer alguma coisa e descansar, ok Sr. Jeon?
- Me chame de Jungkook, por favor. Acho que depois do que aconteceu, já somos um pouco próximos, você conhece meu segredo.
- E você conhece o meu. Ok então, Jungkook, me chame de Taehyung já que agora somos amigo? – respondi a ele com meu melhor sorriso.
- Acho que sim.
De repente, eu estava completamente feliz.

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Olá, pessoas que gostaram dessa história! Esse capítulo ficou enorme, porque haviam muitas informações importantes a serem acrescentadas e eu não quis estragar o clima. Também foi bem difícil terminá-lo, já que ele era grande não poderia ficar cansativo. Desculpem pela demora e espero que tenham aproveitado. Não se esqueçam de dar suporte curtindo e comentando o capítulo. Vejo vocês em breve.

48 HORAS ANTES DA LUA CHEIA (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora