As caixas do estoque se desequilibram como um baralho de cartas, caindo todas de uma vez. E ele acorda.
Não é um acordar confortável - assim como não foi o dormir – porque seu pescoço dói e a saliva deixa uma marca incômoda sobre o balcão do caixa. Ele esfrega os olhos com o máximo de força que consegue, o que não é muito, e busca pela máquina de café expresso pela terceira e última vez na madrugada, porque esse é o limite de café grátis que o dono da maldita loja de conveniência oferece aos subordinados.
O relógio atrás do garoto marca uma da manhã, então só precisa aguentar por mais uma hora antes de poder ir para casa e encontrar com seu colega de apartamento, o qual ele aprendeu a amar assim como todo mundo aprende a amar pessoas que convivem por tanto tempo assim, dormindo com os anjos. Algumas vezes é bem frustrante saber que a última vez que Felix teve uma noite completa de sono foi antes do Ensino Médio.
O sino sobre a porta ecoa, arrancando o restinho da sonolência que o amortecia e direciona um sorriso sem dentes para o cliente, quase agraciado com a completa exaustão que vê nos olhos dele.
É tão reconfortante saber que existem mais pessoa no mundo apanhando tanto quanto ele.
- Vocês têm café instantâneo? - sua voz combina perfeitamente com o rosto. Morta.
- No segundo setor nós vendemos em cápsula e em pó - aponta para a estante que foi obrigado a chamar de setor depois de Jisung o treinar com tanto afinco e em seguida aponta para suas próprias costas – Mas também temos máquina de expresso aqui.
- É bom?
- Bem, é mais caro do que o instantâneo, então meu espírito de vendedor me obriga a dizer que sim, é muito melhor.
O garoto quase sorri – Felix pode sentir o quanto ele queria sorrir, mas seus músculos faciais parecem exaustos demais para completar a ação - e então paga pelo pó instantâneo e por um copo do expresso da máquina. O loiro chega a se sentir um pouquinho mal por obrigá-lo a tomar algo desse tipo só pela gorjeta, mas o sentimento vai embora tão rápido quanto apareceu.
E uma hora depois seu turno acaba, trocando pela novata – quem carregava esse título até semana passada era ele – que ainda tem um sorriso empolgadinho no rosto apesar de ficar presa ali pelas próximas seis horas.
O caminho de volta pra casa é exaustivo. O metrô lotado, a avenida em que parece esperar horas até que o deixem atravessar, a aparência nojenta do apartamento barato que divide com Hyunjin.
Se o inferno realmente existe não tem como ser pior do que a periferia de Seul.
O corredor mistura os cheiros das histórias de seus vizinhos. O xixi de gato que se impregna nas paredes próxima ao quarto 415 trazem uma careta ao seu rosto, o óleo quente vindo da porta do 430 faz sua barriga roncar e os perfumes misturados em frente ao seu próprio apartamento indica que Hyunjin voltou mais cedo da sua festa hoje.
Ele expressa sua gratidão com um suspiro, rodando a chave na fechadura barulhenta e dando graças a Deus assim que o cheiro de café recém passado e arroz novo invadem suas narinas.
Felix está em casa.
- Cheguei – cumprimenta alto, pulando em um pé só conforme tenta tirar o tênis surrado e largando a mochila próxima à sapateira - Você fez janta!
Mas Hyunjin não o responde. O garoto olha ao redor, estranhando. A jaqueta de couro do colega de apartamento está pendurada atrás da porta da entrada – provavelmente de onde vinha o perfume adocicado – as luzes da cozinha, do banheiro e dos quartos estão acesas e um zumbido baixinho vem da televisão antiga da sala, a única fonte de iluminação no cômodo.
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pandemic.
Hayran Kurguna qual chan é um universitário com um péssimo relógio biológico e felix o aspirante a cozinheiro que trabalha durante as madrugadas naquela lojinha de conveniência na esquina. e, talvez, a história deles pudesse ser muito mais do que isso, mas quem...