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Ele não gostava muito do Inverno.

Ultimamente, Chan não vinha gostando muito de nada, pra ser honesto.

Não gostava de como seus pais sempre se evitavam toda vez que o convidavam para jantar na casa da família, como se nem dormissem mais na mesma cama. Não gostava de como suas músicas de repente se tornaram um ritmo chiclete de um pop batido que ninguém mais aguentava ouvir. Não gostava de fazer quase dois meses que não podia sair com os amigos sem que a culpa o queimasse por inteiro.

E, definitivamente, não gostava de como as aulas de sua faculdade tinham recomeçado, de maneira remota, há uma semana.

Como em um passe de mágica, a estamina de Christopher se esgotou. Direito era exaustivo, irritante, insuportável.

Seus pais o pressionavam a cada encontro marcado – na maioria das vezes com o horário metodicamente calculado para que chegassem com quinze minutos de atraso – perguntando suas notas, seus estágios, seus planos de TCC. E em qual das duas advocacias ele trabalharia quando, em dois anos, finalmente se formasse.

O garoto não respondia a nenhuma dessas perguntas com exatidão, porque no fundo (nem tão fundo assim, entretanto) nem tinha certeza se queria um dia se formar.

Era no meio dessa bagunça de desgostos e guerrinhas internas que seu apartamento se encontrava fedendo a cigarro e com embalagens de comidas prontas espalhadas pelo chão.

Chan até se arriscava dizer que, entre tudo o que não gostava da sua vida, nicotina e desordem era o que não gostava de menos.

É mais ou menos entre o terceiro e o quarto cigarro que Minho liga.

Ele observa o nome brilhando na tela do celular, a única luz em sua varanda, com uma estranheza reconfortante.

Sua proximidade com o moreno vinha aumentando no decorrer dos últimos meses. O mesmo Minho com quem competia a quantidade de shots nos bares depois das aulas ou que apostava conseguir mais garotas nas festas de república. O mesmo Minho que ele jurou nunca ser mais do que um colega de classe meio arrogante, agora era o único amigo quem ele respondia às chamadas.

- Você não vai ligar a porra da sua câmera?!

A voz do garoto era inexpressiva, mesmo ele sabendo que carregava uma irritação comum à maioria dos outros alunos do quarto semestre de Direito.

Não, Chan não ligaria sua câmera. E nenhum dos professores ousava dizer qualquer coisa, porque sabiam que Bang era tudo o que ele precisava para sair daquele maldito curso já com toda a vida profissional encaminhada.

E também era o que fazia com que todos os outros alunos o odiassem um pouquinho mais do que o necessário, independente de suas falhas ou não.

- Faz alguma diferença?

- Você é tão insuportável.

- É meu charme.

O riso do moreno é sarcástico. Na verdade, muitas coisas sobre Minho costumavam ser sarcásticas.

Talvez esse fosse o seu charme.

- Sua câmera nem tá mostrando seu rosto – o australiano zomba, espiando o notebook atrás de si, sobre a mesinha de centro da sala, e rindo pelo nariz ao ver o ventilador de teto do colega girando lentamente.

- Quer fazer alguma coisa hoje? - questiona, reprimindo um bocejo – Eu vi que alguns lugares voltaram a abrir.

- Nah, não quero arriscar.

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