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Lana
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Fecho a segunda mala, satisfeita por ter conseguido pegar apenas os itens necessários para a semana que eu passarei em Woodvale.

Checo a hora em meu relógio, sabendo que estou adiantada o suficiente pra tomar o café da manhã com minha mãe com calma.

Desço com a bolsa e as duas malas com a ajuda do meu pai, que parece feliz por eu estar saindo da cidade por alguns dias.

— Vocês estão loucos para se livrar de mim, não? - pergunto ao meu pai, que abre um sorriso largo.

— Isso não é verdade querida. Queremos que você saia da sua bolha. Precisa conhecer novos ares e novas pessoas. - ele explica.

Reviro meus olhos com a menção sobre o assunto.

— Não quero conhecer novas pessoas. Estou contente em só trabalhar e pagar as contas. - reclamo, sendo levada para a cozinha como se eu fosse uma criança.

— Filha, não acha que está se isolando demais? - questiona o homem ao meu lado, preocupado.

Assim que entramos no cômodo, minha mãe sorri enquanto indica as panquecas na mesa.

Me acomodo, sabendo o sermão que vira pela frente sobre eu me enturmar. Os dois estão preocupados desde que terminei com Douglas, achando que aquele idiota é a causa da minha falta de vontade em socializar.

Mas não é.
Parei de sair com meus amigos quando soube que eles não eram amigos.

Prefiro a minha companhia do que a de pessoas que não valorizam minha amizade, ou o meu amor. Seja o que for, só me sobrou Brenda e Jeff, que vão se casar daqui alguns dias.

— Estava falando para a nossa filha que ela precisa se abrir mais para as novas oportunidades. - meu pai comenta, se acomodando ao meu lado.

Dona Amélia balança a cabeça, concordando com ele.

— Seu pai tem razão, querida. Conhecer coisas e pessoas novas pode ser benéfico. - insiste e eu só assinto.

Discutir esse assunto está fora de cogitação, pois os conheço bem e não quero decepciona-los. Eles não entendem como me sinto, e nem do porque prefiro me manter na minha.
Me concentro nas panquecas enquanto os escuto me falando sobre tudo o que eu deveria fazer em Woodvale.

A despedida no aeroporto é calorosa.
Nunca senti vergonha das demonstrações de carinho dos meus pais, nem quando deixei de ser uma adolescente problema e me tornei uma mulher madura.

Valorizo meus pais e tenho muita gratidão por fazer parte de uma família funcional.

Assim que me acomodo no avião, penso sobre a preocupação deles sobre meu comportamento nos últimos meses.

Eles estão certos, claro, eu não deveria ter me isolado tanto, no entanto, não me sinto pronta para recomeçar o ciclo de conhecer pessoas e me decepcionar com elas.

Aprendi a respeitar meu tempo e assim será.

[…]

Woodvale é uma cidade praiana bem pequena, com cerca de seis mil habitantes no Interior da Califórnia. Lembro de ter vindo aqui quando era adolescente com Brenda e ter me apaixonado pelas praias paradisíacas e o silêncio do lugar pacato.

Eu era uma das poucas adolescentes da escola que apreciava mais a paz do que o barulho das festas nada saudáveis.

Estar aqui depois de tantos anos me trás lembranças agradáveis de uma época que eu desconhecia a magnitude da crueldade humana.
Não voltaria no tempo, pois não me arrependo do caminho que segui, muito menos das surras que levei, porque aprendi muito sobre a vida, vivendo.

Summertime Sadness|Conto CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora