Capítulo 3

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A música trazia um misto de sentimento para Anahi; alegria, emoção, remorso, tristeza. O que antes era sua melhor parte, tornou-se seu pior pesadelo. Levou muito tempo para que ela conseguisse ao menos ouvir uma canção. Seu nível de tristeza pela perda chegou a um ponto tão extremo que a fazia se sentir culpada, se sentia a pior das criaturas por estar, de alguma forma se divertindo, ao ouvir uma música, ainda estando em luto, em sua mente era uma insulta a memória de Ana.

Foram dias horríveis, até crises de rebeldia ela sofreu, objetos se tornaram vítimas voando pela casa e se tornando em pedaços ao se chocar em alguma parede.

Mas em suas visitas ao consultório da Dra. Angelica, aprendeu que deveria se concentrar em algo totalmente diferente do que ela já havia feito um dia, algo que a faria canalizar toda sua atenção e a ajudaria amenizar toda dor e tudo que ela proporcionara. Foi então que Anahi decidiu mergulhar de cabeça no mundo de Ana, no mundo de Direitos e Leis.

No início, tanto Marichelo quanto Henrique ficaram inseguros, tinham medo e ser uma péssima ideia ou apenas uma maneira estranha dela sentir Ana por perto. Era dia e noite agarrada aos livros da irmã se dedicando, pesquisando, se alimentando mal. Enfim quando decidiram ter uma conversa séria com ela a respeito dessa situação que estava se tornando fanatismo, foram pegos de surpresa por um som que a muito não ouviam. O som da risada de Anahi. Correram até sem quarto sem saber ao certo o que estava acontecendo e realmente ela sorria, ou melhor, tentava sorrir, não era bem um sorriso de felicidade, porque os olhos não transmitiam nenhuma alegria, era mais um sorriso de alívio e puderam entender que ela havia conseguido o que tanto almejava desde sua decisão por Direito, havia passado no vestibular e foi aceita na Fox Bittencourt, a mesma faculdade que Ana iria cursar. A partir dali, o medo e a apreensão deles deu lugar ao orgulho por ela ter conseguido e de um forma meio diferente, conseguira vencer a depressão.

Henrique: Desculpa Annie, não foi minha intenção deixa-la assim, triste... Eu só... - foi interrompido.

Anahi: Não precisa se desculpar pai, eu sempre vou me lembrar da Ana e isso vai me proporcionar a dor de não tê-la mais aqui comigo.

Henrique: Ela ficaria muito orgulhosa de você filha, seguindo os passos dela.

Anahi: É pai, eu sei que ela ficaria.

Henrique: Você não imagina a felicidade que me dá por estar indo cursar direito. Mas também sinto falta de sua alegria, de quando cantava.

Anahi: Se eu quero ser uma boa advogada tenho que focar pai, tenho que deixar de lado tudo o que não acrescenta para essa área. Cantar é só uma brincadeira.

Annie falava tudo aquilo, tentando passar o máximo de confiança possível para seu pai. Mas em seu coração, ela mesma não acreditava em nenhuma palavra. Ela sempre foi uma garota que pensava mais nos outros do que na sua própria felicidade.

Assim, enquanto conversavam, chegaram no aeroporto e Sr Henrique já estava estacionando o carro. Assim que conseguiu uma vaga e estacionou, olhou para Annie e percebeu que seus pensamentos estavam muito distantes e nem notara que já estavam parados.

Henrique: Annie? Chegamos minha filha.

Anahi: Ham? - disse assustada - Já pai? - começou mexer na bolsa que estava em seu colo, como se quisesse disfarçar que estava agindo normalmente para seu pai não notar sua distração. Não demorou muito para sentir a mão de Sr Henrique pousando sobre a sua. O que a fez olhar para ele.

Henrique: Annie está tudo bem?

Anahi: Claro pai, porque?

Henrique: Estou sentindo você um pouco distraída, nervosa. Está acontecendo alguma coisa?

Anahi: Na... Não pai - gaguejou ao responder e logo pensou em uma desculpa - deve ser tensão pré vôo.

Não tinha muito de mentira nisso. Realmente depois do acidente da Ana era inevitável não ter um pouco de pânico ao viajar de avião. Annie até precisou de umas visitas a psicóloga durante 1 ano antes de embarcar em um novamente.

Henrique: Se quiser eu e sua mãe a acompanhamos meu amor.

Anahi: Não precisa pai, eu consigo encarar isso.

Henrique: Certeza? - dava para perceber a preocupação nos seus olhos.

Anahi: Absoluta - outra vez disse tentando ser convincente. Respirou fundo e enfim saiu do carro indo fazer seu check-in enquanto seu pai tirava as malas do carro.

A Música Une CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora