Capítulo 5

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Então a aeromoça começou todo aquele ritual de instruções.

- Senhores passageiros, coloquem os cintos; o avião já vai decolar. Em caso de problemas técnicos, temos duas saídas de emergência na segmento frente, duas na troço traseira e uma à sua direita. No caso de falta de ar, máscaras de oxigênio desabarão acerca vossas cabeças. Caso precisem de alguma coisa, basta invocar e nossos comissários de bordo lhes atenderão. Tenho uma boa viagem.

Nessa hora Annie já apertava o livro contra o peito, olhando para cima, respirando lentamente, tentando se acalmar. Lembrava-se de tudo que sua psicóloga lhe dissera durante todas as consultas. Desde o início que seu estado era mais crítico.

Quem passa por um trauma geralmente lembra com frequência do que aconteceu e sofre com isso. Ou, ao contrário, evita a todo custo falar ou reviver o acontecimento. Também pode desenvolver o que os especialistas chamam de hipervigilância, quando a vítima se mantém alerta a todo o momento.

Mas foi tirada desse estado de concentração com uma mãe pousando em seu ombro. Como por impulso deu um pulo e olhou para o lado. Por um momento já havia se esquecido de quem estava ali. Ela se deparou com um sorriso que a deixou paralisada e foi levada a outro plano que com toda certeza não era dentro de um avião. Que sorriso era aquele? Em questão de segundos já estava hipnotizada. Era humilde e simples, mas ao mesmo tempo complexo e profundo.

Havia se passado muito tempo desde a última vez que Anahi havia se relacionado com algum garoto. Era inevitável ela não receber elogios a todo o momento. Quando vivia cercada de colegas, a maioria vivia arranjando algum “gatinho” e tentando serem cúpidas. Mas particularmente ela não ligava muito pra isso. Claro que havia ficado com alguns apenas por diversão de momento e porque os achavam “bonitinhos”, mas nunca foi um número imenso de garotos que dê pra colocar numa lista.

Mas aquela beleza em sua frente era algo que ela nunca tinha visto. Os olhos eram verdes, mas não tão comum, transmitia uma tranquilidade inacreditável e ela não conseguia piscar os olhos.

Xxx: Ei? Ei? Psiu... - disse o atrasadinho passando a mão em frente aos olhos de Annie - Está ai? Terra chamando Marte - e estalou os dedos.

Annie voltou a órbita e respondeu.

Anahi: Oi? Quem? Quando? Onde?

Xxx: Você está bem? Estava te observando e me pareceu que estava num tipo de pânico pré vôo.

Anahi: Vôo? Oh meu Deus, estou num avião?

Xxx: Aaaammm tudo indica que sim... você não sabia disso?

Anahi: Não não, quer dizer sim sim, óbvio que eu sei que estou num avião, apenas me esqueci por um momento - disse se ajeitando na sua poltrona e voltando respirar fundo.

Xxx: Você tem medo de voar? 

Anahi: É uma história longa.

Nesse momento começou uma pequena turbulência e sem perceber ela levou a mão ao braço do seu companheiro de vôo. Percebendo o que fez logo se desculpou.

Anahi: Me desculpa me desculpa - e tirou a mão bem rápido, voltando segurar seu livro.

O atrasadinho começou mexer na sua bolsa e tirou algo e estendeu para Annie.

Xxx: Toma, isso pode te ajudar um pouco e não precisa se desculpar.

Anahi: Chocolate? Como que isso pode me ajudar? - disse pegando o chocolate, afinal amava chocolate.

Xxx: Não sei como pode ajudar, mas aprendi que chocolate ajuda assistindo Harry Potter, não entendi muito bem como, mas... a intenção é que vale - disse sorrindo novamente.

Annie nunca vira um sorriso como aquele, algo que mexia com ela, algo diferente.

Anahi: Hmm Harry Potter? Legal, bem interessante - disse sorrindo e comendo um pedacinho do chocolate.

Minutos depois já estava tranquila e o pânico havia diminuído.

Xxx: A propósito - estendeu a mão - Sou Alfonso, mas prefiro que me chamem de Poncho.

Anahi: Prazer, me chamo Anahi, mas todos me chamam de Annie.

A Música Une CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora