Capítulo 4 Sobre meninas e lobas

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Notas do Autor

Fiquem a vontade para comentar, me chamar no Twitter (@mahoumeko); (@osagradoprofano). Enfim, já fico feliz com a sua leitura. Mas se puder, me dê um feedback, é sempre oportuno e bem vindo para melhorias!  Sem mais delongas: A TIA TAVA MORRENDO DE SAUDADE DE VOCÊS! Bon appetit!


* eventuais erros serão saneados posteriormente



Capítulo 4 Sobre meninas e lobas


Qual o sentido da vida? Tudo o que as pessoas faziam era lapidar-se gradativamente, para que, no desfecho da grande obra, se logrado êxito, tornassem num mero legado.

Joy e Wendy já haviam entrado, ela porém preferira ficar um pouco fora para fumar uma última vez antes de adentrar o prédio, onde era expressamente proibido cigarro.

O vento frio cortava sua pele impiedosamente, semicerrou os olhos ao abalroá-lo, todavia, Seulgi parecia não se importar muito com a dor; viesse o vento que viesse não lutaria mais contra a maré da vida. Gotas vermelho-púrpura pintavam seus pálidos lábios. A ferida semiaberta parecia se esforçar em estancar a hemorragia.

Levou outro cigarro a boca, sua mão ávida agarrou o isqueiro no bolso interno do sobretudo, acendendo-o cuidadosamente contra a direção cujo vento soprava.

Tragou calorosamente aquecendo a alma.

Não queria tornar-se um legado. Legado não se passava de uma Elegia. Uma ufania. Trabalhar no campo das ideias era coisa pra filósofo, e metade das pessoas que conhecia não tinha sensibilidade pra reconhecer isso.

Moveu-se um pouco para observar a fila que ficava no hall de entrada. Vagava por entre a multidão, sem alma, multiplicando multidões de pensamentos tortos.

A melodia enérgica a atraía despretensiosamente para mais perto. Pressionou a bituca do cigarro numa parede qualquer, mecanicamente, e, batendo o coturno com certa ansiedade, deixou cair os vestígios de uma nevasca impetuosa.

O lugar tinha uma iluminação baixa que variava de um amarelo tímido a um vermelho sedutor. Sentia-se miúda e insignificante em meio a tantas cabeças. Refletiu discretamente se o responsável pela euforia das pessoas era o álcool ou as companhias. No fim, achou por bem que não lhe competia imputar juízo de valor a ninguém.

A música alta batia forte em seus ouvidos. A batida intensa do grave da pick-up fazia os corpos tremerem na pista; as mãos erguidas para o alto, cabelos esvoaçados, suor, cheiro de feromônio. Seulgi bebericava um copo de uísque num cantinho observando a festa de maneira contida.

Joy houvera combinado com todos os amigos mais próximos de se encontrarem num badalado clube da cidade. Apesar da relutância de alguns, acabou que ficou certo com os demais o horário e local. Mesmo com imprevistos, todos os que confirmaram de fato foram.

Já fazia considerável tempo que estavam no clube entre parlatório técnico e conversa fiada, afinal, Seul nunca dorme, e a noite é uma criança. Seulgi se sentia um pouco deslocada em meio há tantos cérebros perspicazes.

Numa rápida busca pelo terreno encontrou numa cadeira do bar, a margem do palco, um lugar perfeito para aproveitar a noite adequadamente. Despojou-se do cachecol, do gorro e vestiu a clássica cadeira romântica inglesa com seu grosso sobretudo.




O vento quente primaveril batia em seu rosto. Debaixo dos seus pés jazia um oceano de folhas amarelas e avermelhadas. Era final de tarde. Os pássaros voavam em bando cortando o céu alaranjado, a emitir chilreados agradáveis. A brisa amena preenchia o mosaico complexo de mensagens icônicas e sonoras.

Entre o sagrado e o profano (SEULRENE)Onde histórias criam vida. Descubra agora