Capítulo 6

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Já tinha se passado os dez minutos, mas eles não viram, eu sabia que eles não viriam, mas pelo menos não podem me acusar de não tentar consertar as coisas, e também, não posso culpá-los por não virem.
Olhei as horas no celular pela última vez e levantei do sofá sentindo uma leve pontada na cabeça. 
— Cara, você está bem? — A voz do Reggie ecoou pela garagem. 

Eles viram, não acredito que eles viram!

— Eu estou ótimo.
— Isso aqui tá muito diferente. — Alex disse surpreso olhando em volta.
— Tá né. Eu adorei quando vi. — Reggie respondeu andando pela garagem.
— Como assim "quando vi"? — Bobby perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Eu vim aqui ontem. — Ele sorriu.
— Veio? — Perguntei colocando meu celular no sofá e sentei de novo. Já que eles vieram, não vamos embora agora.
— Sim, depois que vocês foram embora, a Julie e eu conversamos um pouco e ela me chamou pra almoçar com a família dela, e cara, ela é muito legal! Essa casa é dela.
— Ela deve se sentir muito sozinha pra convidar um desconhecido pra almoçar em casa. — Disse com tom de deboche involuntário, e eles me olharam com reprovação.
— As pessoas têm empatia, Lucas, diferente de você! — Todos nós olhamos para a porta, e lá estava ela, parada me encarando com um olhar...triste?
— Eu tenho empatia!
— Ah, tem? Então por que você trata seus amigos como lixo? — Perguntou cruzando os braços. — Por que tudo que eu ouvi sobre você, é que você só humilha as pessoas? E por que todos estão de boa uns com os outros, menos com você?! Você sequer sabe o significado da palavra empatia!
— Não ouse falar como se soubesse quem eu sou! — Levantei irritado me aproximando dela, ignorando a tontura que senti com o movimento. — Você não me conhece! — O Alex entrou na minha frente ficando entre a Julie e eu.
— Opa, acho melhor a gente ir embora, né, Luke. — Ele disse me empurrando um pouco.
— Vocês não precisam ir, podem ficar, esse lugar é importante pra vocês tanto quanto é pra mim, mas eu não quero esse garoto aqui!
— Você é patética se pensa que eu me importo! O estúdio da sua mãe é quase tão ridículo quanto você! — Exclamei irritado.
— Cara, a mãe dela morreu. — Reggie sussurrou pra mim, e a Julie me olhou como se pudesse me fulminar com os olhos.
— Olha para a minha cara de quem se importa!
Eu tenho quase certeza que ela viria pra cima de mim se o Bobby não a segurasse.
— Você é mais desprezível do que eu imaginei que seria. Eu tenho nojo de você! Vai embora daqui e se colocar suas patas aqui de novo, você tá muito ferrado!
— E você vai fazer o que? Me matar? — Sorri irônico. — Você me cansa garota! Vamos embora.
— Foi mal, Luke, mas eu vou ficar! — Reggie disse.
— O que? — Perguntei perplexo.
— Você foi longe demais dessa vez. Eu tolero quando você me chama de cachorro ou fala que eu não penso, mas dessa vez você foi exatamente aquela pessoa desprezível que você não queria ser. — Completou com um tom de voz sério.
— Ah, quer dizer que de repente o Reggie começou a pensar? — Ironizei. — E vocês?
— Eu concordo com o Reggie. Esse Luke que você se tornou não é o Luke que era o nosso amigo! — Alex respondeu.
— Bobby? — Me virei para ele.
— Quando o antigo Luke voltar, ele pode nos procurar. Até lá, prefiro distância! 
— Tanto faz! — Dei de ombro. — Ah, pra não falarem que sou ingrato, valeu por ficar esperando notícias.
— Deveria agradecer a Julie e o Bobby, porque se não fossem eles te levarem para a enfermaria, você teria morrido lá no banheiro. — Reggie enfatizou, talvez pra eu me sentir culpado, o que não funcionou.
— Que seja, o mundo teria menos uma pessoa desprezível! — Sorri de lado saindo da garagem.
Montei na minha bike e comecei a pedalar para longe dali, sem saber com certeza pra onde eu iria, mas tinha uma breve ideia.
Longos minutos pedalando, me levaram ao meu lugar favorito para pensar.
Desde criança, eu sempre vinha aqui quando as coisas estavam "difíceis demais" pra mim, a verdade é que, eu estava em casa, mas não me sentia em casa. 
— Que diabos eu to fazendo?!
Perguntei pra mim mesmo, olhando a vista da cidade, que de dia, era totalmente diferente de quando eu vinha de noite.
Eu queria de verdade entender que porra eu to me tornando. Eu estava sendo literalmente tudo que eu sempre detestei. Como diria o Alex, eu me perdi no meu próprio personagem, eu não era essa pessoa horrível, mas agora eu não sei como sair disso.
Na ânsia de acertar sempre, eu acabei me acostumando com o erro, e continuo nele porque até agora ninguém teve coragem de dizer na minha cara o que aquela garota idiota disse. Ah como eu odeio essa menina. Além de me causar uma enorme dor de cabeça, literalmente, roubou os meus melhores amigos, minha garagem, e a pouca vontade que eu tinha de estar nesta cidade de novo.
— Eu sei que eu não sou de falar contigo e nem acredito em você, mas dizem que você não nega um pedido de ajuda sincero... — Falei olhando para o céu. Mas que porra… — Que idiotice... Você nem existe de verdade! — Revirei os olhos. 
Até parece que uma entidade do além, seria a solução para os meus problemas. Nunca me ajudou em porra nenhuma, por que ajudaria agora?! 

Ps: I NEED U. •JUKE• DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora