DANE-SE O RELATÓRIO...

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Aqui não é o puto do senhor Strauss. Aquele velho desgraçado, fingindo que os acontecimentos são inexistentes... Tudo... Tudo... Depois do que eu acabei de receber pelo correio, o rumo dos experimentos do asilo é mudado... Me entregaram um pacote. Haviam duas coisas dentro, uma carta e uma fita de vídeo... A carta tinha os seguintes dizeres:

"O lugar? Tanto faz... A data? Digamos que foi esquecida...

Dr. Edward Uther... Desde a primeira vez que o ouvi,  já odiei seu nome.

Os escritos vindos de minha pessoa podem ser deixados de lado. Compreendo o erro fatal negligenciado pelo senhor à paciente Cassie Jackson, se a memória não me falha. A pobre coitada tinha anos de vida pela frente. Os "sonhos" dela foram destroçados, todos eles, pelo senhor... Lembra dela? Acredito que sim..., mas, por precaução, lhe envio esta fita, só no caso de o senhor precisar refrescar as partes obscuras de sua "brilhante" memória, caro doutor. Se, por ventura do destino, decidir jogar a fita fora, significa que aceitou o seu fardo, assim como aceitou sua sentença. Quanto a esta última, não serei eu quem irá te punir, mas, sim, o próprio Deus... Não levemos este assunto ao pessoal de nossas vidas. Sabe muito bem que consequências, uma hora ou outra, viriam te assolar, camarada. Apresente suas condolências à "Mãe" como bom cordeiro que é. Se ela aceitar tal penitência, talvez a retribuição pela blasfêmia contra sua carne seja menos dolorosa... Realmente uma pena.

Minhas deveras condolências.

O seu 'Admirador secreto' ... ou, se preferir, o sentenciador de seus atos."

Porra, ele tinha todas as cartas lançadas contra a mesa! Cassie Jackson... Esse nome me traz péssimas lembranças. Acabei hipnotizado pelas palavras dele e decidi assistir a maldita fita de vídeo.

Ela era simples se formos considerar os padrões da época que vivemos. Tinha um selo vermelho pregado sobre a parte da frente, mas o retirei assim que vi. Essas coisas estragam o Vídeo cassete, e eu não queria perder aquele aparelho. A pior escolha foi, primeiramente, cometer os erros citados pelo meu "admirador" na carta... Depois disso, meu segundo maior erro foi pegar a fita com as minhas mãos e ter o pensamento de coloca-la pra rodar.

Coloquei ela pra tocar e me sentei no sofá de casa. No começo da filmagem, unicamente estáticas puderam ser vistas pelos meus olhos, além daquele ruído branco tão característico das televisões. Logo após isso, imagens e a voz de um só indivíduo apareceram na gravação. Eu vou transcrever os fatos que presenciei, do jeito que a fita revelou para mim... A responsabilidade de ler o restante deste relato é exclusivamente sua...

Um quarto, escuro e sombrio, rodeado por paredes de azulejos encardidos, manchados por uma espécie de lama amarronzada. O piso se assemelhava ao de um açougue bem fodido, daqueles onde as carnes apodrecidas de porcos e bois dilacerados e reclusos de qualquer pelagem sobre suas carcaças, antes pendurados em poderosos ganchos de metal, são postas para descansar, livres dos ganchos pesados e jogadas de um jeito desleixado, no chão do estabelecimento, lugar perfeito para aproveitar a "vida após a morte". Enquanto são descartados desse jeito mórbido, as entranhas dos respectivos animais citados são devidamente comidas por moscas e vermes peçonhentos, que botam ovos nos buracos deixados por suas mandíbulas pequenas e suas patas asquerosas.

A gravação foi feita por uma câmera de segurança e possuía uma fotografia esverdeada, morta e difícil de enxergar alguma coisa nítida do cenário ou do que acontecia em si. As falhas de transmissão e a baixa luminosidade daquele cubículo também contribuíam para o mal entendimento da filmagem.

No centro daquela sala, uma silhueta feminina permanecia parada, amarrada por cordas em suas mãos e pernas, vendada e amordaçada por um pano tanto em seus olhos quanto entre os seus dentes. Ela ficava virada de costas para o que parecia ser a porta do local imundo, deitada de barriga para baixo naquele chão impregnado, suja da cabeça aos pés e despida por completo... Uma criança apavorada... A câmera não captava som, mas, com certeza, aquela garota estava derramando as mais diversas lágrimas, preocupada com o que poderia acontecer ao seu corpo vulnerável. Somente de ver aquela pequena alma remoendo seu corpo em busca de alguma escapatória, já era desconforto suficiente... Já pensou estar numa situação igual a dela?

Asilo Rotten RavenOnde histórias criam vida. Descubra agora