RELATÓRIO DO PACIENTE #064 (Alex King)

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Dia 04/03/1995

Mais uma sexta feira e final de semana, sem nada de muito novo. Porém trabalhar é necessário e não dá pra ficar só pensando no amanhã, é preciso sobreviver ao hoje antes. Eu folgo nos finais de semana e toda segunda tem o relatório semanal feito pelo Dr. Frederick... Pena dele.

O paciente de hoje é o jovem Alex King, filho de Cassie King. É o mais novo do asilo, tendo só 15 anos. Entrou aqui por conta própria. Bem, mais ou menos... Depois de perceber que sua mãe o tentaria matar, devido a sua tremenda inteligência, ele fugiu de casa. Decidiu vir pra cá por considerar o lugar mais "seguro" e desordenado do país. Também queria analisar o comportamento de loucos e o que os faz terminarem suas vidas presos a estes tratamentos rotineiros. Foram as palavras ditas por ele. Daria um excelente psicólogo, ainda mais por gostar de ter pessoas degeneradas por perto. Potencial desperdiçado..., mas não sou ninguém para julgar a decisão alheia.

Alex, durante o almoço, comia pouca coisa. Depois de comer, ficava divagando e olhando todos aqueles loucos, rodeando e caminhando sem um rumo aparente. Achava aquilo uma bobagem e perda de tempo. Conversei com ele algumas vezes, de forma indireta e sem que me vissem. Mantinha a reclusão e preferia ficar isolado no seu cantinho seguro, mas dialogava bem e sabia manter uma conversa por um bom tempo. É até engraçado dizer isso.... Alex acreditava em teorias da conspiração, tais como um culto religioso devoto a uma deusa chamada de "Mãe", uma sobre o senhor Lucius (Chefe do local) ser satanista e de que a terra era plana e a NASA enganou todo nós... Essa era a melhor. O psicólogo da vez? O senhor Claude Dexter. Francês, nascido na Inglaterra, que veio ganhar a vida nesse Asilo.

Decidimos dar um cubo mágico ao garoto, para ele não ficar entediado durante o tempo livre. Nas paredes e chão da pequena sala, cálculos e formulas especificas se estendiam por todos os cantos. Ao enxergar o psicólogo, Alex logo sentou e se manteve apático (expressão que se estenderia por toda a consulta). Claude logo apresentou os testes e provas que o garoto teria de realizar.

Foi tudo muito impressionante de assistir. Questões de universidades renomadas, de concursos difíceis, pareciam brincadeira de criança para aquele molequinho de apenas 15 anos. A borracha ficou só de enfeite ao lado da mesa.... Só triscou nela de raspão e nada mais. O QI dele passava de 200 fácil, fácil. A atividade cerebral dele decolava quando respondia questão por questão nas folhas de papel. Seu fluxo sanguíneo e adrenalina subiam num nível levemente maior do que o normal. Sentia-se ansioso e pressionado quando queria alcançar a "perfeição cognitiva", um objetivo imaginário criado por ele próprio. 

Habilidades cognitivas e de raciocínio lógico e rápido sobre-humanas. Concentração impressionante e nível de dedução maior que o de muitos detetives profissionais. Lançava diálogos filosóficos sobre o bem e mal, sobre como a nossa sociedade está podre até as raízes, a desigualdade gerada por causa dos nossos governos, guerras oriundas das ridículas disputas de egos fracos de engravatados responsáveis por transmitir medo à população mundial, a criminalidade ser uma fuga mórbida de pessoas que lutam para não morrerem de fome, o fato de tantos serem taxados de loucos e terminarem num manicômio, ou asilo, e desperdiçarem seus verdadeiros potenciais.... Concordava bastante com o que dizia....O problema macro de Alex, é o fato dele ser um perfeccionista obsessivo, desejando sempre o máximo de si em qualquer situação ou competição. É um trauma recorrente. Este causado pela vagabunda de sua mãe.

Um gênio perdido no meio dos loucos... Piada de mal gosto. Se esse garoto fosse meu filho, eu teria tanto orgulho dele quanto eu tenho da minha pequena Diana. O futuro guardava tantos planos para ti, pequeno Alex. Caiu nas tentações do desespero e perdeu a inocência de ser criança. Coberto por uma aura cinza, a qual cobria, e ainda cobre, seus pensamentos ambíguos... O destino é cruel... Com exatos 20 minutos, ele terminou tudo, se despediu educadamente do psicólogo e voltou a girar os quadrados de seu cubo mágico. Resultados satisfatórios foram colhidos hoje. Alex nunca decepciona. Fim do relatório.

Atenciosamente

Dr. Strauss

Asilo Rotten RavenOnde histórias criam vida. Descubra agora