RELATÓRIO DO PACIENTE #122 (Vinny/ Sobrenome desconhecido).

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Dia 16/03/1995

Queria poder começar este relatório com um suspiro bem longo, mas isto seria desperdício de uma boa folha de papel amarelado e, mesmo se eu os posse aqui, vocês pulariam para a parte que realmente importa deste documento "sigiloso". A semana passou tão rápido assim? O trabalho deve estar consumindo todo meu tempo... Nem as cartas de minha filha eu respondi direito. Perdoe o papai pequena garotinha... Me desculpem as palavras jogadas de antes. Me senti na necessidade de descontrair um pouco do assunto principal e desviei ele para outro rumo. Pode ser uma mistura de trabalho excessivo e ansiedade de esperar o próximo mês... é quando será a consulta com o "que ri". As conversas com ele têm são as mais difíceis de se ter e são as mais difíceis de compreender... Enfim, hoje não é o relatório daquele aspirante a palhaço de circo, mas, sim, de um dos pacientes mais interessantes daqui.

O nome dele é Vinny... Na verdade, é um apelido. É um dos últimos que "acolhemos" neste recinto. Além do apelido, só temos a informação da sua idade: 21 anos. Nome completo ele não ousou falar por questões de, segundo ele, "ser uma informação desnecessária". Aceitamos isso tranquilamente depois de vermos que os dados pessoais dele eram verdadeiramente inúteis. Ele é mantido aqui por transtornos de ansiedade leves, dos quais podem evoluir para ataques agressivos possivelmente prejudiciais a ele próprio. Sofre de esquizofrenia não muito alarmante até pouco tempo atrás. Não muito alarmante porque não era tão agressiva. Porém, com o passar do tempo, apresentou certo grau de evolução e começou a preocupar os psicólogos e doutores que cuidavam, cuidam e deveria preocupar o que irão pegar ele como paciente. Além disso tudo, ele também sofre de alucinações recorrentes. Nada muito perigoso ou diferente de "cosias de crianças", podem ficar tranquilos. Por fim, déficit de atenção durante os testes e provas, principalmente as de exatas, ciências da natureza e cálculos mais avançados.

É engraçado saber o real potencial deste paciente e descrever tais características que, numa primeira vista, podem parecer alarmantes. Mesmo tendo todas essas enfermidades sobre as costas, o jovem é um dos melhores "alunos" quando o assunto é Humanas. Sempre com boas interpretações e um uso de palavras invejável até por este escritor de relatórios (se não fosse tão explosivo, eu o daria esta minha função fácil, fácil). Além disso, Vinny é o paciente que mais pega livros na biblioteca do Asilo, agindo como uma estátua quando seus globos oculares estão debruçados sobre as páginas e palavras daqueles encadernados grossos. O senhor Yuri, bibliotecário do lugar, me conta os livros escolhidos por ele durante o intervalo do almoço. A maioria deles envolvem psicologia e políticas sociais e econômicas... Um verdadeiro amante de tensões entre líderes e crises socioambientais.

O responsável do jovem foi a doutora, e psicóloga, Sra. Lênícia Mount, igualmente jovem. Como previsto, a injeção de mutagênico logo foi injetada dentro das veias de Vinny. Interessante que, depois de certas dosagens, o garoto não mostrou alterações fisiológicas explícitas como os outros. Entretanto, ao analisarmos os dados das consultas, suas capacidades cognitivas aumentaram consideravelmente após o tratamento com o mutagênico. As crises de ansiedade diminuíram de forma rápida, e o déficit de atenção foi trocado por uma concentração quase sobre-humana. Por isso ele parece uma pedra pesada quando lê os livros... Olhando mais atentamente, até os cálculos melhoraram. Nada exagerado, porém um avanço prazeroso de se ver.... Quem dera se tudo fosse flores. Os surtos de esquizofrenia se intensificaram, e as alucinações, que antes eram como "amigos imaginários", tornaram-se verdadeiros demônios sobre os ombros do garoto... Ele era forte de aguentar tudo aquilo.

Se eu estivesse trabalhando diretamente nos laboratórios dos testes do mutagênico, de forma certeira, estaria procurando algum jeito de burlar as características mais animalescas da fórmula. Penso na hipótese de talvez as células animais terem sido as geradoras e intensificadoras de tais surtos mais agressivos nas cobaias. Em vista disso, gostaria de encontrar uma solução pacífica entre as alterações genéticas que cada indivíduo sofreu, a fim de criar uma respectiva cura para problemas mais graves... O difícil é prever as devidas funções celulares, os riscos de se mexer no DNA humano, além de todo o caráter mortífero do qual podemos alcançar se errarmos um mísero número nesta equação, desintegrando as células-tronco e agravando os casos de mortes por testes falhos. Imagino o inferno que os pesquisadores estão vivendo nos laboratórios. Consertar os delitos de cada dosagem nos organismos respectivos, aceitar as ordens do senhor Lucius a favor de uma alteração prontamente direta e sem delitos... Isso tudo é irritante só de imaginar. Temos um soro de super soldado ou uma poção que transforma todos em quimeras?... Verdadeiramente, não sei dizer se estamos certos ou errados nessa história.

As provas e papéis foram entregues ao jovem Vinny. De fato, ele era, e sempre foi, bom em perguntas referentes a interpretações de textos e humanas em geral. Todas foram perfeitamente respondidas, com altos índices de atividade cerebral entre uma resposta e outra... Neurônios trabalhavam a todo vapor. Mandam e recebem as mensagens numa velocidade impressionante. Quanto as de cálculos, houve uma diminuição da resposta elétrica do cérebro, e a carga de adrenalina, enviada como um trem bala poucos segundos atrás, foi repreendida por uma "preguiça" oriunda da quebra de expectativa do jovem. Demorou um tempo até o garoto terminar tudo e poder finalmente retornar aos amados livros de capa dura espalhados pela minúscula sala.

Chega a ser cômico vê-lo desamarrado e livre para poder caminhar, pular e mexer seus membros, enquanto outros possuíam até mordaças sobre suas bocas e não podiam movem um músculo... Falar nisso, os ataques aos médicos diminuíram nestes últimos dias... Outra coisa que eu deveria pesquisar mais sobre, embora tenho a hipótese de ser o calmante que colocaram em todas as amostras de mutagênico o causador de tal efeito nos prisioneiros... Sem confirmação ainda.

A informação final do paciente, dada pela senhorita Lênícia, foi o "brotamento", podemos chamar assim, de estranhos pelos na boca de Vinny, além de uma textura escamosa e oleosa debaixo das axilas dele. Os pelos e a textura estranha foram vistos, respectivamente, durante um bocejo profundo do garoto (ele não era muito de conversa alheia ou de jogar o papo fora como certas pessoas) e durante uma espreguiçada de corpo.

Agradeci a senhorita, antes de tudo, e me peguei numa indagação quanto a essa informação: Os pelos são características dos pacientes que receberam as doses de células de aranhas juntas dos DNA de chimpanzés. Mas escamas oleosas só são reparadas nos mutagênicos de caráter "defensivo", nome dado pelos pesquisadores, feitos das células de caranguejos junto dos DNA obtidos de vários insetos diferentes... Misturaram os mutagênicos ou aplicaram as duas injeções no garoto? Não, não, aplicar as duas seria morte instantânea... Uma evolução genética?... Que droga! Mais perguntas e zero respostas... Fim do relatório.

Atenciosamente

Dr. Strauss

Asilo Rotten RavenOnde histórias criam vida. Descubra agora