25 estrelas

Susurros

Narradora: Ariel 

       Um grito agudo daqueles que ficaram no meu planeta, um som de dor agonizante de todos que já morreram na guerra, sangue, morte. Minha mãe suplicando por ajuda naquela floresta que eu a deixei, enquanto meu pai ria de tudo aquilo foge com a sua nave e desaparece no imenso infinito da nossa galáxia. De repente minha visão fica distorcida, eu olho para o lado e enxergo Alpha coberta de sangue.

      - Isso é culpa sua! Tudo isso é sua culpa! Eu te odeio - ela chora em desespero - Você devia ter me contado antes sobre isso! Agora tudo isso é culpa sua!

       Acordo com um grunhido.

      - O que foi?! - Alpha exclama do beliche de cima.  

       Levanto e percebo que estou suando. 

      -Nada - respondo com a respiração falhando - foi apenas um pesadelo.

      Saio da cama e vou correndo até o banheiro. Tranco a porta e me olho no espelho, a palidez do meu rosto é nítida, minhas mãos trêmulas abrem a torneira, jogo água no rosto e respiro fundo. 

      Olho atentamente para o meu rosto no espelho, meus cabelos vermelhos extremamente bagunçados dão ainda mais destaque para minha terrível aparência de pânico. Decido tomar um banho para pensar melhor. Tiro a roupa e ligo o chuveiro em uma temperatura agradável, deixo a água escorrer pelo meu corpo e me limpar dos sentimentos negativos deste pesadelo. 

     Hoje vai se o dia do alistamento e provavelmente já vamos ser encaminhados para as arenas de treinamento de Kori. Não tem nada que eu possa fazer para impedir a minha irmã, ela está extremamente determinada a seguir esse caminho. Acho que o melhor jeito de mantê-la segura é ir junto e garantir que nada aconteça. Provavelmente ela vai ser encaminhada para a arena de novatos e eu, como ja participei, vou ficar no 2 esquadrão de treinamento. Mas posso resolver isso, vou arranjar um jeito de estar sempre por perto.

Narradora: Alpha 

      -Porque será que ela está demorando tanto naquele banheiro?  - pergunto para mim mesma.

      Sento na cama e me viro para a parede. Desde que me conheço por gente eu sempre amei desenhar nessa parede, tem de tudo aqui. Olho para um dos desenhos, um dos primeiros que eu fiz, o planeta de Shi, com aqueles seus 3 lindos anéis em sua órbita, simplesmente magnífico, ao seu lado o desenho de Kori. A nossa estrela Grian está se destacando com seu tom vermelho alaranjado. Buki, Maindo, Thunder, Tora, Sonner e Hadas, todos os planetas do nosso sistema estão gravados no desenho, cada um com a sua excentricidade, todos juntos em harmonia, como deveria ser.

       Me assusto com o som de Ariel batendo a porta do banheiro. 

      - Nossa você demorou uma eternidade! - exclamo.

       Ela me lança um olhar frio e vai até a cozinha para preparar o café da manhã. Logo eu levanto, tomo banho e sento na mesa para o comer, eu estava faminta.

       - Você fez as torradas com futty? - Pergunto 

      Novamente ela me ignora e taca no meu prato as torradas e coloca o pote de futty do meu lado "Quanto mau humor" - penso. 

      Apreciei a minha maravilhosa refeição de torradas com o magnifico creme de futty que eu tanto amo, a mistura do ácido das frutas cítricas típicas de Kori, com o amargo da pimenta mais forte de toda a galáxia é a minha sensação preferida. Nada pode ser melhor do que torradas com creme futty. Termino de comer e percebo que Ariel está me encarando enquanto bebe o seu jailo quente.

      - O que foi? - pergunto impaciente. 

      Ela não responde e continua a me encarar. Congelo por dentro e me atrevo a perguntar novamente:

      - Porque está me olhando desse jeito?

      Ela bebe um grande último gole de jailo e finalmente responde:

     - Sim - ela diz com convicção 

     Fico confusa então ela completa:

     - Vamos alistar hoje 

    - Certo - respondo

     Sua expressão no entanto fica sombria e fria. Ela levanta repentinamente e vai até a porta.

     - Eu preciso ir a biblioteca, enquanto isso você arruma a casa para sairmos - dizendo isso ela se teletransporta e some.

     Não posso negar que fiquei bem empolgada com a notícia, eu finalmente teria a chance de entrar nessa guerra e finalmente responder as minhas inquestionáveis perguntas. Arrumo a casa super rápido e preparo uma mochila com alguns itens que podem vir a ser úteis, quando estava tudo pronto Ariel repentinamente aparece e eu levo um susto gigantesco.

       - É quase impossível eu não me assustar com você chegando do nada desse jeito - coloco a mão no peito - o que é isso? 

      Um livro velho e surrado, com folhas extremamente amareladas e com um cheiro de sardinha  e terra fresca estava em seus braços. Eu senti o meu corpo inteiro se arrepiar, o cheiro de terra estava ficando cada vez mais forte, minha visão foi ficando distorcida e comecei a ouvir sussurros que refletiam diretamente na minha alma, eles sussurravam algo mas não conseguia ouvir, algo sombrio. Vou chegando mais perto do livro tentando entender o que as vozes estão dizendo. Acordo da minha transe com Ariel me dando um tapa no rosto.

      - Ai! - exclamo - Isso doi! 

      Ela me olha assustada e joga o livro rapidamente dentro de uma mochila que eu tinha deixado no sofá.

      - Que diabos foi isso Alpha?! - ela pergunta assustada. 

      - Que diabos é esse livro aí? - passo a mão no meu rosto para aliviar o tapa.

     - Nada de mais.

      Antes que eu tenha a chance de perguntar novamente alguém bate na porta. Quando eu abro dou de cara com Scar e Austin:

     - Bom dia senhoritas de Shi - diz Austin com um enorme sorriso no rosto. 

      - Oi - Scar cumprimenta no seu habitual tom de voz frio.   

      Esboço um sorriso e os cumprimento também. O alarme da nossa vila toca e o aviso do início do alistamento é anunciado. Assim, fomos nos 4 até a enorme base militar que ficava mais perto. Enquanto caminhávamos eu observava a mochila na qual aquele livro estava.

     Não conseguia tirar da cabeça todos aqueles sussurros e aquele cheiro de terra, aquele livro...estava chamando por mim, queria que eu encostasse nele, queria que eu soubesse de alguma coisa. Eu preciso entender os seus sussurros.