Amuletos das 25 estrelas

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Narradora: Scar

        Lembro de você ao meu lado, fazendo brincadeiras, me irritando, o seu rosto ainda está gravado na minha memória, com seus cachos e sua barba totalmente bagunçada. Quando você me acordava de manhã com um susto e vivia chamando a atenção de nossos pais para se mostrar o superior. Admito que na época eu te achava insuportável, com todas aquelas suas tentativas de aparecer e querer sempre chamar atenção do papai ou da mamãe, mas hoje percebo o vazio que sua ausência me trás. 

        Não sou de demonstrar as minhas emoções para as pessoas, mas desde que você se foi, choro todas as noites pela imensa solidão que sinto sem você perto de mim. É como se a saudade esmagasse o meu peito e me sufocasse até que o ar me falte. As minhas lágrimas nas noites mais sombrias é o meu grito mais forte de dor. Sem você, irmão, eu me sinto completamente perdida na imensidão desse universo.

         Acordo com uma dolorosa dor de cabeça. Abro os olhos e levo um susto ao perceber que minha mãe estava em pé na frente, ela me observava através de seus óculos de meia lua, estava imóvel, como uma cobra prestes a dar o bote. Seus cabelos negros presos a um penteado bem rebuscado e chamativo e suas roupas...nem um pouco discretas para variar.

        Eu já sabia do que aquilo se tratava: A guerra 

        A minha família sempre foi uma das mais ricas de Kori mas depois da morte do meu irmão Peter, tudo mudou completamente. A ausência dele foi tão catastrófica que até mesmo meu pai, que sempre fora um homem de negócios e super trabalhador, passou a ser um completo inútil que fica o dia inteiro sentado em sua poltrona lendo o mesmo livro todos os dias. Um livro extremamente velho, com as folhas completamente amareladas e com com um aroma super desagradável de terra molhada e sardinha. 

        Por outro lado, a minha mãe procurou outras formas de descontar a sua frustração: Descontar toda a raiva dela em mim e no meu pai por absolutamente tudo que nós fizéssemos.

       Peter sempre foi e sempre será o favorito de todos. Ele era bom em tudo o que fazia, na escola, no desenvolvimento de suas habilidades, nos esportes, na inteligência em fazer novas amizades e até mesmo na aparência. 

       Ele era elegante e forte, os cabelos negros encaracolados macios e sedosos, seu sorriso era como um sopro de uma manhã ensolarada, os seus olhos azuis esverdeados encantava a todos. Além disso ele era simpático e determinado. 

       Eu por outro lado, era melancólica e nada atraente. Meus cabelos negros eram lisos e sem graça, meu sorriso quase nunca aparecia e meus olhos eram acinzentados. Além disso eu tinha uma postura encurvada e fechada, quase sempre de cabeça baixa. Meu corpo não era o padrão desejado por ninguém, a magreza extrema me fazia ter uma aparência esquelética por muitas vezes.

        Eu sempre fui e sempre serei a sombra do meu irmão, mesmo após sua morte os outros ainda se referem a mim como a irmã de Peter. Mas isso não me incomoda, Peter sempre foi a minha pessoa preferida nesse mundo, ele era o único que me enxergava e me defendia das agressões repentinas da minha mãe.

        - Oi? - pergunto calmamente para minha mãe que continua a me encarar. 

        Logo me arrependo de ter falado, pois sua expressão muda para uma feroz e assustadora careta de ódio.

         - Você é uma decepção garota - ela começa - Você é um desastre! Olha só para você, toda desmazelada com uma postura lamentável. Usando essas roupas que te fazem parecer uma marginal. Você me enoja! 

        - Eu sei mãe, desculpa. 

        - Não! Você não tem o direito de pedir desculpas! Agora já é tarde demais. Eu já tinha arranjado um marido para você se casar, junto com o dinheiro necessário para não precisar ir para a guerra. Mas você é uma imunda e ingrata que não aceitou a oferta. 

25 estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora