A senhora misteriosa

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Narradora: Alpha 

        Estávamos nós 4 aguardando em cadeiras super desconfortáveis. Minha coluna estava completamente encurvada pela tensão, meus braços tremiam de ansiedade, meu pescoço estava erguido como o de uma girafa que esta se alimentando de folhas de uma árvore. Meus pés inquietos batiam na cadeira a minha frente onde estava sentada a minha irmã Ariel.

        - Quer parar com isso Alpha? - ela murmurou impaciente 

       Resmunguei e tentei controlar os reflexos da minha perna. Para conter a minha ansiedade teria que recorrer aos meus antigos métodos terapêuticos: roer as unhas. Fazia tempo que não me entregava a tal ato, mas naquela situação era a única solução plausível. Minhas mãos trêmulas vão em direção a minha boca, meus olhos presos aquele pedaço de unha, sem pensar duas vezes abocanho a ponta e começo a roer sem dó. Aos poucos meu corpo consegue relaxar um pouco mais.

      Eu prometi a mim mesma que iria manter a calma, iria ficar de cabeça erguida quando ouvisse meu nome, eu ia ser forte no momento que tivesse que explicar que não tenho habilidades desenvolvidas ainda, mas está sendo mais difícil do que eu imaginava. Principalmente depois daquele maldito livro. Ele estava me chamando, estava gritando por mim. Não consigo tirar ele da minha cabeça.

      - Mas que demora! -exclamou Austin impaciente - Já tivemos que aguentar 5 horas naquela fila lá fora e agora isso também, eu estou faminto. Eles deviam disponibilizar umas lanchonetes por aqui vocês não acham?

      Ainda roendo unha, lanço um olhar de incredulidade para Austin que recua um pouco ao perceber o meu olhar. Não acredito que a única preocupação dele é a fome. Pelo amor de Shi esse garoto tem um estômago do tamanho do mundo, ele comeu o café e almoço de Scar, comeu metade do meu sanduíche e ainda roubou as balas de menta do homem alto e musculoso que estava do lado dele.

      -Mas você acabou de comer o meu sanduíche Austin - argumentei 

       Ele dá ombros mostrando indiferença. 

       - Humf! Ainda to com fome.

     O corredor em que estávamos era bem estreito e comprido, as paredes eram bem próximas e tinham uma cor verde escura que me dava tontura. O corredor era cheio de cadeiras de ambos os lados, cadeiras feitas de metal enferrujado e tinham um barulho irritante quando nos movíamos sobre elas.

      Ariel a minha frente, estava com a cabeça escorada na parede e com os olhos fechados. Parecia estar dormindo, mas eu sabia que não estava. Scar estava encostada no ombro de Ariel olhando para um ponto fixo na parede, ela parecia assustada. Ela mal conversou comigo hoje, ficou a fila inteira olhando para aquele pedaço de papel na mão. Austin por sua vez estava cantarolando baixinho uma música e segurava firme o seu colar.

      Apesar do corredor estar repleto de pessoas, um silêncio agonizante de puro medo preenche o ambiente. 

      Ao lado esquerdo de Ariel, uma senhora brinca com um pedaço de flor vermelha, suas mãos enrugadas estão trêmulas, mas em seu rosto vejo coragem. A senhora aparenta ter 70 anos e me pergunto o que ela está fazendo aqui, afinal a faixa etária para entrar na guerra é dos 18 a 60. 

      Meu nervosismo volta com intensidade, arranco um pedaço enorme de unha e sinto um gosto ferroso no meu paladar. Sangue, um liquido vermelho intenso preenche a camada do meu dedo, sinto a região latejar e arder. Tinha acabado de arrancar metade da unha do meu dedo indicador. Escondo uma expressão de dor e limpo o sangue com o guardanapo do meu sanduíche. Faço uma compressa com o guardanapo e o enrolo ao redor do meu dedo.

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