Um Príncipe Nada Encantado

➳♡゛38 - tequila, tequila e tequila

ATENÇÃO! Esse capítulo contém palavrões. 

Desde que era criança, Liam sempre apreciou ficar sozinho, quieto em seu canto. Lhe trazia um pouco de paz e, ao mesmo tempo, produzia uma sensação de solidão, de vez em quando. Mesmo tendo nascido embaixo dos holofotes, o príncipe se acostumou a ficar em sua própria companhia. O palácio em que morava era enorme o suficiente para permitir que uma pessoa ficasse isolada, apesar da grande quantidade de funcionários que trabalhavam no local. Como príncipe, alguém com sangue real e supostamente intocável, por muitas vezes, Liam sentiu-se dentro de uma bela caixa de vidro blindado que ficava exposta em um museu. As pessoas o viam, o observavam, falavam sobre ele diante de seus olhos como se ele fosse uma peça valiosa e depois iam embora. Era um tanto solitário. Quando algo os desagradavam, eles se zangavam e consideravam que tinham o direito de destruir a peça. Fazê-la desaparecer para sempre. No entanto, ele não era uma peça de museu, muito menos valioso. Era apenas um ser humano, que cometia erros e que pagava por eles. Ainda assim, algumas pessoas queriam que ele desaparecesse da face da Terra. Porque ele era obrigado a sempre dar o bom exemplo. Um futuro monarca, com um histórico impecável. Mas esse era um fardo pesado demais de se carregar.

Mesmo com os dias tendo passado e as notícias sobre a sua admissão irregular terem diminuído um pouco, a tensão entre o Parlamento e a Coroa estava grande. As pessoas não haviam esquecido e estavam longe disso. Elas ainda o odiavam. Por isso, Liam não podia sair de casa. Não podia se expor. Ele precisava andar na linha.

-E qual a situação no momento? - Liam perguntou baixo. Era a primeira vez desde o escândalo ter caído na mídia que o príncipe tinha uma videoconferência privada com a representante do Palácio, a srta. Clarke.

-Os jornais locais já diminuíram a frequência com que falam do assunto, mas a situação ainda não é boa. - Respondeu seriamente, estreitando os olhos como os de uma águia. - Um mês não é tempo suficiente para fazer as pessoas esquecerem ou perdoarem pelo que aconteceu. A sua imagem precisa de um descando, alteza. Sabe o que isso significa? - Liam soltou um suspiro baixo.

-Que eu preciso evitar a imprensa?

- Não. - Franziu o cenho, séria. - Isso significa que precisa ficar longe de escândalos por um bom tempo, alteza.

Liam quase riu, amargo. Como se fosse possível ficar longe de escândalos. Ele atraía escândalos com a mesma facilidade com que lutava esgrima. Desde a adolescência, tudo havia ficado mais difícil, pois, ele passou a querer agir como um adolescente normal. Obviamente, isso nunca funcionou muito bem. Liam passou a ir a festas demais, mesmo que odiasse a grande maioria delas. Ele só queria extravasar. Teve uma fase ruim na escola, quase repetindo um ano. Se isolava em Eton e, se não fosse por seu melhor amigo, teria sido ainda pior. Pessoas começaram a especular absolutamente tudo sobre a sua vida pessoal - sobre o que ele faria como um adulto, sobre suas possíveis namoradas (garotas da realeza que ele mal conhecia), sobre a sua vida sexual e a pressão em ter que demonstrar que não era mais um grande virgem, mesmo ainda tendo só quinze anos. Aparentemente, as pessoas estavam muito dispostas a medir a sua virilidade pela capacidade de fazer sexo. Os compromissos reais e a obrigação de parecer mais maduro do que realmente era. Isso tudo o deixava ainda mais impaciente. Era assim que mais um escândalo surgia, queimando a sua imagem de um príncipe lorde, num ciclo sem fim. Entretanto, nenhum escândalo fora tão grande quanto o último.

-Vou fazer o melhor para isso. - Ele prometeu.

-Tenho certeza que sim.

Não houve muitas despedidas além da mera formalidade. A vídeo chamada foi encerrada e Liam passou a hora seguinte lendo um livro de poesia clássica para passar o tempo. Seria assim a sua vida pelas próximas semanas. Ele só poderia voltar às aulas no próximo semestre, se a poeira já estivesse abaixado. Enquanto isso, era melhor ficar na poesia mesmo. Em pouco tempo, ele chegaria à poesia contemporânea.