Um Príncipe Nada Encantado

➳♡゛51 - achem o Alfred!

A noite ficara cinzenta, de repente. A viagem de volta a Londres fora silenciosa e quase devagar demais. Um dos motivos era a exaustão após um dia inteiro de estrada e praia. O outro era porque o clima estava pesado. E, não teria como ser diferente. Não depois do que Mady e Ramón haviam passado em Camber Sands. As palavras de Tristan ressoavam como um eco na cabeça de Mady, fazendo a bile subir por sua garganta. Quando Edward contou aos demais o que tinha acontecido, Claire e Oliver ficaram tão indignados quanto qualquer pessoa com empatia ficaria. Claire havia até mesmo sugerido que eles procurassem as autoridades e fizessem uma denúncia pelo ataque xenofóbico. Mas, honestamente, Mady duvidava que isso fosse fazer alguma diferença. E ela sabia que seria o certo e seu direito, mas ainda assim, estava cansada. Tudo que Mady queria era ir para casa - ou melhor dizendo, para o seu dormitório em Kingston - tomar um banho quente, comer alguma coisa e tentar superar pelo menos um pouco o que havia acontecido. E seria difícil, pois seu peito apertava só mesmo de lembrar as palavras maldosas daquele sujeito.

Foram horas até que Oliver deixou os três de volta ao campus da universidade e foi para casa. Mady se despediu dos amigos e seguiu para o seu dormitório compartilhado. Faltava muito pouco para ela ter o seu pequeno descanso. Entretanto, foi quando abriu a porta e deu de cara com Liam que a jovem soube que havia algo de errado. Bem, ela deveria ter notado que algo estava errado antes, quando passara pelo oficial Ryan no corredor do hall e vira a sua expressão endurecida. Ou pelo outro guarda disfarçado que ela não sabia o nome. Mas, eles não eram exatamente um poço de simpatia e sempre ficavam à espreita, prontos para defenderem o príncipe de qualquer ataque surpresa. No entanto, pelo que parecia, dessa vez tinha algo de errado.

A expressão de alívio misturada à preocupação de Liam o entregou de imediato. Ele mal abriu a boca para falar quando Mady viu o que estava errado. Ou quem.

Por um instante, Mady pensou estar tão cansada que estava começando a ter delírios. Mas, não. Era real. Ela estava lá, em carne, osso, marias-chiquinhas e cara de choro.

- Katiekat? - Mady entrou no dormitório, fechando a porta atrás de si. - O que está fazendo aqui? O que aconteceu? - O tom de preocupação na voz de Mady foi impossível de controlar. Katie não respondeu. Em vez disso, correu para Mady, apertando sua cintura num abraço quase desesperado demais. Mady encarou Liam, buscando alguma explicação, mas Liam balançou os ombros parecendo tão perdido quanto ela. E era isso que Mady estava: perdida e confusa. Era sábado, Katie deveria estar na casa do pai e, obviamente, não ali em seu dormitório, sozinha e apenas com uma mochilinha nas costas.

- Eu não faço ideia. - Liam pareceu ter lido a sua mente. - Ela não quis me contar o que aconteceu. Só disse que estava te esperando. - Ele se afastou um pouco, como se quisesse dar a elas mais privacidade, mas, permaneceu atento à conversa. Mady suspirou, preocupada.

- Katie, o que houve? Como chegou aqui sozinha? - Mady tentou soar calma, enquanto acariciava os ombros da menina. Katie finalmente a soltou do abraço, com os olhos cheios de lágrimas.

- O Alfred fugiu. - Soluçou alto. - Você precisa me ajudar a encontrá-lo. E eunãoquerovoltarpracasadomeu pai…

Mady franziu o cenho, tentando entender o que a pequena Katie dizia em meio a tantas lágrimas e soluços. Ver aquela menina assim era, honestamente, assustador e de partir o coração. Apesar de Mady ter plena consciência de que Katie era apenas uma criança de oito anos, ela duvidava muito que Katie estivesse tão triste assim só por causa do porquinho-da-índia desaparecido. Não que Mady não entendesse, ela também choraria como Katie se seu bichinho de estimação desaparecesse (o que seria preocupante já que ela não tinha mais oito anos). Entretanto, parecia haver algo mais naquela história.

- Por favor, se acalma, Katie. - Mady tentou parecer calma, mesmo entrando em pânico. - Vai ficar tudo bem. Respire fundo e me conte com calma o que aconteceu.