Capítulo 7 - Esperança de bons dias

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Seher logo controlou as batidas do seu coração ao lembrar-se do ódio que seu marido sentia por ela, e mentalmente repetiu para si: "ele não sente nada, tudo não passa de um jogo".

Precisava pedir um favor para ele, mas precisava da compreensão dele primeiro.

Após um longo silêncio, soltou o ar levemente, continuou olhando para frente e começou:

- Uma vez você me perguntou o que faz uma mulher feliz – ele rapidamente olhou para ela, não esperava que ela fosse começar a falar com ele, achou que quando ela estivesse melhor levantaria do sofá e lhe daria as costas sem olhar para trás. Porém, com a voz melodiosa e dolorida ela continuou. – Eu ainda não sei te responder, cada mulher é única, algumas amam flores, outras joias, outras amam passeios e outras ainda um pedacinho de história eternizada.

Mas, eu sei o que deixa a todas nós muito tristes: sentir-nos um objeto. E mais que isso, percebermos que fomos tratadas como um. Não queremos nunca ser uma peça de decoração ou um robô feito a comando de voz para realizar ilusões. Mesmo a mais resistente de nós só quer uma coisa, amar e ser amada.

Quando amamos, amamos por inteiro e de uma vez só, mesmo que seja nas pequenas atitudes do dia a dia, amamos, e nos fazemos depender dos outros para que possam também demonstrar seu amor por nós. Isso nas mais belas amizades e famílias, contudo, quando não há um comum acordo forte, este amor que cura é o mesmo que fere e pode ser para nós uma ruína. Porque perdoamos muitas vezes por amor, na esperança da mudança, só que um dia o nosso limite chega e a vida cobra este desgaste.  Esta luta de um para manter uma decisão tomada inicialmente a dois acaba com toda e qualquer intimidade que um dia existiu.

Eu acredito que todo amor se baseia no sacrifício e na liberdade. Sacrifício de se doar e na liberdade fazer o mesmo sendo quem você é, e não como os outros querem que você seja. Sem um sentimento de posse voluntário.

A cabeça de Yaman começou a fervilhar, não estava conseguindo entender qual era o sentido daquela conversa. Será que ela diria que chegou ao limite dela e estava indo embora? Ele não conseguia decifrar as expressões dela, com o semblante sério e o olhar apagado. Aquela que fora tão expressiva um dia, perdeu a expressão por culpa dele.

Todavia, de uma coisa ele tinha certeza, que ele se fez depender a tal ponto dela, que por mais que quisesse arranca-la de dentro de si, não conseguia. E se ela disse que o amava talvez fez-se depender dele também.

Estava inquieto para tomar uma atitude, contudo, não tinha a menor ideia de como começaria novamente, sem resistir e sem lutar contra o amor que sentia. Então a deixou falar:

- Eu preciso te contar o que aconteceu comigo e com Selim. Não porque você é meu melhor amigo ou meu marido, porque não temos intimidade alguma para você ser isso para mim, eu sei que você me odeia e eu ainda estou com muita raiva de você, mas, eu não quero por em risco a paz e a segurança da nossa família. – Seher respirou fundo, sabia que seria difícil contar para Yaman. Com um golpe de coragem tomado iniciou a narrar diante do olhar perplexo dele:

Nas vésperas do nosso casamento, Selim me ligou e disse que iria embora para a terra natal dele e que faria um jantar de despedida para a Mamãe Nadire, o Firat e a vizinhança. Eu não queria ir porque tinha muita coisa para organizar, mas pela insistência dele dizendo que não teria outra oportunidade de se despedir de mim eu fui.

Só que quando eu cheguei lá, não tinha ninguém, somente eu e ele. Ele tinha montado uma mesa com flores e velas. Eu fiquei assustada, e pela promessa de uma explicação me sentei. Lembro-me só de ter bebido água, eu não estava conseguindo acreditar que ele mentiu para mim e me enganou, usando até mesmo o nome da Mamãe Nadire.

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