Dossiê

Capítulo 8 - Decisão

Não estar mais na presença dela me fez sentir o impacto daquela conversa. Não sei se pela raiva que tive que controlar para não socar aquele sopeiro, ou pelo meu ciúme dele escuta-la por tanto tempo, ou ainda por quão perdida minha esposa se encontrava pelas feridas por mim causadas.

Parado diante da porta, senti falta de estar ao lado dela naquele sofá. Ela que mesmo tão frágil, tão pequena, podia movimentar o meu mundo com suas próprias mãos trazendo consigo conforto e alívio. Visto que ela me amava!

Eu sou o seu segundo grande amor! Não tenho mais dúvidas disso.

O que eu não sabia é se ela me aceitaria depois de tudo, mas eu precisava lutar certo!

Fui até o Baba Arif, passei a tarde com ele conversando, depois fui até o mar. Quando cheguei em casa todos já estavam dormindo.

Falei para meu Baba sobre cada detalhe do dossiê e sobre a conversa de hoje. Tanto que eu ouvi entre minha esposa e Selim, quando a que ela teve comigo.

Ao refletir, vi que não posso mais viver sem ela. Não importa o quanto eu brigue ou grite aos quatro ventos minha raiva de ter me sentido traído e abandonado. Eu já não tenho uma cegueira suficiente para me manter numa mentira.

Mais do que a confirmação da verdade, eu preciso dela!

Só que mesmo eu queimando por ela, nunca tivemos uma intimidade sincera o suficiente para ser destruída. Somente a esperança e os sonhos de um casamento sem a sombra da formalidade.

E o pouco que tínhamos conquistado eu destruí. Pois nem amigo, nem amado... Um selvagem!

É exatamente assim que minha esposa me vê hoje! Uma imagem perturbadora na vida dela. Eu não sou capaz de medir o tanto que o meu ódio tomou o coração dela.

Eu lutei para abraçar a luz, todavia deixei o medo do novo tomar conta de mim, e vergonhosamente perdi. De maneira covarde não a confrontei com o dossiê, só deixei que a mentira me envenenasse, por orgulho de assumir meus sentimentos por ela enquanto achei que ela amava a outro.

Sei que não sou digno dela, da incrível mulher que não teme procurar um momento oportuno para pedir um favor tão simples, e nem deixa de corar por tão pouco. Uma incrível menina-mulher, que mesmo aterrorizada, não cede ao medo enquanto eu, me sinto fraco por achar que a amo.

Por ela, por nós! Um novo tempo urge para amanhecer.

E agora, observando-a dormir abraçada com Yussuf eu me pergunto se ela continuará a me amar se eu contar do dossiê?

Acredito que seja melhor não. Eu vou ser o marido que ela precisa sem a ferir mais!

*

Com esta decisão, Yaman apagou a luz e encostou a porta do quarto do pequeno Pasha, empunhou o arco e flecha e foi até o alvo passar mais uma noite para reafirmar que a omissão é uma decisão coerente para ela não sofrer. Porque segundo ele "a verdade doeria mais que estas flechadas".