Com passos tranquilos, Seher saiu da mesa onde estava apoiada, pegou um lenço de papel e secou suas lágrimas, tomou um copo cheio de água, e retornou para a posição anterior: apoiada na mesa. Selim nem se movia, mesmo que quisesse consola-la sabia que ela não deixaria ele se aproximar.
Seher retornou a firmeza anterior com a voz calma e quase maternal continuou a falar com Selim:
- Selim, o que eu quero que você entenda é que eu estava no meu pior momento quando Yaman me conheceu. E ele no dele, nós apresentamos primeiro o nosso pior. Não temos um relacionamento comum, onde primeiro se oferece tudo que é bom e depois vai se revelando e pedindo ajuda para mudar.
Estávamos dispostos a ferir um ao outro, porém se alguém de fora nos fere nós nos protegemos. Porque nos sacrificamos todos os dias para sermos melhores para o nosso legado. Já não existe mais eu ou ele, existe o nós, somos duas partes de um todo. E mesmo que ele não tenha vindo até a mim feliz e sorridente, temos dado as mãos e lutado para que sustentemos o nosso mundo juntos. Errando ou acertando abraçamos as nossas lutas diárias para sermos bons pais.
Com o choque passando aos poucos, Yaman muito mais do que a fortaleza de Seher, ele percebeu que várias pessoas tinham a ferido, tanto Selim quanto Zuhal, e mesmo que em alguns momentos ele se mostrasse tão protetor, ele não tinha a protegido deles. Ele acreditou no dossiê e a deixou ser ferida. Mesmo tendo passado por tanta coisas juntos, ele permanecia na primeira postura de quando a conheceu, de se antecipar as possíveis dores que ela poderia trazer a ele, a fazendo sofrer primeiro.
Ele sabia que ela tinha se fechado a ele, mesmo ela sendo paciente e cautelosa, se ela se mantivesse disponível sempre a acolhê-lo suas feridas seriam muito mais profundas. Como a do primeiro impacto, em que ele abraçou o que diziam dela, não quem era ela. Ele a isolou do problema e preferiu conviver com a oportunista do dossiê, e não com sua esposa: Seher Kirimli.
Seu instinto de prevenção que por tanto tempo lhe fora útil contra seus inimigos, diante daquela mulher que ele abriu guerra não valia de nada. Porque ela não era sua inimiga, nunca foi. E mesmo que ela tivesse que se impor a ele, sempre foi ele que passou todos os limites, e não ela.
Ele precisava dela! Perdido em sua raiva, achava que ela poderia ir embora e levar consigo a dor que ele sentia. Só que a dor que ele sentia não era somente dele, era dela também, porque ela era o sol da sua casa e o coração que o tornava humano. Se ele tinha feito dela uma mulher forte, ela tinha feito e fazia dele um homem humano. Tinha uma caminhada longa pela frente, mas ele, cada pedacinho do corpo e da alma dele precisava do amor dela. Não somente para iniciar o nós, mas para ser o nós.
Ele tinha que deixar o passado, não apenas o de poucos dias, mas de quando era menino e provou da morte e do abandono tão de perto.
Ele viu que a trouxe para o mar turbulento da vida dele, para que ela pudesse salvá-lo dele mesmo. Não adiantava ser um pai melhor para Yussuf, se ele não fosse capaz de se tornar um homem melhor para ela. E era isso que ele almejava ser, o homem dela.
Ele precisava correr para alcança-la, porque ela já tinha se tornado mãe e esposa. Contudo, ele tinha se tornado pai, mas faltava ser esposo. Aqueles olhos verdes generosamente pediam isso a ele. E para aqueles olhos tudo valia a pena!
Seher continuou:
- Selim, você ainda pode me dizer que eu e Yaman, nos casamos por Yussuf, e realmente nos casamos por ele. Porém, se não tivéssemos decidido nos amar primeiro. Não estaríamos aqui. Plantamos esta semente de decisão dentro de nós antes mesmo dele me pedir.
Por algumas circunstâncias, tínhamos planejado nos mudar para outra casa, e passamos por muitas horas sonhando e escolhendo como iríamos viver esta nova vida, seja acompanhando o desenvolvimento de Yussuf, ou cuidando da nossa horta. – Seher sorriu, a Bósnia às vezes ainda lhe parecia uma boa opção – quando ele me pediu rapidamente eu disse não. Não por causa dele, mas de fora eu já tinha escutado várias vezes que eu não era parte da família, ou que eu não passava de uma garimpeira.
- Seher, quem disse isso a você? Como puderam? – Selim não deixava de mostrar sua indignação. Prontamente, Seher respondeu:
- Você foi um deles, quando me mostrou aquele dinheiro, dizendo que se Yaman tinha dinheiro você tinha também! Como se eu precisasse saber o valor na conta bancária do meu esposo para me casar com ele! - Ela completou em pensamento "por mim eu tinha me casado no dia que eu aceitei o pedido. Claro que com uma roupa mais formal do que uma saia e uma blusa verde-água".
- Eu não me casei com Yaman Kirimli, para formar uma família. Nós já éramos uma: Eu, ele, Yussuf e o Irmão Ziah. Então eu assinei o livro por uma formalidade, para diante de Deus e de todos mostrar o que já éramos. – Seher respirou fundo, com um leve ar de impaciência – Mesmo eu tendo exposto para você traços da intimidade da minha casa, eu ainda não respondi sua proposta.
No mesmo instante Selim se encheu de esperança, e Yaman de agonia. Afinal, será que ela aceitaria abandona-lo? Motivos ela tinha, e de forma consciente Yaman sabia que se ela o deixasse não seria por ser interesseira, ou não ama-lo, mas porque ele não foi o marido que ele precisava ser. E se ela fosse, e mesmo que doesse, ele a deixaria ir, e entregaria Yussuf a ela com suas próprias mãos. Pois, ela não merecia sofrer longe do seu primeiro grande amor.
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Dossiê
Storie d'amoreComo seria se Yaman escutasse uma conversa de Seher com Selim, mesmo com a verdade sobre o dossiê não tendo vindo a mostra? Os personagens pertencem a novela Emanet. Esta história é somente como eu gostaria que este plot começasse a se resolver. Boa...