Capítulo 10 - Ordem

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Após me despedir de Mamãe Nadire fui à cozinha. Pus-me a iniciar o jantar. E passei a refletir como o tempo começava o por tudo em ordem. Yussuf estava melhor, já tinha feito grande parte do tratamento. Estava com a imunidade boa, e cada vez mais saudável.

Eu passei e me dedicar a uma rotina fiel ao jardim com o irmão Zyah e também as tarefas da cozinha. Ao menos uma refeição eu cozinhava sozinha, então sempre saia um pouco, fosse para comprar algo que faltava ou fazer as compras semanais com Cengar Abi. A refeição que eu iria fazer hoje era a janta.

Ocupava-me durante os dias, mas as noites ainda eram difíceis. Meu esposo estava se acabando aos poucos, sempre calado, mal comia, mas sempre atento a qualquer movimento meu. Observava-me o dia todo, e eu deixava-me ser observada.

Às vezes ele tentava conversar, contudo, quando eu via o olhar dele tão dolorido e me sentia de mãos atadas por não poder tomar a dor dele para mim, eu fugia dele. Sabia que isso era uma decisão covarde, todavia ele me feriu, e a ferida ainda sangrava, minha esperança foi arrancada e eu precisava com urgência estar bem para Yussuf, eu ainda era incapaz de lidar com ele. E não adiantava eu insistir em falar no que doía se ele não quisesse falar também, só jogar a dor sem resolvê-la o faria sofrer mais, então fui guardando a dor para mim, digerindo-a pouco a pouco, ao ritmo da vida.

Só que quando ele dormia, eu chorava. Por ele. Pela dor que ainda existia. Por me sentir inevitavelmente feliz por Yussuf, e não ter acesso à felicidade do meu marido. E por Yussuf, eu tive forças para me dispor a melhorar gradualmente, sem me perder.

Refleti e vi que amava Yaman profundamente, então parei de lutar contra, porque lutar estava me matando, alimentar a raiva nunca valeu e não valia a pena. Logo, decidi só ama-lo e esperar o tempo dele, lembrei-me de Baba Arif, quando ele me pediu para ter paciência com ele, com a pérola negra que viria para fora no tempo certo.

Aos poucos este amor só por amar, sem esperar nada em troca foi me curando, me devolvendo a esperança que as coisas melhorariam e me retirando aos poucos da escuridão. Aquela que achei nunca conseguia sair, pela qual me desesperei, e me fez esquecer quem eu era. A mesma que me obrigou a ser forte, ainda tem me ensinado.

Hoje, quando me despedi de Mamãe Nadire, ela pediu-me para ter paciência com Yaman. O fato de Mamãe ter dito me confirmou que era preciso, e se antes estava tendo, agora escolhi ser ainda mais paciente.

Tudo que estava tão ardido dentro de mim estava parando de doer, e aos poucos me sentia pronta para lidar com a crua dor do meu amado esposo. Nunca tivemos um relacionamento comum, não era agora na dor que eu poderia esperar normalidade. Querendo ou não eu conhecia meu esposo, e sabia que ele era diferente de todos os homens.

Terminei o jantar, separei o prato de Yussuf, e levei para ele no quarto, como tenho feito todos os dias. Ele comeu bem. Resolvi dar um banho morno nele porque ele parecia mais cansadinho do que o habitual, coloquei-o para dormir mais cedo. Resolvi velar o sono dele esta noite, para ver se esse cansaço era um efeito colateral do tratamento, ou só cansaço do dia mesmo.

Quando estava prestes a ler uma história para ele, ele pediu que eu cantasse para ele dormir. Eu aconcheguei meu bebê nos braços, e enquanto acarinhava seus cachinhos, cantei até ele ressonar baixinho.

Com calma o ajeitei na cama e levantei-me, para ir até o quarto buscar meu pijama, deixa-lo no quarto do meu bebê, para me trocar mais tarde, descer para jantar rapidinho e retornar para Yussuf.

Ao girar a maçaneta do escritório para fazer a primeira tarefa que tinha me programado esperava encontrar Yaman trabalhando, como todos os dias ele fazia neste horário, eu só não estava pronta para encontra-lo daquele jeito!

DossiêOnde histórias criam vida. Descubra agora