Cap. XVII

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Que sonho mais esquisito foi este? Ou era uma lembrança de minha infância que se perdeu a anos? Acordei um pouco assutado, olhando tudo a minha volta dentro daquele quarto escuro, não via nenhuma claridade para me direcionar nenhum pouco, tentei tatear a cama do lado esquerdo e não achei sua borda, quando vire a mão e acertei o lado  oposto dela notei que havia alguém comigo.

Acredito que desde bem novo sempre tive uma certa curiosidade pelo mundo a minha volta, todas as coisas que fazia eu sempre fiz junto a ele, menso as vezes algumas crianças dizendo que nos dois éramos estranhos, o que importa a nós era estarmos sempre juntos, brincávamos e brigávamos como qualquer irmão, mas em nosso caso era diferente, por mais raiva de momento que eu tinha dele, ou ele de mim, sempre era possível um sentir a dor do outro, sentir a alegria e até mesmo os medos, tudo era compartilhado por nós, tudo era muito mais intenso para nós dois.

Mamãe sempre dizia "Cuidem um do outro sempre", já papai pedia "Cuidado com o mundo lá fora, vocês são especiais de mais", naquela época com meus oito anos não via necessidade para tanta preocupação.

A poucas quadras de casa havia uma área com mata, haviam várias trilhas que em sua maior parte leva a um pequeno riacho, com muita sorte conseguíamos ver algumas araras verdes, mas o que gostamos mesmo eram das borboletas.

Papai sempre contava a mesma história quando pegava a gente fazendo alguma traquinagem, não me lembro dela toda mas o seu final sempre fazia a gente refletir sobre nossos atos, sobre aquela lenda oriental da Mariposa Azul

" Vamos a busca dele e eu esconderei essa mariposa na minha mão. Então eu perguntarei ao sábio se a mariposa que está em minha mão está viva ou morta. Se ele responder que ela está viva, eu apertarei minha mão e a matarei. Se ele responder que ela está morta eu a deixarei livre. Portanto, responda o que for a sua resposta será sempre errada.

Aceitando a proposta da irmã mais velha, ambas as crianças foram em busca do sábio.

- Sábio ? disse a mais velha ? Você poderia dizer se a mariposa que está em minhas mãos está viva ou morta?

Ao que o sábio com um sorriso sarcástico respondeu: ?Depende de você. Ela está em suas mãos?"

Na primeira vez que ele contou a história achei que ele fazia uma comparação entre nós dois e as meninas, que éramos levados iguais a elas, mas com passar do tempo comecei a entender melhor o que ele tentava nós ensinar, principalmente no dia que quebramos a janela da casa da vizinha no final da rua, ele nos deixo um mês de castigo, sem televisão, sem vídeo game e sem brincar na rua, neste dia entendi que minhas atitudes, boas ou ruins poderiam ou não interferir na vida alheia ou não.

Naquele maldito dia veio está história na minha cabeça, durante anos achei que o culpado por tudo àquilo, que tudo que aconteceu foi minha culpa, que tudo que minha família passou e passa era somente culpa de uma escolha errada.

Mas conforme eu dormia, senti um toque quente em meu rosto, o deslizar dos dedos sobre minha face, a tanto tempo que não me sentia tão bem e seguro com um simples gesto, quando acordei vi somente uma porta entreaberta a minha frente, me sentia tão cansado, tentei levantar a cabeça, e veio uma dor no peito o que me fez desistir, olhei para o lado e vi um céu escuro e uma lua que se escondia parcialmente atrás de alguns prédios, era noite, fechei meu olhos tentando lembrar onde estava mais peguei no sono ao lembrar do toque suave sobre minha pele.

Papai, o senhor está aí? Me perguntava isso e a saudade dos seu braços em volta do meu corpo vinham tão forte, acordei assutado me apoiando na cama, e recebi um abraço, e um beijo na curva do pescoço, aquele homem não me disse nada, somente tentava me acalmar sem palavras, somente com aquele simples gesto de me abraçar, era tão bom sentir seu corpo, aos poucos fiquei calmo e me deitei desta vez com minha cabeça apoiada em seu peito, olhei para minha mão que brincava em sua cintura e vi um grande anel dourado.

PARA SEMPRE - VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora