Capítulo 16

25 3 0
                                    


PV SIGYN


Eu estava em choque com tudo o que aconteceu. Sabia que Loki tinha culpa sim por ter trazido gigantes de gelo para Asgard, mas também sabia que ele estava angustiado e com medo. Loki sempre teve controle de todos os seus planos, e pela primeira vez, se via encurralado. Realmente o tratamento diferenciado entre os dois irmãos traria uma desvantagem enorme para ele. Se Thor tivesse ocultado gigantes de gelo, qual seria a punição? Sei que ele foi banido agora pelo erro que cometeu, mas a lei diz que deveria ser executado. Longe de mim querer que Thor morra por um erro. Amava Thor com todo o meu coração. Porém, eu não tenho dúvidas de que Loki iria para as masmorras até chegar sua execução. Thor está livre em algum mundo. Cheguei até o quarto de Frigga e dei duas batidas na porta.
-Pode entrar.
-Oi, Frigga. Vim ver como está.
-Ah, minha querida...eu vou ficar bem. E Loki?
-Assustado, estático, aéreo...precisa de um tempo para ordenar os pensamentos.-
Frigga sorriu docemente e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
-Você é a filha que eu nunca tive, Sigyn. Te ter pelos corredores será sempre um motivo de muita alegria para mim e para meu filho Loki. Eu quero muito que vocês sejam felizes.
-Me pergunto como. Meu pai e Odin não aceitam isso. Por que? É por causa do trono? Terei que me casar com Thor para unir os reinos? O que é?
-Não, meu anjo. Não tem nada a ver com reino e união. Odin tem planos, dos quais eu nem sempre concordo. Ele errou muito com Loki, e farei o possível para tentar dar ao meu filho um destino digno.
-E qual seria o destino não digno?- perguntei.
-Infelizmente, é exatamente esse que vamos viver por um tempo.- senti meus pelos arrepiarem.

Se as coisas já estavam ruins...

-A senhora sabe o que vai acontecer, não é? Tem esse poder. Sempre soube o que nos foi destinado, não é?- Frigga concordou com dor.
-O futuro não parece muito agradável, meu amor. Mas lembre-se de uma coisa: sua história com Loki está apenas começando.
Fomos interrompidas com uma batida na porta. Sem esperar uma resposta da rainha, a porta foi aberta e uma criada entrou assustada e pálida, dizendo:
-Majestade, o rei Odin...ele entrou em seu sono.- senti meu corpo queimar. Todo o meu sangue se concentrou em meu coração, forçando-o a bombear com mais eficiência. Meus músculos estavam ativados em modo de fuga e minhas pupilas provavelmente estavam dilatadas. Foi como se eu tivesse perdido meus sentidos. Frigga se levantou e andou apressadamente até a sala de cura. Já eu, demorei alguns minutos para conseguir mexer meu corpo e me movimentar para fora do quarto. Asgard estava caindo. Precisava achar Loki. Era muito para ele absorver num dia só, sem contar que o peso do trono cairia sobre ele agora. No pior momento de todos.


PV LOKI


Após a saída de Sigyn, eu encostei na banheira e me permiti fechar os olhos por um momento. Sabia que tinha salvado Asgard da tolice de Thor, mas poderia ter sido diferente. Agora eu precisaria pensar num plano muito bom para mostrar a meu pai que mesmo sem Thor, Asgard não ficaria desprotegida, pois eu seria capaz de fazer, com sabedoria, muito do que Thor fazia. Se eu ganhasse o trono, ficaria com ele até Thor deixar de ser patético e infantil. Depois daria a ele para ir embora com Sigyn. Apesar de ser o sonho de qualquer um governar Asgard, não era o meu. Nasci para ser rei, porém com Sigyn ao meu lado. Ela não poderia passar seu trono para ninguém, já que era filha única, então eu abriria mão do meu. Todos me veriam como o rei benevolente e sábio, que cuida da família e do bem estar de todos. Sempre foi esse meu plano caso o trono fosse meu. Se não fosse, eu esperaria o melhor momento e partiria para Vanaheim com Sigyn. Esses planos deram errado quando Thor recebeu o título de herdeiro, sendo um imbecil completo e nossos pais não aprovaram meu relacionamento com Sigyn. Agora as coisas precisariam ser diferentes. Não podia negar também a angústia ao lembrar do que aconteceu em Jotunheim. Meu braço azul... a teoria que criei tem uma baixa probabilidade de ser real, mas mesmo assim é a mais provável. Eu precisava ir até o cofre e pegar aquela caixa de inverno. Se o que eu pensei estiver certo, então devo matar todos os que mentiram para mim.Saí da banheira e me vesti com magia. Não queria perder mais tempo. Assim que cheguei ao cofre, encontrei a caixa brilhando num azul muito forte. Como se me chamasse. Fui em sua direção e a peguei.
-PARE- ouvi a voz de Odin atrás de mim.
Sentia o poder da caixa me invadindo e descolorindo minhas mãos. Coloquei a caixa no lugar e fui percebendo que a energia recebida estava saindo de mim.
-Eu sou amaldiçoado?
-Não.
-O que eu sou?
-Você é meu filho.
-E o que mais além disso?- perguntei me virando para Odin, e sentindo o frio deixar meu corpo assim como a coloração azul.- a caixa não foi a única coisa que roubou de Jotunheim naquele dia, foi?
-Não- Odin disse após um suspiro- ao fim da guerra, eu fui a um pátio e encontrei um bebe.
Pequeno demais para o filho de um gigante. Laufey.
-Filho de Laufey?- eu estava desesperado.- o senhor estava banhado em sangue Jotun, porque me pegou?
-Era uma criança inocente. Deixada para morrer.
-Não, tudo o que o senhor faz tem um propósito- um silêncio se instalou no cofre- ME DIGA!- gritei de fúria.
-Achei que poderia manter a paz entre os reinos através de você. Mas esses planos não importam mais.
-Então eu não passo de outra relíquia roubada, trancafiada aqui até ter utilidade?
-Não distorça minhas palavras...
- Por que não me contou quem eu era desde o início?
-Não queria que se sentisse diferente.
-Por que? Porque eu sou o monstro das histórias que os pais contam para os filhos a noite?
Agora tudo faz sentido! Porque o senhor favoreceu Thor todos esses anos, não é? PORQUE NÃO IMPORTA O QUANTO DIGA QUE ME AMA, O SENHOR NUNCA COLOCARIA UM GIGANTE DE GELO NO TRONO DE ASGARD.- lágrimas escorriam pelo meu rosto, angústia, tristeza, raiva, nojo...todos esses sentimentos estavam misturados dentro de mim naquele momento. A minha vida era uma mentira completa. Conforme eu gritava, Odin se desesperava e tentava se justificar, até o momento que caiu na escada e apagou. Eu o fiz entrar em seu sono. Tentei tocá-lo, mas não sabia o que fazer para ajudá-lo, então gritei os guardas. Rapidamente, Odin foi levado à sala de cura e eu fiquei sentado no degrau do cofre estático, tentando absorver toda a verdade após décadas de mentiras.


PV SIGYN


Procurei Loki por todos os lados até que o encontrei saindo do cofre com cara de choro. Corri até ele com o coração na mão, desesperada e abatida por vê-lo naquele estado.-Amor, eu sinto muito- o abracei e inalei seu perfume. Ele não falava nada, apenas olhava para o nada, como se estivesse em estado de choque. Via ódio e nojo em seus olhos. Levei ele para o quarto e o sentei numa poltrona.
-Loki, você está me ouvindo?
-Sim- foi tudo o que ele disse.
-Sei que está sendo difícil para você. Muitos acontecimentos em um dia só. Seu pai vai ficar...- não me deixou falar.
-Ele não é meu pai.
-O que? Do que você ta falando?
-Eu sou adotado- um silencio se instaurou no cômodo.
-E isso é ruim? Te criaram, Loki. Isso faz de você filho deles.
-Não me criaram como filho, Sigyn. Me criaram como objeto de paz- os olhos dele se encheram de lágrimas, mas não esboçava tristeza. Esboçava decepção, raiva, rancor.
Segurei o rosto dele com minhas duas mãos e acariciei suas bochechas com meus polegares.
-Amor, por que eles fariam isso?
-Porque eu não sou de Asgard...sou de Jotunheim- ele fechou os olhos e se levantou ficando de costas para mim.
Jotunheim. Então Loki era uma gigante de gelo? Por que não parecia um?
-Você não parece um gigante-falei sorrindo para tentar amenizar o clima. De repente, Loki se virou e sua pele estava toda azul com traços da espécie e olhos vermelhos. Apesar de diferente do que eu estava acostumada, ainda era ele. Sua aparência era a mesma. Continuava lindo. Fui me aproximando dele e tentei tocar em seu rosto, mas ele não permitiu.- O que está fazendo? Vai queimar sua pele!
-Desculpe te decepcionar, mas eu também sou uma feiticeira. Acha mesmo que Jotun me queima?- perguntei com a sobrancelha arqueada.
-Ta esperando o que para correr?- ele perguntou incrédulo.- eu sou um monstro.
Cheguei perto dele e coloquei meus braços em volta do seu pescoço sorrindo de leve.
-Lembra quando éramos crianças e estávamos estudando sobre os gigantes de gelo na biblioteca e você disse que eu correria de um se visse? Bom, está errado. Eu me apaixonei e amo imensamente um Jotun.- Loki deu um sorriso de canto e eu o beijei. Mesmo sendo de gelo, seu beijo era quente. Senti suas lágrimas molhando meu rosto e aprofundei ainda mais o beijo. Não queria que ele sofresse por isso, por que não importava sua verdadeira natureza. Ele ainda era ele, e isso era tudo o que eu precisava. Paramos por falta de ar. Acariciei sua nuca e uni nossas testas. Quando me afastei para olhar em seus olhos, a coloração azul tinha sumido e seus olhos voltaram a ser azuis esverdeados que eu tanto amava.
-Te amo, Sigyn.
-Também te amo, meu amor.
Ele me deu um selinho demorado e sorriu logo depois.
-O que faremos agora? Meu pa...Odin está em seu sono, Thor banido e Frigga com certeza não sairá do quarto em tão cedo.
-Loki, você sabe muito bem o que vai acontecer agora.
-Sim, eu sei, mas e o meu plano? Eu preciso salvar minha pele ou não sairei vivo de Asgard.
-Eu vou te ajudar. O que faremos?
-Bom, vou precisar assumir o trono até que Odin acorde. As leis que o próximo sucessor não pode desfazer a última ordem de seu antecessor logo de cara. Isso me dará uma vantagem para executar meus planos.
-Que seriam...
-Você não vai gostar, mas não vejo outra saída.
-Fala logo.
-Vou trazer Laufey para Asgard e permitir que vá até Odin. Quando ele chegar lá, o matarei e seu povo ficará em dívida com Asgard pelo ataque de Laufey ao pai de todos. Acabamos com a guerra, com o monstro que me abandonou para morrer e tudo isso sem Thor no meio.
-Você enlouqueceu. Essa forma Jotun deve ter congelado seu cérebro.- Loki revirou os olhos pela "piada"- caso tenha esquecido, só estamos nessa merda toda porque você fez exatamente isso que está propondo fazer DE NOVO.
-Eu sabia que odiaria, mas está decidido.
-Isso é por Asgard ou virou pessoal, Loki? Por que não vejo nada de bom nesse plano.
-Está livre se quiser. Não vou pedir que fique no meio dessa loucura, mas também não vou permitir que se intrometa nela.
Dito isso, saiu do quarto me deixando nervosa. Eu não podia ficar contra ele agora. A nossa vida nunca foi perfeita, mas a felicidade que Loki tinha foi tirada dele brutalmente em apenas um dia. Nada do que ele fizesse agora poderia ser bom, pois mesmo sendo forte e durão, nem mesmo o deus da trapaça com toda sua força é capaz de não se abalar.

O outro lado da históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora