Pela manhã de um domingo, comecei minha jornada para fazer o melhor texto que qualquer ser humano que já pisou na terra já leu, ou, um texto bom o bastante para tirar um seis em português. Para isso, precisava ir em busca de inspirações. O que pode inspirar mais uma pessoa que uma partida de FIFA? Já ouvi em algum lugar um sábio falar "tá mas... bó Fifa?", e por que fazer hoje algo que você pode fazer amanhã?
Depois de uma boa derrota de 4 a 1, decidi ir a minha caçada. Após me aprumar, nunca me senti tão arrumado, uma regata, short de pijama e um cabelo similar as cobras da medusa, pra quarentena com um look desses, você já pode se considerar uma das pessoas mais formais do Brasil. Sentei-me em frente a meu computador, passaram-se horas, e como a vida não é um morango, não deu em nada.
Após a frustração de tanto tempo perdido, resolvi me aventurar na maior aventura que poderia ter. Escrevi cartas de despedida, melhor garantir que remediar, me protegi firmemente com um pano de orelha a orelha que chamam popularmente de máscara, me armei com um potinho de álcool em gel, e fui. Nem sabia mais como era andar na rua.
Após um tempo de prática na arte de por um pé na frente do outro, fui em direção à praça. A maior concentração de pessoas ficaria lá certamente, lá seria mais fácil arranjar alguma inspiração pro meu desafiador trabalho escolar. Mas, como sou muito sortudo, começou o maior toró que Salvador já viu, ou o maior da Bahia, senão o maior do Brasil. Em minha corrida às cegas para abrigar-me de tal dilúvio, escutei um verdadeiro baiano falar: "que viaje é essa véi?", ao perceber que não estava me molhando mais, olhei para cima e me surpreendi, a chuva tinha parado no ar, e do nada, começou gradativamente a subir.
Ainda com medo de voltar a chover, e não ter Noé pra me dar uma carona, voltei a minha busca pela proteção. Num relance, vi no canto de um muro, uma abertura, como um papel de parede descolando, como a página de um livro prestes a ser virada, curioso me aproximei, e com certo receio, puxei a capa de proteção de um outro mundo.
Por não ter outra opção, decidi me aventurar pelos vales da sombra da morte, quando entrei, a minha única saída tinha se fechado, agora eu só tinha duas opções, ou iria explorar o local, ou sentaria em posição fetal e entraria em prantos. Ao apossar-me da primeira opção, fui sem medo de errar, era sem duvidas o local mais escuro que já tinha entrado, um eterno breu, com um ponto de luz roxa muito distante, que foi aumentando a medida que fui me aproximando.
Ao chegar num lugar em que praticamente tudo era roxo, rosa e amarelo, vi um pequeno ser com dreads lilás, nunca desconfiei que o Matuê fosse um gnomio, ele olhou para mim, tirou um saquinho do seu manto, e me disse: "tome isso, saberás a hora certa de usar...", e como num passe de mágica, desapareceu.
Continuei a andar numa mata onde só tinham flores e ipês tricolores, rosa, roxo e amarelo. Já exausto, o Sol aparentava querer dar um cochilo ao fim da tarde, e foi deitando num imenso oceano amarelado, sentei-me para vê-lo partir, quando senti um toque no meu ombro; eram dois humanos. Aliviado comecei a falar com eles.
- Qual foi cero? Namoral, chega bateu um alivio aqui agora.
O homem olhou para oque aparentava ser sua esposa e perguntou:
- Conseguistes assimilar oque este indivíduo proferiu a nós?
A mulher balançou a cabeça; então o homem olhou pra mim e perguntou:
- Olá! Porventura, seria conveniente daqui?
Sem entender nada, olhei para baixo e vi o saquinho que o mini Matuê tinha me dado, e sem pestanejar peguei um pó do interior do saco, e taquei na cara de meus novos conhecidos. Depois de algumas tosses, eles começaram a falar o profundo baianês de suas almas.
- Você é daqui ô coisinho? A mulher me perguntou.
- Eu mermo não.
- Tu chego aqui como véi?
- por um buraco meu brother.
Eles se olharam, botaram um saco na minha cabeça, e me carregaram. Durante o percurso eu gritava:
- Ó véi, é melhor me larga, vocês não me conhece não né véi? Se vocês sabesse quem so eu, a mermão, purra, me largue vu véi, eu to ficando chei de ódio já vu.
Me deram uma chapuletada no meio da testa, que fiquei zonzo e desmaiei. Ao acordar, percebi que estava deitado no meio da rua, como se nada tivesse acontecido, levantei, me limpei e fui pra casa. Cheguei, tomei banho, sentei em minha mesa e comecei a escrever:
Pela manhã de um domingo, comecei minha jornada...
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Contos fantásticos
Short StoryContos produzidos por alunos do 9º ano do Instituto Comenius de Educação em 2021. Atividade desenvolvida sob orientação das professoras Jamile Lima e Carla Ceci.