Letícia Menezes - A cura de uma cidade

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Era um sábado ensolarado, calor de 30° Graus, sensação de térmica 40°. Salvador, capital da Bahia. Onde o calor maltrata e o carnaval encanta. Pelourinho, Farol da Barra, Campo Grande, Humaitá e Ribeira, eram alguns dos lugares que Júlia mais frequentava nos finais de semanas com seus amigos.

Stella, menina de 16 anos, nascida e criada em Salvador, no bairro do Tancredo Neves. Sempre rodeada de amigos, que sempre tentavam curtir ao máximo todo lazer que a sua cidade oferecia. Assistir ao Pôr do sol no Humaitá ao som de Jamil, era uma das suas opções preferidas. E sempre que podiam, iam na Ribeira andar pela Orla, tomar um sorvete e curtir a boa brisa da praia do Ribeira.

Stella, era uma garota com personalidade forte. Persistente, corajosa e recebia um grande respeito na cidade por ser conhecida como "moça da tarde bonita". Ela era conhecida assim, porquê o Sol era cego de amor por Stella, então toda vez que notava a presença dela assistindo à sua saída, brilhava de forma incomum, fazendo um degradê por todo céu e formando artes pelas nuvens.

Em março de 2020, a rotina dos finais de semana de Stella, tiverem que ser interrompidas. As Praias já não podiam ser frequentadas, os shoppings se fecharam e a cidade inteira parou. Tudo que Stella amava fazer com os seus amigos, foram proibidos. Com rotina completamente diferente, ela teve que se habilitar à uma nova realidade. E quando menos esperou, as praias, shoppings e pontos turísticos tinham sido abertos novamente, mas todos com medidas protetivas rígidas.

Ela conseguiu ao máximo curtir os meses de Novembro e Dezembro, quando tudo estava funcionando normalmente. Em Fevereiro, a sua cidade voltou ao Lockdown e tudo teve que se fechar novamente e Stella outra vez teve que parar de frequentar os lugares que ela mais gostava.

A sociedade já não aguentava mais ter que cumprir com as ordens estabelicidas. Ter que está em casa antes das 18h, manter o distanciamento, evitar festa e ficar em casa. O Governo de Salvador, já não sabia mais o que fazer para impedi a expansão do vírus, que avançava cada dia mais sem parar. E Stella se via na obrigação de ajudar a sua cidade de alguma forma.

Na Tarde de um domingo, na sacada do seu quarto, enquanto observava o Pôr do sol, Stella imaginava como seria se tivesse o poder de reverter toda situação. E o maior desejo dela naquele momento era ver a sua cidade bem novamente. Foi ai que ela teve a brilhante ideia de conversar com Sol enquanto ele partia.

- Talvez eu até precise da sua ajuda- Disse Stella olhando fixamente para o Sol vermelho brilhoso.

- Se me amas de verdade como me disse no verão passado, eu sei que tentará me ajudar. -Continuou falando.

- O meu amor é o mais verdadeiro possível, Stella. Mas não tenho como te ajudar em meio essa situação. – Disse a bola vermelha prestes a sumir.

- Não se vá antes de terminar essa conversa, eu preciso da sua ajuda. Sinto saudades da nossa conexão. – Implorou falando baixo, pra que ninguém escutasse.

- Amanhã voltarei a brilhar novamente e irei clarear o seu dia, então, acorde cedo e me encontro na janela da sua área de serviço. – Disse o Sol desaparecendo rapidamente.

A menina passou a maior parte da noite, sentada na sacada de seu quarto, observando a Lua e as estrelas. Foi quando as estrelas desapareceram e o brilho da lua tinha se perdido em meio a escuridão. E naquele momento, ela percebeu que tinha algo de errado. Não tinha motivos algum da Lua ter se apagado, ou seja, algo tinha acontecido com o Sol.

Coberta de medos e angústias, Stella decidiu entrar para seu quarto e esperar o amanhecer. Porém, não conseguiu pregar os olhos, a sua ansiedade fez companhia a noite inteira. Eram 5:35 da manhã e ainda estava tudo escuro, não havia nascer do Sol, não havia o brilho solar e o calor matinal. Logo, Stella chegou à conclusão de que realmente tinha algo acontecendo com o Sol.

Já eram 7:35, toda cidade preocupada, em desespero procurando o Sol. Então Stella foi até a janela de trás de sua casa, se pendurou, abriu os braços e gritou "Brilhe novamente, apareça", mas nada aconteceu. Então ela voltou a olhar para o céu e falou baixinho "Sem você os meus dias são escuros, o meu mundo não tem luz. Sem você, talvez eu não seja ninguém, volte para mim.". Foi quando tudo começou a se clarear, e o nascer do Sol foi acontecendo, da forma mais linda e imprevisível.

Stella, ainda na sua janela, olhou para aquela bola brilhante e disse: "Não me deixe, não me abandone. O seu brilho é necessária e a sua companhia, é a melhor que eu tenho". Naquele dia, o Sol brilhou como nunca, um brilho seduzente nunca visto. Ainda nesse mesmo dia, o Sol se declarou para Stella ao se Pôr. Prometeu voltar, e disse que o pedido dela seria atendido.

Ansiosa, Stella correu de manhã bem cedo para observar ao nascer do seu melhor companheiro. E ele fez o que tinha te prometido. Ele voltou. E a alegria indescritível de Stella, era obviamente notável.

E depois daquele dia, as coisas na cidade melhoraram. Sevid-22 teve diminuição histórica em pouquíssimo tempo, comércio, serviços públicos e os pontos turísticos de Salvador, voltaram a funcionar normalmente. Os decretos do governo, diminuíram, pedindo apenas para que continuassem usando máscaras e se higienizando com álcool em gel.

Uma coisa que ninguém nunca imaginou, era que Stella, casaria com o maior amigo de sua cidade, o Sol. E que ela moraria de frente as águas claras da maré de Itapuã. As suas visitas ao seu amado, eram frequentes, ou melhor dizendo, eram diariamente. Depois da imensa ajuda que o Sol deu pra Stella, ela te prometeu, não te deixar por nada e ser sempre a sua melhor versão.

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