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A Inveja está por todos os lugares

O Diabo estava extremamente enfurecido. Isso nem mesmo poderia se considerar uma novidade, tendo em vista que ele estava sempre irritado com alguma coisa. Cada pequena coisa era o suficiente para estremecer e causar raiva em todas as partículas de seu ser.

Mas agora a raiva estava toda voltada a um único ser: Inveja.

Ele raramente saía do Inferno para ir ao Submundo, e mesmo podendo se transportar em um piscar de olhos preferiu ir do jeito mais convencional, com a ajuda de outros três resignados, enquanto tentava inutilmente se acalmar. Mesmo que quisesse muito acabar com a existência da Inveja, sabia que ainda precisava dela. Ela era importante, afinal.

Conforme se aproximava do Submundo, a raiva apenas aumentava. Não era à toa que seu pecado mais cometido era a Ira, apesar de seu favorito ser a Luxúria. Isso que ele sequer sabia como era a personificação da última citada; caso visse certamente iria se apaixonar.

Ao finalmente chegar em seu destino, o Diabo deixa os outros demônios para trás e segue seu caminho sozinho, pensando em como punir a Inveja. Certamente o melhor castigo, apesar de não ser divertido, seria prendê-la no Inferno e acabar com o seu livre arbítrio, já que claramente não o usava com sabedoria. Com os outros colhedores poderia se divertir mais, mas com ela em específico precisava apenas fazer algo que servisse como castigo — mesmo que talvez fosse algo temporário.

— Estou procurando pela Inveja — diz ao ver a mesma rindo enquanto bebe da garrafa de algum líquido mundano.

— Eu mesma — responde sem sequer olhar na direção da voz — e você quem é?

No entanto, ele não precisou responder. Quando a Inveja girou o corpo em sua direção pôde ver com clareza quem era o demônio em sua frente. Foi a primeira vez que sentiu verdadeiro medo de algo, já que era considerada extremamente corajosa nos mais diversos assuntos.

— Lúcifer?

— O próprio — ri um pouco, o deboche escorrendo por cada palavra sua e ainda mais pelo sorriso afiado que deixa reluzir em seu rosto — vim tratar alguns assuntos com você. É possível, querida?

A Inveja sentiu seu ego ser inflado e gostou de ser diferente dos outros colhedores, que jamais seriam tratados assim — pensava ela, claro. O demônio de pele esverdeada com algumas manchas pelo corpo sentou-se com o corpo ereto e cruzou uma mão na outra após largar a sua garrafa, focando totalmente no outro ser em sua frente.

— Em que posso ser útil? — Questiona sem sequer imaginar o quanto está sendo usada e prestes a ser totalmente manipulada.

— Soube que meus colhedores fugiram e que a culpa foi sua — explica o mais velho.

— Não é bem assim, também — a Inveja tenta, sabendo que será punida por seu erro, mas não temendo-o nem um pouco uma vez que finalmente estava de frente para o Diabo.

Ela foi a primeira colhedora a conseguir tal fato, isso era único e incrivelmente imensurável para ela.

— Explique.

O Diabo usou um tom mais forte para proferir tal palavra. Se a Inveja estivesse em forma humana, certamente teria toda a sua pele arrepiada nesse instante. Mas ela não tinha muito o que explicar, enxergava o que fizera como correto mesmo no fundo enxergando perfeitamente que tinha cometido o pior erro possível.

Ir contra as vontades do Diabo sendo que vivia sob o domínio dele era simplesmente um absurdo. Como alguém em sã consciência faria uma coisa dessas? Lúcifer apenas ria por dentro com a audácia da mais nova. Sua pupila era burra algumas vezes, isso sim.

— Eu só disse fiz com que eles se rebelassem contra você para que pudéssemos chamar a sua atenção — afirma a Inveja — os resignados são os seus favoritos.