4 - Não foi dessa vez

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Tudo estava tão silencioso que eu podia ouvir a respiração pesada e rude de alguém no mesmo cômodo que decidira me esconder

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Tudo estava tão silencioso que eu podia ouvir a respiração pesada e rude de alguém no mesmo cômodo que decidira me esconder. Lágrimas se acumularam nos meus olhos embaçando a vista. Não ousei limpar meus olhos, temendo que meu braço passasse sobre a borda da banheira denunciando minha ilustre presença.

De repente, um passarinho que nem tinha notado ter pousado na janela, voou e então alguém, um homem pelo timbre da voz, resmungou algo e voltou a fechar a porta com muita força.

Lágrimas voltaram a escorrer com força e eu fiquei ali chorando até os passos serem apenas uma memória e mesmo quando eu tinha certeza de estar sozinha, não me mexi.

O medo de ver algo que você não está pronta para ver pode ser paralisante às vezes.

Foi quando meu estômago roncou alto. Estava morta de fome e entre morrer assassinada por alguém ou de fome, optei pelo risco da primeira opção, do que as duas juntas.

Lentamente apoiei a mão na beirada da banheira e subi a cabeça para olhar em volta. Limpo.

Sentei na banheira, vasculhando algo para comer na bolsa. Estava tão cansada noite passada que nem tinha comido meu lanche, que agora era algo sem forma de tão amassado.

— Espero que o gosto esteja bom.

Dei uma mordida e uma explosão de sabores encheu minha boca. Em menos de cinco minutos o lanche tinha sido devorado e eu queria mais uns três. Já ia comer a bolacha quando o sonho voltou à minha mente.

Hunter havia dito que talvez eu demorasse em algo. Será que ele dizia que demoraria a voltar para casa? Então havia a chance de voltar? Com tal dúvida e esperança, decidi deixar a bolacha para mais tarde.

Saí da banheira, peguei a blusa de frio que tinha usado como cobertor e coloquei na mochila e resolvi procurar por um banheiro, com um vaso sanitário.

Um medo me percorreu: de que o carma me atingisse e a Sofia, de Perdida, viesse de noite rir de mim nos meus sonhos! Não deveria ter rido dela e sim chorado. Se eu precisar usar folhas de milho ou alface, como Ian havia dito tão obviamente. Em uma prece desesperada só pensava em "por favor, isso não".

Conforme estava em minha busca, percebi que a casa era muito, muito velha. Nada de banheiros com vasos sanitários e muito menos com papel higiênico. Sentindo ser merecedora da minha punição, resolvi procurar um alface, seria esperança de mais imaginar que seria tão suave como o papel de folha dupla?

Eu tentava ser o mais silenciosa possível. Não queria dar de cara com o homem irritado desta manhã. Fui para a cozinha, na esperança de encontrar algo útil.

Mas a única coisa que me chamou atenção foi o cheiro da despensa. Estava muito mais forte que no dia anterior. Fui avançando lentamente com medo que algo saísse dali.

Estava tão escuro lá dentro, não tinha nenhuma janela ou lâmpada, e decidi que ligar meu celular e usar sua lanterna seria a melhor coisa a fazer.

Entre Sonhos e PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora