9 - Uma Troca

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Depois do café da manhã, Ermelino se levantou e avisou que sairia para trabalhar, e Joaquina ficaria me fazendo companhia, com a autorização de sua mãe

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Depois do café da manhã, Ermelino se levantou e avisou que sairia para trabalhar, e Joaquina ficaria me fazendo companhia, com a autorização de sua mãe.

Quando ele passou pela porta, me levantei e avisei à Nina que logo voltaria. Alcancei Lino no meio do gramado e segurei seu braço. Ele se virou meio surpreso e esperou que eu começasse a falar.

— Sobre isso... — sinalizei seus olhos, que agora estavam mais claros e desinchados. — Não é da minha conta, mas se precisar desabafar, sei lá, eu sou uma boa ouvinte. Era isso.

Ele me deu um sorriso tímido e saí correndo de volta para minha nova moradia. Quando entrei, Nina estava na janela com o olhar perdido e nem precisei ir até lá para saber que ela o observava ir embora.

Comecei a tirar as coisas de cima da mesa e procurar onde guardá-las, logo ela lavou as louças do café e organizamos o pouco da casa que estava desajeitada.

O que me intrigava era: como não tinha nenhuma bagunça ali?

— Como um rapaz pode ser tão organizado? — soltei mais alto que pretendia e esperei por uma repreensão de Nina, mas ela só terminou de colocar os livros ainda mais alinhados e passar pano na beirada.

— Ele morou sozinho com a mãe por quase 5 anos, até que ela teve que partir, assim como os demais, e já faz 4 anos que ele mora sozinho, então imagino que ele aprendeu como manter as coisas arrumadas..

Não havia dó na voz dela, era uma compreensão, ou melhor, percebi que acabara de achar o que Diana queria para si. Amor.

— Morreram na guerra? — perguntei, agradecendo aos céus por saber o mínimo da história do Brasil.

— Sim. Ele era novo demais para ser convocado. Quando estava chegando à idade em que poderia ajudar sua mãe, uma enfermeira incrível, a guerra acabou. Ele recebeu a notificação das mortes no mesmo dia em que foi anunciado o término.

Fiquei um tempo digerindo o que ela tinha acabado de me contar. Lino realmente era aquele rapaz que faria tudo certo e isso realmente impressionava. Por muito menos que isso, alguns usam os acontecimentos da vida como desculpa para serem ingratos, imaturos ou irresponsáveis.

— Gosta de ler?

Pisquei algumas vezes antes de olhar para minha companhia, ela havia me perguntado aquilo mesmo? Como ela me observava, imaginei que sim.

— Amo — respondi com um sorriso no rosto, imaginando como ela reagiria se eu contasse como vim parar aqui.

— Aqui tem uns livros maravilhosos. Melhor herança que ele podia ter recebido da mãe, além das aulas e toda criação que ela lhe deu — falava olhando para a estante improvisada e tocava "Orgulho e Preconceito".

Já tinha dito que queria fazer dela uma amiga?

— Sabe, na madrugada de sábado, eu fiquei acordada até às três e meia da manhã lendo livro no meu celular. Simplesmente não conseguia parar.

Entre Sonhos e PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora