Prólogo

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O verão era forte em Loguetown, Sanji andava na sua bicicleta enquanto passava pelas ruas estreitas de pedras irregulares com cheiro de maresia. O céu era completamente aberto e as casas feitas de terracota. A cidade litorânea era bucólica e moderna ao mesmo tempo. Seus cidadãos eram bonitos, saudáveis e a predominância eram dos bons velhinhos. O vento desmanchava suas madeixas louras e o olho coberto aparecia junto do outro, mostrando suas íris de um azul celeste.

Chegou na sua casa e pegou da cesta da bicicleta o buquê de lírios que havia buscado para sua mãe, passou por um caminho de tijolos vermelhos no jardim e entrou pela cozinha. Sua bela mãe estava com a barriga no forno, preparando o jantar especial para aquela noite.

— Já disse para você deixar isso comigo. - Sanji sempre se indignava ao ver sua mãe fazendo coisas que gastassem muito a sua energia. Não era por que sua mãe era doente ou algo parecido e também não era de exclusividade sua, Sanji apenas detestava ver mulheres se esforçando. Era um cavalheiro que seguia a regra à risca.

— Okay, pegue meu lugar. - Sora largou a panela dando de ombros, nunca conseguia vencer a teimosia do filho e seria melhor se Sanji tomasse mesmo seu lugar quando se lembrava que era ele quem cozinhava divinamente. - Obrigada por buscar os lírios pra mim. - Cheirou as flores e logo foi tratá-las de colocá-las sobre a mesa da copa.

— Não sei por que fazer esse alarde todo pra receber um adolescente. - Reclamou enquanto mexia um caldo na panela.

— Não reclame, Sanji. Esse rapaz deve estar fazendo o seu melhor e por isso devemos no minímo recebê-lo bem. - Puxou a orelha do filho de leve e buscou o leque numa bancada para se refrescar. - Hoje está quente. - Observou, apoiada na bancada.

— Não está! - Resmungou. - Está sentindo calor por ter ficado até agora nesse forno.

Sora cruzou os braços e levantou o nariz. - Eu faço o que bem entendo! - Inflou as bochechas e Sanji revirou os olhos, sua mãe às vezes parecia ser uma criança. - Quando Reiju chegar da casa de Pudding, faça ela lembrar do jantar essa noite antes que escape pra ir numa festa.

— Okay, entendi. Mas ainda acho que não precisa receber esse aluno de intercâmbio com um jantar tão elaborado. - Murmurou num bico.

Sora ouviu seu filho antes de sair da cozinha. - Elaborado? Eu só quis fazer um jantar, você que começou a inventar moda e a comprar um monte de ingredientes. - Deu risinhos. - Acho que vocês dois já estão se dando bem sem ao menos se conhecerem, hein?

— Não enche, mãe!

— Ok, ok. Vou fingir que não está empolgado com o jantar. - Provocou mais uma vez e Sanji fuzilou seus olhos, a mãe saiu da cozinha em meio à risos. Sora sabia o quanto seu filho amava cozinhar e esse amor surgiu quando era apenas uma criança.

Sanji montava a mesa para o café da tarde, mas parou ao ver Reiju chegar em casa e ir direto pras escadas. Ela usava uma jaqueta com vestido e meião, ambos pretos, junto de botas, tinha o fone de ouvido grande ao redor do pescoço e saia uma música alta dele, fazendo o irmão pensar se ela não tinha medo de ficar surda.

— Reiju, a mãe disse pra você aparecer no jantar hoje a noite!! - Gritou do andar de baixo.

A garota de cabelos rosas parou os passos quando já estava abrindo a porta de seu quarto e desceu alguns degraus para encarar Sanji. - Mas eu vim aqui só pra buscar uma coisa e já vou voltar pra casa de Pudding!

— Pare de namorar tanto! Vive enfurnada na casa da coitada!

— Vai a merda, Sanji. - Voltou a subir os degraus. - E de coitada Pudding não tem nada!

A garota pegou mais algumas roupas e desceu para ir embora, Sanji já havia posto a mesa e a parou novamente. - Não vai mesmo obedecer a mãe?

— Ora, Sanji, é só um jantar. E um que você está se empenhando até demais, está tentando conquistar o convidado pela barriga? - Deu a língua num ar zombeteiro e o irmão rangeu os dentes de raiva.

— Não gosto de homens! Felizmente só você nasceu com problema pra gostar de mulheres!

— Ora, pare de destilar preconceito e me deixa ir. - Beijou o irmão no rosto e seguiu o caminho para o jardim. Sanji suspirou exausto, Reiju tinha uma pilha que nunca acabava.

A noite foi chegando e Sora foi até o aeroporto buscar o garoto. Havia dito pra instituição de seu país que poderia hospedar um aluno durante o intercâmbio na sua casa. O motivo era que Sora percebia seu filho ficar cada vez mais solitário. Que jovem se interessava por culinária? Quase nunca Sanji tinha algum hobby para compartilhar com os outros e acabava sempre sozinho, ele era completamente o oposto de Reiju. Por isso Sora contava com aquele aluno chamado Roronoa Zoro para que surgisse uma bela amizade entre os dois.

Sanji havia acabado de fazer a mesa do jantar quando sua mãe chegou com o rapaz. Ainda com o avental, foi recebê-lo esboçando um sorriso, mas ao ver a cor estranha de seus cabelos, ficou confuso. Verde?

Zoro era um pouco mais alto que o loiro, tinha pele morena, usava coturnos e três brincos na orelha esquerda. Parecia um punk com aquela expressão fechada e ríspida, sem dizer dos cabelos coloridos que provavelmente foram tingidos como os de Reiju. O que sua mãe arrumou?

— Sanji, esse é o Zoro. E Zoro esse é o Sanji. - Sora apresentou os rapazes, mas ambos permaneceram em silêncio enquanto se encaravam. A mulher riu de nervoso, pensou que provavelmente Sanji encarava o cabelo do garoto e Zoro a sobrancelha enrolada de seu filho. Pigarreou. - Sanji, ajude-o a levar sua bagagem e mostre o quarto para ele antes de jantarmos. - Pediu a mãe carinhosamente.

Zoro disse para Sanji que não precisava carregar sua mala enquanto subissem as escadas. Mas Sanji nem cogitou a ideia de ajudá-lo, por que faria esforço para um homem?

A terceira porta do corredor seria a porta do quarto de Zoro, que ao entrar notou que o espaço era ótimo, era até melhor que seu próprio quarto!

— O que é essa porta? - Perguntou apontando para uma porta azul. - Leva a um banheiro?

— Não. Ela dá acesso ao meu quarto. - Abriu a porta. - Viu?

Zoro ficou incucado e Sanji percebeu. - Eu não vou entrar no seu quarto ao menos que você queira.

— Desculpa. - Notou que Sanji ficara bravo.

— Tudo bem. Esse cabelo é natural?

— Claro que não! Eu pinto o cabelo de verde, é burro por acaso?

Sanji estreitou os olhos e coçou a cabeça, quem pintaria o cabelo pra ficar feio assim?

— Pensei que fosse algo do seu país. - Falou com escárnio e Zoro pensou que a xenofobia começou mais cedo que previa.

— E você? É normal ter essa sobrancelha nesse país?

— Quê?!

Não demorou muito para que os dois entrassem numa guerra que fez Sora ouvir a discussão no andar de baixo, teve que subir as escadas para pará-los, já que os gritos de ordem não resolveram. Ela viu os dois trocando golpes pelo chão e pensou se fez mesmo o melhor pro seu filho.

A porta azulOnde histórias criam vida. Descubra agora