Nami

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Gatilho: insinuação de estupro, abuso sexual

Era um dia lindo de acordo com Sanji que observava o azul do céu, deitado na margem do rio e pendendo um cigarro na boca. Olhou pro lado e viu que não tinha a companhia do marimo. No entanto, sentiu algo molhar seu queixo e depois de 1 segundo, de novo, mas dessa vez na testa. Quando se deu conta, caia uma chuva muito forte.

"Como? O dia estava aberto há pouco tempo."

Sentia-se ensopado devido as roupas molhadas e teve que puxar toda a franja para trás, senão não veria nada, nem com o seu olho direito. Pensou em ir pra casa e ao dar meia volta, viu Nami parada também na margem do rio. Estava ensopada pela chuva e seus olhos arregalados. Sanji sentiu medo ao fitá-los por estarem tão fúnebres, mas resolveu se aproximar.

— Nami-san, o que faz aqui? Está tudo bem?

Nenhuma resposta e continuava a olhar pro além.

Reparou que um sangue escorria nas suas pernas. Um sangue que não parava de escorrer. Como se ela estivesse menstruada ou...

Sanji acordou e levantou o torso violentamente. Sua respiração era descompassada e sua pele muito suada. Aquele foi um pesadelo horrível e pensou que ver Nami naquele estado não foi nada agradável. Em todos os sonhos que tivera com a ruiva, ela esteve sorridente ou nua. Porém, naquele parecia ter sido violentada, até suas roupas estavam rasgadas. Percebeu que tremia quando tentou ligar o abajur no criado ao lado.

"Respire fundo, Sanji!"

— Que olheiras são essas? - Sora perguntou assim que se sentou na mesa do café juntamente de Zoro e Reiju.

— Porque tenho que madrugar caso queira fazer o café antes de você! - Seu tom era rabugento e se sentou na mesa ainda aborrecido. Porém, o motivo de Sanji ter olheiras era outro. Não conseguira dormir depois do pesadelo com Nami.

A televisão da sala estava ligada naquela manhã. Dava para assisti-la muito bem da copa e o jornal da manhã começou noticiando uma notícia pesada, um homem fora preso depois de uma denúncia. Sanji ouvia a reportagem com atenção e entendeu que esse homem era um padrasto que abusava sua enteada.

Zoro notou que o sobrancelha enrolada não parava de encarar a TV e resolveu assisti-la para saber o que chamava tanto a sua atenção. Também entendeu que era uma reportagem sobre um abuso sexual em Loguetown. Arqueou uma sobrancelha e pensou: Essas coisas acontecem num país rico?

As identidades dos envolvidos se mantevem anônimas para preservar a imagem da vítima.

Pegaram suas bicicletas e enquanto andavam para a escola nas ruas estreitas e de pedras irregulares da cidade, Zoro resolveu fazer uma pergunta. - Por que está tão quieto?

— No intervalo te conto.

Chegaram na escola e guardaram as bicicletas no bicicletário, depois caminharam para a sala de aula. No entanto, levaram um susto quando viram um amontoado de alunos na entrada da classe. Sanji e Zoro entraram com dificuldade, desviando de todos aqueles corpos, e encontraram Christopher sentado em cima da mesa do professor contando uma história.

Como os garotos chegaram no meio da conversa, eles levaram alguns minutos para entenderem que Chris contava um relato de uma vez que trepou com uma garota da escola muito safada. Dizia com muito orgulho (ou muito machismo) tais palavras:

"Comi seu cuzinho bem no banheiro masculino."

E outras barbaridades que agitavam todos na sala lotada e os que ficavam no lado de fora também. Somente Sanji e Zoro não se interessavam e queriam que o sinal batesse logo. Porém, Christopher disse de repente "Nami" e Sanji apurou seus ouvidos. Após alguns segundos, o loiro descobriu que a garota safada que o escroto se referia era Nami.

— O padrasto dela só deve ter feito algo com ela, porque ela é dessas que tem tendência de ter uma vida sexual ativa muito cedo.

"Padrasto?" - Sanji se lembrou da reportagem de mais cedo.

Chris riu. - Eu sei muito bem o que aquela garota é capaz por alguns trocados.

Zoro sentiu uma inquietação e olhou para o loiro ao seu lado. Sua pele estava completamente vermelha e num piscar de olhos, Sanji golpeou com um chute o rosto feio de Christopher.

Sora fora chamada para ir até a escola porque, segundo a pedagoga, seu filho havia se metido em mais uma briga. Ela estava a procura da pedagoga no hall do prédio e a encontrou, mas a mulher disse que o diretor Iceburg achou melhor conversar diretamente com ele.

Tomava o café que a bela secretária servia e estava sentada na cadeira de visitas. Iceburg na sua poltrona.

— Foi uma briga feia. - Disse e Sora deu um sorrisinho pra deixar o ar menos pesado, mas parou ao perceber que estava piorando mais ainda. - Ainda assim, entendo o motivo para ele ter atacado outro aluno, senhora Sora.

— Como assim 'entende'?

— O rapaz que ele golpeou é problemático e estava mesmo pedindo pra levar uma porrada na cara. - Percebeu que foi mal educado e Sora riu. - Desculpa pelas palavras... - Pigarreou. - Até porque foi um chute.

— Não, tudo bem. - Continuava a beber o café que era realmente bom, mais tarde perguntaria a secretária a receita para dar a Sanji.

— Permitirei Sanji sair dessa impune.

— Sério??? Obrigada, Iceburg-san!!! - Levantou-se um pouco do estufado para abraçá-lo no outro lado da mesa. Iceburg ficou corado.

— S-seu filho está na enfermaria, pode levá-lo para casa junto do intercambista.

Sora soltou o diretor e riu em vê-lo sem graça, assim que deixava a sala, Iceburg a chamou de volta e se levantou de sua poltrona.

— Sei que é pouco, mas me perdoe por tudo que a escola já fez a ti e a sua família. - Fez uma reverência.

De vez em quando Sora se esquecia da humildade do diretor por ser muito cabeça de vento, e por isso era sempre pega de surpresa.

— Está tudo bem! Levanta essa cabeça! Não pegue tão pesado, Iceburg-san! - Deixou a sala, fazendo o homem ficar só com seus pensamentos.

"Por que são tão cruéis com pouca idade..."

No quarto de Sanji, o mesmo se deitava na cama com algumas ataduras no corpo. Sentia muita dor e Chris era quem venceu a briga, mas mesmo assim tinha um sorriso no rosto por ter finalmente tomado uma atitude e pisado bem naquela cara feia com toda a sua vontade. No entanto, ouviu batidas na porta azul e pediu para Zoro entrar.

— Está melhor?

— Não foi nada. - Sentou-se para o marimo se sentar ao seu lado. - Você ainda se lembra que eu contaria algo no intervalo?

— Não.

— Típico.

— Então, vou nessa.

— Pera! Eu vou te contar mesmo assim!

Sanji contou a Zoro sobre o encontro que teve com Nami na margem do rio depois da praia e também falou do pesadelo que teve naquela noite. Mas omitiu a parte que ela lhe dera um selinho, vai que aquele ogro fosse ciumento...

— Parece que ela sofreu bastante. - Contastou Zoro.

— E não contou a ninguém... E mesmo com os sinais, eu não fiz nada. Ela evitava falar com todo mundo, inclusive eu. Também nunca a vi machucada, mas ela ia de moletom pra escola em dias quentes como hoje. Me sinto mal por não ter percebido que ela gritava por socorro. E olha, que ainda assim senti que ela era infeliz e continuei a fazer nada. - Começou a chorar e Zoro o observava.

— No meu país é comum acontecer isso. Acho engraçado que um tão bonito pode acontecer o mesmo... Parece inevitável, mesmo se nos esforçarmos ou havendo vários projetos do governo, então não se cobre. Até porque agora ela está feliz com sua avó.

Sanji enxugava as lágrimas com os dorsos das mãos. - Tem razão.

A porta azulOnde histórias criam vida. Descubra agora