O dilema de Sora

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A cabeça latejava e os sentidos voltavam aos poucos. Quando abriu os olhos se viu rodeado por uns caras com capuzes pretos e que seguravam tacos de beisebol. As paredes e o chão eram revestidos por madeiras exatamente como uma cabana. Zoro se mexeu e percebeu que estava preso numa cadeira por cordas firmes e amordaçado. No lado esquerdo do rosto escorria sangue, provavelmente fora acertado por um daqueles tacos a fim de desacordá-lo. Nesse momento, se lembrou que voltava do mercado com o sobrancelha enrolada até tudo ficar preto.

Um homem também com capuz entrou na cabana, mas mesmo não podendo ver seu rosto, embora nem com isso fosse possível, Zoro sentiu que era o chefe. Um companheiro lhe entregou um taco e bateu o mesmo na palma da mão livre, duas vezes, para depois acertar o esverdeado.

Depois do chefe permitir, os outros homens encapuzados acertaram Zoro ao mesmo tempo. O rapaz ficou mais uma vez desacordado, mas antes pôde ouvir "estrangeiro de merda" sair de um dos encapuzados.

Fazia dois dias que Zoro estava desaparecido. Durante esse tempo a polícia de Loguetown procurava por ele em todos os cantos. Sora e Iceburg acompanhavam as viaturas, enquanto Sanji permanecia em casa inquieto, pensando onde poderia estar aquele idiota ou se estaria morto. Reiju e Pudding tentavam controlá-lo e o impedia de escapar para procurar por si só o marimo idiota. Porém, Sora ordenou para que tivesse paciência e que deixasse a procura com os profissionais.

Iceburg estava ao lado de Sora, os dois gritavam pelo nome de Zoro numa ilha próxima a praia de Loguetown. Chegaram até ali por lanchas e acompanhavam os policiais na procura. Havia sempre cães farejadores em busca do cheiro de algumas peças de roupas do esverdeado que Sora trouxera para a investigação. Quando escurecia, ligavam a lanterna e sempre gritavam pelo nome de Zoro.

Foi uma dedução da polícia procurá-lo na ilha, já que havia tido casos parecidos em que os policiais quase sempre encontravam o desaparecido naquele lugar, infelizmente também eram encontrados mortos com os corpos jazidos no manguezal.

Iceburg notou Sora perdendo as esperanças ao ver o seu rosto franzido e melancólico.

— Tenho certeza que o encontraremos vivo.

Ao ouvir essas palavras, a mulher caiu de joelhos no chão, sujando a calça jeans com a lama da floresta. - Eu sou uma péssima responsável... - Chorava e Iceburg se agachou.

— Sei o que é esse sentimento, é uma falsa ideia.

— Como?

— Eu tenho uma escola e me sinto responsável por cada aluno. Tenho todo momento esses sentimentos, como o que aconteceu com Nami. As coisas aconteciam debaixo do meu nariz e eu não percebia. E nos meus encontros com os pais, eu percebo que nenhum conhece seu filho de verdade assim como eu também não conheço nenhum de meus alunos de verdade. - Colocou a mão no ombro de Sora. - Isso pode acontecer com qualquer um, porque já faz parte do que é ser o responsável.

Sora enxugou suas lágrimas e se levantou com a ajuda do diretor para continuarem a acompanhar os policiais. Enquanto caminhava ao lado dele, ela pensou que Iceburg também se sentia igualmente responsável, quando fora ele que deixou Sora hospedar o esverdeado e quando o esverdeado era aluno de sua escola. Tinha certeza que ele a acompanhava por também carregar o sentimento de culpa. - Obrigada, Iceburg.

No quarto dia, os policiais adentraram uma cabana suspeita no meio do manguezal e encontraram Zoro dormindo amarrado numa cadeira. Sora soube dessa notícia em casa e contou para Reiju, Pudding e Sanji, que estava muito aflito.

O esverdeado foi encontrado ferido, mas estava bem. Logo depois foi transferido para o hospital de Loguetown, enquanto pensava que devia ter causado uma grande preocupação a todos. Principalmente a Sanji, aquele histérico idiota.

Sanji aguardava a sua hora para entrar no quarto de Zoro, mas o mesmo conversava com dois policiais a procura do motivo de lhe prenderem naquela cabana. O loiro estava ansioso e doido para fumar, mas sua mãe sentava-se ao seu lado e mantinha em segredo que era um fumante nato. E por falar em cigarros, naqueles quatros dias o idiota fumara tudo que tinha guardado ainda no segundo dia do desaparecimento e aguentou uma crise de abstinência terrível. Isso somado com a preocupação que sentia pelo marimo.

Os policiais deixaram o quarto de Zoro finalmente e Sanji se levantou do assento num salto e entrou no quarto com passos rápidos. Sora ficou pra trás e assustada com a preocupação do filho, mas assim que se levantou, os dois policiais pediram para conversarem com ela.

— Suspeitamos que é um caso de xenofobia. - Disse o policial mais alto.

Sora piscou os olhos, assustada.

— Zoro ouviu, durante uma série de golpes, o chamarem de "estrangeiro de merda". - Disse o mais gordo.

Sora caiu de volta para o seu assento, enfraquecida. - C-como?

— Recentemente tem havido muitos desses casos. - Disse o mais alto.

— Não podem ver uma pessoa com a pele escura, que a perseguem. - Disse o mais gordo.

— Entraremos em contato com East Blue e diremos o que houve nesse intercâmbio. - Disse o mais alto.

— Talvez ele terá que voltar para seu país. - Disse o mais gordo.

Sora deslizou uma mão nos seus cabelos loiros, desmanchando a franja e exibindo seu olho direito. Sentiu-se estupefata enquanto olhava ao seu redor. Não sabia o que dizer e nem o que fazer. Por um momento sentia-se estar num universo alternativo.

— A senhorita está bem? - Disseram em uníssono ao perceberem a mulher sem cor.

Como diria isso para Sanji?

A porta azulOnde histórias criam vida. Descubra agora