"Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar."
— Caio Fernando Abreu —
Morea leva as meninas para uma das salas do castelo e as convida a se sentar, a sala parecia como um tipo de escritório, era bem quieto e um pouco iluminado pelos poucos raios do sol que se refletiam na água.
— Muito bem, meninas, estamos em um dos lugares mais reservados daqui, portanto podem falar sem se preocupar. E quero avisar, Eivør. — a Tribuna se vira para a selkie. — O crime de interferir na vida dos seres da superfície de modo negativo é um dos mais cruéis, ainda mais por ser uma tentativa de afogamento. É passível de uma punição severa.
— Eu sei disso. E quero que saiba que só estou reportando isso à você pois Una me disse para fazer isso, afinal, você é a Tribuna.
— A anciã de seu povo é muito sábia, ela costumava nos orientar nos estudos, eu e a Marin... — diz Morea com um olhar triste e vazio.
Sabine levanta a mão com timidez para poder falar:
— Desculpe interromper vocês, mas desde que saímos de terra firme só escuto vocês falarem dela, quem é Marin?
— Marin foi uma das concorrentes ao cargo de Tribuna Marina, ela também era minha amiga de infância. Nós fomos criadas como irmãs, apesar dela ser uma sereia e eu uma ninfa. — responde Morea, ela se levanta e caminha até uma janela próxima para observar lá fora.
— Ela fez muito por nós aqui, era bastante dedicada. — complementa Eivør. — Teria sido a Tribuna perfeita.
— Olha, eu sei você não digeriu direito o fato dela ter sumido, nem eu mesma consegui. — diz Morea voltando-se para as meninas. — Mas nós precisamos seguir em frente. Eu procurei pelo oceano dias e dias atrás dela e não encontrei, pedi reforços até da guarda da Tribuna.
As duas meninas permanecem em silêncio e de cabeça baixa.
— E no final tudo que sobrou foi este colar, é a única lembrança que tenho dela. — a Tribuna puxa o colar para mostrar a elas, ele tem um cordão preto e um pingente redondo de ametista com um leve rebaixamento no centro.
Eivør levanta a cabeça e visualiza o colar de Morea e logo comenta:
— Olha, Sabine. O colar dela é parecido com o seu, só muda um pouco a forma e a cor.Sabine concorda com a selkie. Morea, por sua vez, observa o colar da humana com bastante interesse e atenção, ela tem um insight que a deixa surpresa mas não queria demonstrar para ambas as meninas.
— A propósito, humana Sabine. Este seu colar é um dos tesouros de sereia, então você se importaria em devolver para o povo que ele pertence?
— Sinto muito, este colar representa muitas coisas para mim e além disso me faz lembrar de minha mãe, eu encontrei essa pedra na praia, onde não tinha ninguém. — diz Sabine se agarrando ao colar. — E outra, pude ver que não existem muitas sereias, elas vivem junto com a tribo das selkies e se fosse realmente necessário devolver, tenho certeza que Una me pediria isso.
O silêncio toma conta do lugar por alguns instantes, até que Eivør avisa:
— Precisamos voltar para a terra, o feitiço da Una logo vai acabar e Sabine não poderá respirar.— Entendo. — responde a Tribuna. — Mas podem ter certeza que irei investigar essa situação da Sabine, tudo será resolvido. Eu garanto.
— Obrigada, senhora. Até mais.
Eivør não diz nada para Morea, apenas a encara e sai pela porta junto com Sabine para retornarem à terra. Enquanto isso, Morea continua sentada e pensativa:
— "Parece que a onda retorna uma hora, não é mesmo?" — disse consigo mesma.A Tribuna chama um dos guardas para passar algumas ordens, porém este guarda era um guarda diferente, ele aparentava estar meio nervoso e suava frio.
— O que deseja... Senhora? — disse o guarda relutante.
— Você tem servido bem aos meus propósitos, então tenho mais um serviço para você.
— Por favor, não me peça para fazer mais nada. A deusa irá descobrir e nós vamos pagar por tudo que fizemos...
— A deusa não acorda a mais de séculos! — interrompe Morea falando de maneira imponente. — Mas é você que sabe... Vai me ajudar ou não?
— Não... dessa vez não.
— Tudo bem então... — diz Morea enquanto brinca com seu colar. — Retire-se da minha frente então, não te chamarei para mais nada.
— Obrigado, senhora Tribuna...
O guarda vira-se em direção a porta, mas quando percebe a porta tinha sumido! Quanto mais olhava ao seu redor parecia diferente, não tinha mais janelas e nem chão, como se estivesse preso em algum tipo de caixa sozinho no espaço-tempo.
— Sabe que não posso deixar você sair assim... — diz a voz de Morea.
— Me deixe ir, não contarei nada a ninguém. Piedade, minha senhora. Piedade! — suplica o guarda.
— Você agora permanecerá comigo para sempre de agora em diante! Irei garantir que não me atrapalhe mais. — Morea solta um tipo de feitiço e transforma o guarda em pedra.
Ao sair da dimensão, Morea e a estátua do guarda estão no que aparenta ser uma sala no subsolo do castelo, era muito frio e escuro, nítido de que não era visitado a muitos anos.
— Agora... — diz Morea posicionando o estátua ao lado de uma grande fileira. — Você faz parte de minha coleção pessoal. Logo mais não precisarei estar nessa forma, finalmente conseguirei me libertar.
A Tribuna segura o colar em suas mãos e diz para si mesma:
— Eu irei pegar o colar daquela humana e irei garantir que ela e aquela foca intrometida sumam da face da Terra!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sereias & Selkies
Short StoryDepois de alguns anos em que teve amnésia logo após um incidente no mar, Sabine Vorgel resolve investigar o que aconteceu com ela e memórias remotas de sua infância. Porém com a chegada de uma estranha, o destino de Sabine está para virar de ponta c...