Eu costumava odiar as noites.
Era frio no orfanato. Eu me escondia debaixo das minhas cobertas, sentindo meu pequeno corpo tremer com o vago pensamento de alguma coisa estar me observando ao pé da cama, no breu espesso e espesso do meu quarto.
Agora eu observava o jardim, a luz da lua iluminando todas as hortênsias, azalélias e calêndulas que se dispunham quase vaidosas bem diantes dos meus olhos cansados, não temendo as sombras que me cercavam, tampouco cada monstro que se encondia nelas. Eu estava ligada à um deles, afinal. E eu o amei, tanto que deixei-o me marcar, me machucar, me roubar, todas as coisas que quisesse, desde que fosse comigo, desde que fosse com ele, eu não me importava.
Vladimir olhava soturno para as flores, os cabelos loiros mal escondendo os traços do rosto fino e pálido, tampouco os lábios crispados, como se lembrasse de algo, algo doloroso.
Ah, meu vampiro melancólico...
Me levantei do banco, vagarosa, temendo espantar seus pensamentos tarciturnos, arrepios se espalhando pela minha pele quando o vento soprou, frio, na minha direção, o tecido fino do vestido não servindo para me aquecer. Me aproximei de Vladimir, me acostando nele, como se necessitasse de carinho, de qualquer que fosse seu tipo. Vladimir no entanto, permaneceu gelado ao meu toque, não correspondendo a minha investida, como se seus pensamentos amargos fossem mais importantes do que eu. - Rainhas da noite. - Eu disse, sussurrando em seu ouvido como um segredo. - Rainhas da noite ficariam lindas no jardim.
Vladimir olhou de soslaio para mim, minimamente interessado. - Por que tulipas? E por que especificamente estas tulipas?
Me acostei mais a ele, satisfeita com o som da sua voz direcionado a mim mais uma vez. - Tulipas de um negro profundo, me lembram a cor dos seus olhos.
O vampiro sorriu, um sorriso tão parco que passaria despercebido por olhos desatentos, mas não havia outra coisa naquele jardim que eu estivesse mais interessada. - Às vezes se parece com a personagem de um romance, Eloise. Dizendo coisas fantasiosas que ninguém mais diria em voz alta.
Ri do seu sarcasmo mordaz, satisfeita por estar conversando com ele com tanta calmaria, como se nunca houvessem momentos de violência ou crueldade dentro das paredes da mansão que antes considerei como minha.
Me surpreendi quando Vladimir pôs os lábios no topo da minha cabeça, desferindo um beijo delicado e lento, como se quisesse aproveitar o momento, como se fosse difícil se afastar. Mas ele se afastou, ele sempre se afastava. - Não há flor que se compare ao branco dos seus olhos. São irreais, espiralando magia, derramando encanto. Pode quebrar qualquer um com olhos assim. - Me derreti próxima a ele, saboreando o tom doce das suas palavras. Vladimir não me elogiava com frequência, mas todas as vezes que fazia era um espetáculo. Quis desesperadamente que me abraçasse.
Pus as mãos em seu braço, suplicando que me desse mais atenção, que me cedesse qualquer tipo de afeto. - Me beijaria se eu pedisse, meu senhor? - Disse, escondendo meus desejos atrás da minha ironia.
Vladimir semicerrou os olhos para mim, soberania se movendo em cada recanto deles. Odiava quando me olhava assim, com soberba, como se ele ainda fosse um lorde, um mercador, como se eu fosse a sujeira que se encontrava na sola dos seus sapatos. Mas ao mesmo tempo, meus joelhos tremiam todas as vezes que ele me lançava esse olhar cruel, com algo se remexendo tão perto do meu interior. Talvez depois de tantos meses, tivesse relamente me tornado uma masoquista.
- Posso implorar se quiser. - Brinquei, mas ele sabia que eu estava falando sério.
- Adoro quando implora. - E como poucas vezes acontecia, ele me deu um sorriso, um sorriso maldoso e repleto de lascívia. Apertei seu braço mais forte, tentada a cair no chão, se fosse necessário. - Mas não será preciso.
Meu coração palpitou com sua resposta, acelerando dentro do peito. Vladimir aos poucos se virou para mim, os olhos negros escurecendo conforme me encaravam, o rosto próximo ao meu, o rosto frio e apático, tão vazio de qualquer emoção que não fosse desgosto, mas ainda assim repleto de um carinho frígido que sempre seria melhor do que qualquer amor fervoroso.
E então ele me beijou.
Eu não conseguiria me sustentar por conta própria, então ele me segurou, com afinco, com tenacidade, como se não quisesse que eu partisse, como se nunca fosse aceitar caso tentasse. Seus lábios eram sempre gentis, me acariciando com delicadeza, como se temesse que eu me despedaçasse caso fosse brutal, me beijando com um fervor fino, algo suave como a brisa, como a luz do sol no início da manhã, quente e aconchegante, coisas simples que me faziam querer ficar para sempre.
Seus braços me puxavam para mais perto, meu peito já se colando nas lapelas do seu casaco, minhas mãos viajando pelos seus cabelos longos, adorando o jeito como ele às vezes mordia meus lábios com as presas afiadas, nunca forte o suficiente para que sangrassem, mostrando para mim como ele sempre teria total controle da situação.
Por isso o odeiei quando se separou, ainda me inclinando para frente como se não aceitasse que havia sido apenas isso. Vladimir mordeu meu queixo com carinho, deixando claro que seria a última vez que me tocaria naquela noite.
Me senti terrivelmente solitária quando ele se afastou, partindo para a mansão sem olhar para trás nem uma vez.
Mas eu esperaria, esperaria pela próxima vez que me desse apenas um pouco do seu amor inconsistente.
Para sempre, se fosse preciso.
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Tulipas • Moonlight Lovers •
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