Introdução

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Não há lugar para onde correr: as mudanças, quando precisam acontecer, sabem como nos encontrar.

Ana Jácomo

"Os pequenos olhos de Sunshine demonstravam sempre estar felizes, e mesmo que eu o invejasse, era compreensível para um gato-sushi de pelúcia. Às vezes eu queria ser como ele. Bem, eu não estaria sentindo minhas lágrimas correrem pelo meu rosto como agora. E nem sentiria medo ou saudade.

— Shine, — como carinhosamente o apelidei — meus pais estão em um lugar melhor, isso eu entendo, mas você acha que também iremos? Digo, não para o céu, mas... Adam.

Sussurrei baixinho e o apertei. Como esperado, se manteve ali, mas o silêncio voltou a consumir o quarto. "

...


— Lis? — Ouvi uma voz feminina, juntamente com o toque em meus braços. Sorri sem abrir os olhos, senti meu corpo consumido pela preguiça, porém, queria que ela soubesse que já estava ouvindo-a.

Chegou o dia, mas ainda assim, a cama me parecia mais convidativa que ir embora. Nada que surpreendesse alguém, já que eram por volta das cinco da manhã. Levantei vagarosamente, me obrigando a abrir os olhos e dizer bom dia para Sra. Madison.

— Bom dia... — Esfreguei meus olhinhos e minha voz embargada fez com que a velha mulher soltasse um pequeno riso.

Sra. Madison era uma mulher aqui do internato, eu não sei bem o que ela faz, mas vive com papeladas na mão e com semblante preocupado. Os seus cabelos já perderam a cor, mesmo depois de pinta-los recentemente. Era uma dona carismática e de idade, resumindo.

— Não se atrase, mocinha. Adam nos pediu que estivesse pronta às seis. — Levantou da ponta da cama a qual estava sentada e foi em direção da porta — E parabéns atrasado, você é uma adulta agora.

Aquelas palavras finais fizeram com que eu tivesse um breve arrepio. Abracei Shine só de pensar que teria que o deixar em alguma fase da vida.

Sunshine era um gato com um sushi em cima, que ganhei assim que cheguei ao internato, junto com um monte de roupa. Adam, foi o "presenteador". Desde então, faço o bicho de pelúcia como melhor amigo, e já percebi que não fiz errado, já que as garotas daqui são esnobes e só pensam em garotos.

Não que eu não goste delas, é mais o contrário. Elas odeiam o fato de eu ser "café com leite", ou como elas preferem dizer: criancinha idiota. Se fosse pela idade, estava ótimo, mas a causa do bullying é simplesmente meu jeito de ser. Preferir brincar de pega-pega à falar de beijos atrás do colégio. Eu nem teria o que falar, eu nunca nem beijei.

Assim que Madison saiu da minha vista, com muita força e pouca coragem, fui em direção ao banheiro para tomar um banho quente.

A ansiedade me consumia, porém, coloquei os pensamentos ruins de lado e cantarolei uma música que gostava.

I need it to stop

And I want to be able

To open up but

My feelings are fatal

Me senti em uma turnê durante o banho. Mas me dei por convencida que a música ficava melhor na boca da Mxmtoon. Além disso, acho que minhas barbies que estavam no box do banheiro não deveriam estar gostando tanto como eu.

Era incrível como o lugar que eu morava a alguns anos era tudo muito chique. E, mesmo estando lá a tanto tempo, nunca conheci pessoalmente quem bancava tudo aquilo. Ouvia histórias das tias que Adam era um rapaz muito rico e sempre presava pelo meu melhor. Quase acreditei nelas se não fosse o fato que ele nunca quis trocar uma palavra comigo. Não até agora.

Arrumei-me rapidamente, tentando entender como um homem acharia que eu ficasse bem com apenas uma hora para isso. Estava já com uma camisa de gola social, um vestido de crochê rosa claro por cima, de maneira que a gola e as mangas aparecessem. Perfeito para o tempo que eu tinha. Até tentei não colocar minhas duas presilhas de morango no cabelo, mas... Eu gostava tanto, são tãão lindas e fofas.

As roupas que Adam me mandavam eram um tanto quanto clássicas, mas eu ganhava sempre uma certa quantia de dinheiro, então, meu guarda roupa era baseado em cores pastéis e eu tinha muitos brinquedos. Em segredo até uma chupeta e uma mamadeira.

Eu nunca entendi porque eu tecnicamente "não evoluía", mas de qualquer jeito, me sentia melhor assim.

Depois de um tempo, (no qual eu desci as escadas após me arrumar)

Fiquei sentada na diretoria do internato, balançando os pés e arrumando o vestido de Shine. E sim, ele é uma pelúcia machinho. Ficava mais bonito de vestido que gravatinha.

Cheguei por volta das cinco e cinquenta e oito, contando com o atraso de Adam, já que era sempre ocupado. Ocupado demais para mim. Porém, acredito que dessa vez, eu cai no erro de julga-lo mal.

— Huh, — uma voz grave e rouca toma conta do local — eu sou o responsável por Ellise.

A voz foi direcionada para a secretária, mas ao ouvir meu nome imediatamente fixei os pés no chão e olhei para o dono da voz. Um homem de aparência jovem, que não passava dos vinte e quatro anos, dos olhos castanhos-esverdeados vestindo um terno preto. Devo dizer que esperava um velho.

O cabelo preto meio bagunçado eram um charme, apesar de social, ele não se enchia de gel. E o seu cheiro... Seu cheiro misturado com o meu de morango eram tão agradáveis.

— Deve ser engano. — Fala novamente após a resposta da mulher que não ouvi por causa dos meus devaneios — Ellise é uma garota de dezoito anos já. E não...

— Prazer, Sr. Beaumont. — O interrompi me colocando na frente dele e dando um largo sorriso — Sou eu.

— Você... — Ele sorriu de volta.

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