❖Dia um❖

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Dayane point of view (Pov)

Hoje eu descreveria como um dia comum no trabalho. Pessoas trabalhando enquanto tomam um expresso reforçado, outras apenas frustradas por não terem sido pedidas em casamento.

Coitada da senhora Artmann, falou tanto disso.

Também tem os que vem tomar café antes de ir para o trabalho, sempre quis saber o que passa na cabeça dessas pessoas. Mas é evidente que quase nenhum gosta do trabalho que tem.

Exceto a Lídia. Se não me engano, ela maqueia pessoas famosas. Tem várias fotos com celebridades, e fez questão de mostrar todas. Mas não sabia o que responder "Nossa que incrível, parabéns por trabalhar para pessoas famosas, pena que a maioria eu não conheço, e dúvido que metade dessa cafeteria conheça" É isso que eu devia falar?

E tem ela. Nunca nos falamos, mas consigo fazer uma boa leitura labial. A única coisa que sei é que ela pede sempre a mesma coisa, café e canela. E eu sempre coloco um pouco menos de açúcar. Nunca reclamou, então faço isso todos os dias. E diferente das meninas do oitavo ano, que ficam falando sobre garotos, popularidade, e escola. Ela apenas Fica fazendo alguma coisa num caderno amarelo. E em torno de 15 minutos, termina tudo e ergue seu óculos preto, não tão quadrado, mas também não tão redondo, é perfeito para seu rosto, e cai bem já que tem cabelos ruivos.

Não é como se eu ficasse vinte e quatro horas por dia a observando. O tédio é o grande culpado. Ela tem um laço no cabelo, uma bolsa que fica atravessada, uma blusa cor mel, uma calça jeans clara e um tênis azul. Com um lado do fone caído, e o outro em seu ouvido.

Vejo Luana levando um café até sua mesa.

Será que não gostou do meu?

Fez uma cara de quem foi pega de surpresa, deixou o café de lado anotando alguma coisa em seu pequeno caderno. Olho para o lado vendo a Lídia vindo em minha direção, ao mesmo tempo ela levanta a mão. Essa é minha oportunidade de fugir.

–Luana atende a Lídia, vou na mesa sete– Falo saindo rapidamente. Não costumo sair de trás do balcão, mas iria ser uma sessão de tortura conversar com  Lídia,

–Olá, posso ajudar?– Pergunto vendo ela fechar o caderno.

–Poderia refazer esse café por favor?– Sua voz é doce e calma, porém um pouco arranhada, consideraria um charme, já que é bem suave.

–Tem algum problema com ele?–Ela olhou para seus pés, como se eu estivesse dando uma bronca.

–Esquece– Respondeu minha pergunta uns segundos depois.

–Ah me desculpe, eu faço. Sem problemas– O sorriso que eu esbocei depois de falar foi sincero, mesmo que com quase todos os clientes eu ficasse um pouco irritada por estarem reclamando e ter que fazer de novo. Mas esse não, isso pode significar que ela gosta do meu?

Peguei o pequeno pires, coloquei em cima da bandeja. E saí. Comecei o processo. Que sinceramente me agrada, colocar o café, o leite, mexer, um pouco de açúcar, canela, e mexer novamente. Coloquei um marshmello do lado, e fui até ela.

–Aqui, desculpe a confusão– Apoiei em sua mesa. Como foram poucos segundos, deu para reparar apenas em suas unhas pintadas de cores diferentes. E o lápis quase em seu fim.

Logo estando de volta atrás do balcão, acompanhei a mesma coisa do dia a dia. Pessoas fofocando, comendo, tirando fotos. E ela apenas olha para a rua, o que é um pouco irônico para falar a verdade, já que essa é uma cafeteria estilo francês, as coisas são bonitas e finas. Por isso é um lugar caro. Mas é bom. Essa é a minha parte preferida de trabalhar aqui. O café. Posso beber de dia e de tarde.

Mas voltando ao assunto, é irônico por que é clichê. E clichês não costumam me agradar. Mas me imagino sendo gravada nesse exato momento.

Ela saí em torno das 11:25. E volta as 15:10. E pede a mesma coisa, porém com um pouco de chocolate. Nesse eu não coloco açúcar nenhum.

E lá está. Com a mesma roupa porém com um casaco de veludo estilo crochê por cima.

E mais uma vez. Café, leite, chocolate, canela. Luana vai até ela e volta  com o pedido anotado

–Café e canela, com chocolate–Dou o pedido em sua mão, e jogo o papel no lixo.

–Boa tarde, poderia me dar um café cremoso?–Anoto no papel

–Para viajem?–Assentiu.
Pego o creme e coloco dentro do copo que tem café com leite, mexo, coloco a tampa, pego um canudo e colher, coloco numa sacola e dou para a mulher–Você pode pagar ali no caixa. Obrigado–Falei sorrindo.

Foi isso o dia inteiro, do café mais simples, ao mais complicado e demorado de fazer.  E logo estava perto do fim do expediente. E como sempre, a garota do caderno está lá. Por último. Anotando algo.

Assim que  olha em volta e vê que não tem ninguém. Coloca tudo em sua bolsa, vai até o caixa, e logo saí da loja, virando a direita.

Fecho tudo e vou até meu condomínio, que é do outro lado da rua. Tomo um banho, e na maioria das vezes como algo  prático de fazer. E assim acaba meu dia.

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(Revisado)

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Café e canela// DayrolOnde histórias criam vida. Descubra agora