As primeiras pessoas sempre são as que precisam trabalhar mais cedo. Apenas vem até mim, falam o que querem, apoiam a cabeça no balcão, e acham um jeito de mandar o chefe ir se foder em quinhentas línguas diferentes. Pelo menos é o que eu imagino.
Até agora já fiz cinco extra-forte e um café com leite. Está bem mais claro. É mais ou menos nesse horário que a Luana chega, mas ela machucou a perna. Então vai chegar atrasada, e depois eu vou ter que anotar pedidos. Não trabalhamos só nós duas. Tem pessoas trabalhando em fazer os ingredientes, tipo a espuma do café cremoso. E os donos estão dentro da sala deles. Eu fui obrigada a trabalhar aqui. No começo eu não gostei muito. Mas depois eu percebi que posso melhorar minha capacidade de prestar atenção nas pessoas. Não que eu espere que vá usar isso futuramente. Mas vai que a Nasa me contrata.
Os donos desse lugar tem os pais franceses. Não sei o que vieram fazer numa cidade como essa. Não tem muitos habitantes. E é frio. O contrário de cidade dos sonhos. Será que vieram para cá esperando dar de cara com uma Hollywood?
Danville. Sim, nossa cidade tem o nome de uma cidade de desenho animado. Mas não tem aventuras e nada disso. São apenas pessoas vivendo a vida da maneira mais triste possível. E diferente do outros lugares, as crianças não estudam para ser o futuro da nação ou coisa assim. Elas estudam para sair o mais rápido que puderem.
Dificilmente o calor acompanha o sol. Está frio o tempo todo. E mesmo assim vendemos café gelado.
Vejo Lua entrando na loja, andando um pouco torto. Isso é a consequência de tomar banho descalça.
–você está bem?–Pergunto abrindo a portinha pequena de madeira.
–Na medida do possível sim. Vou sair mais cedo. Tenho que ir no médico, a Giulia vai entrar no meu lugar– Apenas murmurei um "ok" Pegando a bandeja, indo até a mesa de um grupo de pessoa que acabara de chegar.
–café gelado, chocolate quente, café preto–Anoto tudo rápidamente
–Só isso? –Pergunto tentando ser o mais educada que consigo as 7:30 da manhã.
–Três pães de queijo–Anotei e fui até mais duas mesas. Peguei o papel com todos os pedidos e coloquei em cima do balcão.
A porta faz um barulho de sino quando abre, e isso me irrita. Entra gente a cada três minutos. E eu não posso usar um fone. Porém só faz esse barulho quando abre toda a porta. E aquela menina não abre. Então nunca sei quando ela chega.
Pego os pedidos que estavam prontos, entrego, e volto para pegar o resto. Assim que paro para ver se não tinha ninguém sem bebida. Vejo ela entrando pela porta, sem fazer o barulho irritante que tanto me incomoda. Hoje está com um vestido florido. A sua bolsa de sempre. O fone de um lado do ouvido. A mesa que ela costuma sentar está ocupada, então senta numa próxima. Fui até lá.
–O de sempre?–Assentiu vagarosamente. Anotei no papel, coloquei em sua mesa e fui fazer pessoalmente.
Café, leite, um pouco de açúcar, canela. E está pronto. Levei a xícara junto com o pequeno prato. Deixei em sua mesa.
–Obrigada–Murmurou. Me virei e voltei a atender mesas, as vezes olhava para ela, que está com um livro na mão, e seu caderno na mesa.
༶•┈┈⛧┈♛
Já está quase no final do expediente, Lua já saiu faz um tempo e eu dispensei Giulia. Tem poucas pessoas, e estão Apenas terminado de comer, todas elas já pagaram, incluindo a garota do caderno. O tempo não está muito bom, as nuvens estão bem pesadas. Não sei se é assim que eu descreveria um bom fim do dia, mas me é agradável.
Pequenas gotas começam a cair, passando pelo vidro da cafeteria, um mais rápido que o outro. Muitas pessoas se apressam para comer e sair. Desejei boa noite para todas elas. E estávamos sozinhas. E mais uma vez ela olhou em volta, colocou suas coisas dentro da bolsa, e saiu pela porta.
Respirei fundo. Arrumei as coisas que faltavam, fui até o armário que tinha os guarda-chuvas. Assim que finalmente consegui pegar um, coloquei meu casaco. E saí.
Me assustei com ela parada embaixo da lona verde musgo, seus pés molhados pela chuva. Andei até certa parte, mas meu subconsciente me obrigou a voltar.
– Você... Quer.. Você–Respirei fundo e recomecei– Você gostaria de entrar? É, você Quer entrar?–Não sei se estou tremendo pelo frio ou pelo nervosismo.
–Se não for incomodar–Neguei. Peguei a chave que ainda está em minhas mãos, e abri. Dei espaço para ela entrar primeiro, entrando logo em seguida.
Deixei o guarda-chuva no chão. E apontei para a mesa sete, em frente a janela.
–Pode se sentar ali–Assentiu vagarosamente. Fui para trás do balcão. Peguei leite, canela, chocolate em pó. Liguei o micro-ondas e coloquei dois copos.
Cinquenta segundos depois tirei. Adicionei marshmallow
Desliguei e limpei tudo. Voltei para a mesa. Onde ela está com um lado do fone de ouvido, olhando para a rua.
–Aqui–Falo deixando um em sua frente.
–Obrigado–Me sentei, olhando para a bebida jogando o ar quente em meu rosto. É bem reconfortante para falar a verdade. Não gosto de chocolate quente, mas ele serve para quando está frio.
Diferente do que eu achei. Está um ambiente agradável. Sem aquela tensão de quando está procurando algo para falar. Ou quando te obrigam a falar com sua tia por telefone, você nunca sabe o que falar, e apenas responde: sim, é, pra senhora também.
Aos poucos a chuva foi parando. Até não dar para ver as gotas.
–Quanto?–Saio dos meus pensamentos, me virando pra ela. Que me olha.
–Perdão?–Pergunto terminando de tomar o líquido já frio.
–Quanto é o Chocolate quente?– Perguntou erguendo seus óculos.
–Ah.. Por conta da casa. Nossa, eu já posso morrer feliz.Sempre quis falar isso–Agora estou me sentindo num filme clichê adolescente.
–Obrigado novamente, desculpe o incomodo–Levantei junto a ela.
–Não tem problema. Espero que tenha gostado–A acompanhei até a porta. Acenou com a mão. Apenas respondi com a cabeça.
Assim que ela virou a direita, peguei as coisas na mesa. E comecei a lavar. Terminei em alguns segundos. Sequei minhas mãos e voltei a parte do balcão.
Ela está segurando um papel na mão. Escrito
"Qual seu nome?"
Peguei o papel que usamos para anotar pedidos e escrevi o mais rápido que pude.
"Dayane=Day"
Me aproximei da porta, encostando o papel no vidro. Ela leu e voltou a olhar pra mim. Falando algo. Como fiz leitura labial não sei se está certo. Mas entendi que ela disse
"Obrigada Day, até amanhã"
Apenas dei tchau com a mão, não sabia muito bem o que responder. Ela virou novamente a direita, mas diferente desta vez. Não voltou..
• • • • •
(Revisado)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Café e canela// Dayrol
FanfictionNão é como se eu ficasse olhando ela vinte e quatro horas por dia. É só que não tem nada muito interessante para fazer. Além do fato dela pedir sempre a mesma coisa. Café e canela..