Capítulo 35

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Passei meus dias intercalando entre dois momentos.

O primeiro era quando ficava com minha família. Pela primeira vez durante muita tempo, tive a oportunidade de simplesmente me sentar juntos deles em um tapete na sala e jogar uno, me sentar no sofá e assistir filmes de comédia - amava essa parte principalmente por conta dos comentários do meu pai, que deixavam tudo ainda mais engraçado - ajudar a aguar as plantas ou fazer o almoço. Cada pequena coisa que talvez fosse comum para as pessoas, mas não para mim, me faziam esquecer por um momento a Maia famosa, me faziam conectar com uma parte minha que não lembrava há muito tempo.

Acordava sempre com um bom dia sorridente da minha mãe e ia dormir sempre com um abraço caloroso do meu pai. Faziamos vídeos chamadas com meus primos, avós e tios. Íamos até ao outro lado da calçada da rua vazia somente para vermos o por do sol ou brincarmos com os cachorros dos vizinhos. Escutávamos MPB enquanto passava o jornal no mudo da tv da sala e faziamos karaoke quando Amy ia nos visitar. Sinceramente, estava sendo melhor do que imaginava.

Mas havia a outra parte focado no trabalho. Estava conseguindo produzir bastante coisas, o que me deixava muito feliz. Às vezes mandando para meus produtores para ver o que eles achavam do ritmo da música, eles respondiam dando as opiniões e eu ficava horas compondo.

Separei as canções em duas colunas. A primeira era as que eu queria que tivessem uma batida mais pop, como a Wildest Dreams. A outra, era as que eu queria que fossem mais violão e voz, como a When I look at You.

Independente disso, todas eram bastante vulneráveis para mim, me sentia vulnerável. Escreve-las exigia visitar memórias distantes ou ainda frescas. Memórias que viraram experiências e que eu não me esqueceria tão cedo.

Apesar de estar em fevereiro e saber que meu namoro com Harry havia acabado ano passado, apesar de saber que já era o tempo para eu superar e seguir, eu ainda conseguia me lembrar de tudo e era difícil deixar ir. É, me lembrava tudo muito bem.

E por me lembrar, que decido compor uma música sobre isso.

Estou sentada no chão, apoiando meu caderno em cima da cama, pensando em como terminar o primeiro verso da música.

Meu violão está em meu colo, depois de eu tirar as cifras dele e testar notas novas. Mordo a ponto da caneta, concentrada em cada palavra que escreveria ali que se tornaria uma das faixas do meu álbum.

A porta está fechada, minha família sabia que era a hora do trabalho, mas tinha certeza que eles aguardavam ansiosamente para eu sair daquele cômodo e voltar a conversar. Enquanto isso não acontecia, o silêncio fora competia com o barulho dos meus pensamentos.

O celular vibra, tirando minha concentração. Não iria ver o que era, na verdade iria colocar no silencioso, mas vejo que era uma mensagem da portaria do meu condomínio e fico um tanto preocupada.

“Boa tarde, Maia.

Entramos em contato com você pois hoje Harry Styles veio até aqui te procurar.

Ele deixou alguns pertences que disse ser seu. Um óculos, um livro e um chaveiro.

Tudo estava solto, então colocamos em uma caixa e guardaremos com cuidado para que você retire na portaria assim que voltar.

Não demos informações sobre sua localização ou data de retorno. Por favor, qualquer dúvida, entre em contato conosco.”

Solto um riso fraco. Começo a tentar me lembrar o motivo de ele estar com essas coisas, provavelmente havia esquecido em sua casa.

Penso mais um pouco e me lembro do cachecol que na primeira visita na casa de Gemma esqueci. Harry disse depois que havia pego e que estava em sua gaveta de seu quarto. Ele não havia devolvido junto com os outros pertences.

Fool For You | 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora