Alguém como ele

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"Ando na sala, tiro o seu casacoVocê parece tão legal, eu tenho estado tão frioVocê quer ser minha especialEu não posso respirar, por favor, vá logo para casa

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"Ando na sala, tiro o seu casaco
Você parece tão legal, eu tenho estado tão frio
Você quer ser minha especial
Eu não posso respirar, por favor, vá logo para casa

Você é um monstro do inferno"

- Sir Chloe

Ela só queria acordar

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Ela só queria acordar.

Desejava que tudo não passasse de um mero pesadelo, rezava para acordar no quarto vazio, podendo suspirar aliviada, colocando a mão sobre o peito para sentir os batimentos cardíacos disparados, não iria conseguir dormir novamente. Contudo, preferia o encontro da insônia consigo do que permanecer presa ao cenário caótico.

O corpo permanecia amarrado na cadeira.

O cadáver largado ao seu lado.

E Jeff a encarava satisfeito, passando a língua nos lábios, apreciando cada minuto.

— Você não deu um sorriso até agora, o raio de sol está triste? — Questionou, erguendo a sobrancelha. — Cadê sua simpatia diária? Sempre forçava um sorriso quando me atendia… Suponho que esteja sendo um pouco rude hoje.

— Por que está fazendo isso? — Escutá-lo e vê-lo agir como se nada estivesse acontecendo, dificultava o ato de reprimir o pavor instalado. Precisava manter o autocontrole, gritar e implorar não adiantaria com um ser que é incapaz de possuir empatia. 

— Porque quero fazer as pazes com você, podemos ser amigos.

— Você tem uma faca e está sujo de sangue.. — Suspirou, desviando o olhar. — Não é como se eu tivesse muita opção.

— E isso é ótimo, não? — Jeff largou a caixa de donuts no sofá, se levantou calmante chegando próximo da menor, que é dominada pelo medo, deixando o raciocínio embaralhado no instante que o outro agarra seu rosto. — Porque imagina se não fôssemos, você continuaria sendo a vadia que me estapeou e atrapalhou toda minha diversão…  — O aperto aumenta, podendo sentir o maxilar travar com a pressão dos dedos. — Tem noção de como seria seu fim? Pense na pior das hipóteses, garanto que nada se compara com a realidade. Nossa expectativa não passa de uma idealização vazia.

Não pôde conter as lágrimas, suas bochechas estavam sujas devido o sangue nas mãos dele, agravando o cheiro forte, fazendo-a conter a ânsia de vômito.

— Não precisa chorar, somos amigos agora, logo, o pior está de longe de acontecer. — Ele comenta vagamente, tratando o assunto com irrelevância. — Mas, isso pode mudar, caso tente me sacanear, eu não sou de dar segundas chances. — Jeff ficou agachado, estando na mesma altura de Carmen.

O corpo fica estático, incapaz de exercer qualquer movimento que pudesse afastá-lo. Podendo ver o sorriso largo surgir na feição dele, enquanto pressiona o dedo indicador, com sangue ainda fresco, contra os seus lábios simbolizando que não existe escapatória para ela.

— Segredos entre amigos… Parece um bom começo para nós.

— Que merda de jogo psicológico você está tentando fazer? — Não conseguia discernir, tão pouco encontra lógica no meio de tanta loucura. — Costuma agir assim antes de matar?

— Não, eu costumo espancar a pessoa antes, é perda de tempo fazer ameaças banais. — Explicou, jogando a cabeça para trás sentindo o pescoço estalar, Carmen pode enxergar os detalhes de Jeff tanto as tatuagens, piercing no nariz e o brinco no formato de cruz na orelha esquerda. — Eu não vou fazer nada com você, amanhã poderá voltar para a sua vidinha.

"Ele vai me deixar ir? Ou não passa de um blefe?"

Foi inevitável não esconder a surpresa no término da frase, Jeff exala superioridade à medida que toca na mecha do cabelo de Carmen, que se contém para não xingá-lo.

— Acha mesmo que é uma ameaça? Sabemos como esse mundo funciona. Você pode ir direto na polícia e relatar tudo que viu, porém… Se não tiver provas concretas, acha mesmo que vão te levar a sério? — A sinceridade sarcástica era quase cortante, segurou o queixo desta evitando que o contato visual fosse quebrado. — No instante que me estapeou sua imagem ficou manchada, vão te enxergar sempre com exagero, podem até achar que é obcecada por mim.

— Não pode ter tanta certeza disso…

— A senhorita não foi sequestrada, não tem sinal de agressão física então qual é o ponto que pretende apresentar lá? Daqui a duas horas não vai ter sinal desse corpo e você irá embora somente amanhã, dando tempo o suficiente para as marcas nos seus pulsos sumirem.

— Só consigo pensar no quão fudida é essa sua mente deturpada. — Dispara, mordendo o lábio inferior com força ocasionando no gosto metálico do sangue, a raiva parece percorrer as veias apagando o medo por um instante.

— Aprenda a perder, caramelo. — Ficará nauseada escutando-o repetir o apelido dado por Audrey. — Deveria estar acostumada, não é a primeira vez que perde algo, certo?

— Do que está falando?

— Nunca acreditei nos elogios irritantes que  insistem em ressaltar: "ela é leve, ela é exótica." Todos gostam da Carmen, as garotas querem ser como ela e os garotos a cobiçam desesperadamente. — Afirma. — Eu sempre odiei pessoas que insistem em transmitir uma falsa perfeição, talvez tenha te detestado por isso até descobrir um pouquinho do seu passado.

— O que..

— Sei o suficiente para ter certeza do quanto quer apagar essa parte da vida, sua história é bem interessante, daí veio a ideia de sermos bons amigos, porque somos parecidos. — A voz dele se sobrepõe interrompendo-a, prevendo o questionamento que faria.

— Não me compare com o monstro que você é. — O tom se eleva, estando atordoada.

— Não precisa me elogiar desse jeito, Carmen. — Pediu, retirando a seringa no bolso interno da jaqueta. — Só está me fazendo gostar ainda mais da tão amada caramelo, fiz a escolha certa por não me livrar de você, seria um desperdício...

A seringa foi injetada na perna da menor, que grita desesperada, sentindo o líquido desconhecido invadindo seu corpo, queimando na região e subindo para o restante da fisionomia. Os pensamentos tornam-se confusos, assim como a visão, ficando desfocada.

— Até mais tarde, raio de sol.

Carmen fora encurralada, sendo refém do demônio, que poderia esmagá-la quando quisesse.

Condenada às imposições constantes de alguém como ele.

Existia uma sentença pior?

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